Pajuçara sitiada

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Lixo na praia de PajuçaraPraia de Pajuçara, lixo, lixo e mais lixo

por Helvecio Santos (*)

Blog do Jeso | Helvécio SantosAproveitei parte das Olimpíadas e curti Santarém. Do dia 22 de julho a 13 de agosto fiz meu sacerdócio anual e visitei a Terrinha.

Visito para rever familiares e os inúmeros amigos, além do que, andando pelas ruas da hoje, ex-Pérola do Tapajós, com muita imaginação, volto a meus tempos de adolescência e juventude e isto, por si só, já vale a pena.

Leia também do autor – Por que só no andar de baixo, ministro?.

Por natureza, sou um cara alegre, mas este meu tom lamurioso é por constatar que das belezas naturais santarenas quase mais nada resta e a cada ano, mais e mais desaparece. Sou um santareno do século passado e, de cadeira, posso fazer tal afirmação.

A lista é extensa!

Além de toda a praia em frente à cidade que outrora era nosso parque de diversões, também perdemos Irurá, Coroa de Areia, Laguinho, Vera Paz, Mapiri, Juá, Ponta Negra, Igarapé do Padre, Maicá etc etc etc.

Lembrando das noites de lua cheia de outrora, quando papai chamava amigos e pescávamos tucunarés e outros espécimes nobres, nestas andanças bati com o costado lá pras bandas do Pajuçara, coisa que não fazia há uns cinco anos.

Se da outra vez que lá estive afirmei que era uma das poucas praias limpas que tinha visto, nesta visita constatei que ela segue o roteiro de todas as outras, assassinadas pelo crescimento urbano e pelo pouco caso das autoridades de uma cidade que tem ou tinha tudo para ter no turismo a sua principal fonte de receita.

E o pior é que nenhuma ONG, associação de bairro ou liderança comunitária dá um pio sequer.Parece um silêncio conivente.

Seguindo o mesmo caminho da Vera Paz, do Laguinho, de São Marcos, da Coroa de Areia e das praias em frente à cidade, as quais desapareceram ou são impróprias para o banho, Pajuçara é a bola da vez.

O acesso é pela Avenida Fernando Guilhon, via que leva ao Aeroporto.

Seguindo uma placa à esquerda que indica a direção da praia, ali começa o calvário. A estrada é uma pequena amostra do desleixo do poder público com um lugar outrora tão bonito e acolhedor.

A pista de uns três ou quatro quilômetros é uma buraqueira só, sem nenhuma sinalização e termina numa desagradável surpresa: nenhuma rua tem acesso à praia.

As ruas terminam em terrenos murados, com estacionamento pago ou em mansões que impedem o livre acesso à praia. Pasmem, um dos estacionamentos cobra não somente pelo carro, R$5,00, como também por ocupante, R$10,00 por cada “vítima”, o que está escancarado em uma placa estrategicamente colocada.

Vencido o estacionamento, o acesso se dá por escadas que não oferecem segurança, pelo contrário, são extremamente perigosas, pois estreitas e íngremes, levando o banhista a quiosques sem nenhuma higiene.

Vencida a falta de higiene, se alguma coisa for solicitada, é aconselhável não usar o banheiro onde a sujeira e o fedor são insuportáveis, como insuportável também é o alto som com o qual é “brindado” o freqüentador.

Caso a opção seja caminhar na praia, a mesma está coalhada de resto de roupas, plásticos, latas de alumínio, garrafas pet e outros descartes.

É mais uma praia perto da cidade que, como já aconteceu com tantas outras, está proibida ao cidadão. Há dificuldade no transporte e proibição ao acesso pelo sitiamento do logradouro que deveria ser público.

Com a palavra, o Ministério Público.


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É advogado e economista santareno, residente no Rio de Janeiro. Ex-jogador e torcedor do São Francisco.

6 Comentários em Pajuçara sitiada

  • Helvécio,
    Boa reflexão, a partir da triste constatação!
    As belezas naturais se vão, restando uma economia precária e um processo de urbanização decadente.
    Acredito que discussões para um reordenamento da cidade – visando proteger recursos naturais marcantes da Pérola do Tapajós (?!), com o crescimento urbano e o estabelecimento de uma economia decente – virá de estudantes e professores das instituições de ensino superior instaladas em Santarém. Pelo menos a UFOPA nasceu com a justificativa de um ensino superior focado na realidade local.

  • Deusa me livre ir para um lugar desses !!! é só imundície carestia e poluição !!! viva Mosqueiro Algodoal e outeiro !!!

  • Parabéns meu camarada, você me fez recordar esse passado tão iluminado que tive o prazer de curtir na minha adolescência, e arborescência.
    Agora na envelhescência, só boas recordações e muita tristeza, quem sabe um dia, vamos voltar definitivamente a Santarém e socializar o que aprendemos durante esses longos anos de vida em outras cidades do Brasil, fico muito grato por esses depoimentos, pois teve a coragem de verificar esse abandono in loco.

  • Grande Verdade do nosso Ilustre jogador,
    Ainda poderíamos acrescentar a falta de segurança, já que essa parte de nosso orla não faz parte do programa permanente de proteção por parte da Policia Militar.
    Tudo o que o novo código trouxe, estamos vendo ser efetivado ao contrário!
    E tudo começou com a instalação da Cargil em Cima da Veroza, num ato de loucura ambiental.
    Agora resta mudar de lugar tanto o porto das Docas, como esse depósito de soja, para a partir daí, fazer o verdadeiro ordenamento rumo a Alter do Chão: Falta só cumprir a lei e fazer esse resgaste que vai salvar nosso turismo!

  • Aqui em Santarém quase tudo que é público é usado por particulares para cobrar, com sinônimo de extorsão, valores. Exemplos: os ditos flanelinhas no centro da cidade ou em qualquer lugar que haja evento sob desculpa de ‘vigiar’, e quando não se aceita, pode esperar dano em seu patrimônio. É um absurdo. As praias, isso todos sabem, não fogem a regra. Onde já fui que não há poluição sonora e nem os nojentos, vagabundos, viciados e fedorentos hippies que acabaram com Alter do Chão, é a praia de Ponta de Pedras. Mas o valor dos peixes é bem salgado, o que, para mim, não tem explicação para a carestia.

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