Um comunista viciado em… Coca-cola e novela da Globo

Publicado em por em No Salto, Perfil

Fotos – Ádrio Denner
Um comunista viciado em... Coca-cola e novela da Globo

Ele é um “homem condor” assumido. Tem cara de petista daqueles “doentes” que se doem só em pensar que tão falando mal do partido, mas ele é do PCdoB.

Fala e escreve muitoooooooooooooo. Os textos são sempre enormeeeees. Alguns eu deixo pra ler, outros não leio. Claro que leio sempre os que ele publica no blog pessoal, porque eu acho muito legais.

Dinossauro do mundo da comunicação santarena, se define como tímido e romântico, altruísta e adepto do voluntarismo, humanista e pacifista.

Também é aquele tipo de gente que teima, a ponto de tirar qualquer um do sério. Então, Jota Ninos está No Salto comigo e vai falar de política, jornalismo, homossexualismo, medo e família.

​​Boa tarde, meu ex-chefe. Prazer em revê-lo firme e forte.

​​Boa tarde, Núbya. Sou do tempo em que você me chamava (junto com Udirley, Rúbia e outros da TV Tapajós, onde trabalhamos juntos) de “Coo”, lembra? rs

​​Vou começar falando desta coisinha linda que se chama Nicole. Você esperava aos 50 anos ser papai?

​Na verdade, eu planejei ter um novo filho depois dos 50. Nicole é a realização ​desse desejo que acalentei durante os três anos em que voltei a ficar solteiro​, entre 2010 e 2012. Senti um vazio quando minha família se dispersou, com três filhos indo morar longe​ de Santarém e eu separado. Foi quando senti que não tinha sido um pai completo. Convivi muito pouco com os filhos e nem ​com o único que ficou mais perto​ e que chegou a morar comigo, eu não conseguia criar alguma ponte. Sempre me dediquei a projetos sociais e políticos, dando uma atenção menor à família.

A Nicole é a minha chance de ser um pai mais presente e evitar repetir o distanciamento que meu pai teve de mim​. Só me reencontrei com ele nos últimos anos de sua vida, e ele me dizia pra que eu não ficasse tão distante dos filhos como ele ficou. Ele morreu conseguindo resgatar um pouco da relação que tinha comigo, mas não teve tempo para fazer o mesmo com meu irmão caçula, que mora em Belém.

Como é o mundo com a Nicole?

​​​​É sempre alegre. Pra ela, sou palhaço sempre que estou perto. Dedico muitos momentos de brincadeiras e diversão. Ela tem um pouco de cada um dos meus outros filhos. Quero que seja mais que minha redenção de um pai mais ausente no passado. Mas continuo me envolvendo em várias frentes de atuação, e tento aos poucos me desvencilhar delas, para não perder esse contato.

​​Como era antes?

​Antes era vazio. Uma criança sempre muda a nossa vida.

Um comunista viciado em... Coca-cola e novela da Globo

​Você é pai de 5 filhos e também é vovô…rs, já são 3 netos. A tua família é muito grande?

Não somos uma família de muitos filhos. Meu pai tinha três irmãs e somente duas geraram uma filha cada. Meu pai fez o contraponto com três filhos com três mulheres diferentes. Minha irmã teve quatro filhos de um único casamento e meu irmão caçula só um filho, sem casar. Eu acabei disputando com meu pai e fiz quatro filhos com quatro mulheres diferentes, além de adotar a filha de minha primeira esposa que tinha tanta sintonia comigo que acabou virando jornalista como eu. Como não pude curtir os três netos, que moram longe, acabei desejando mais um filho. Nasceu a Nicole que é tia de duas garotinhas de 7 e 3 ​anos e de um bebê.

​​Você está no segundo casamento. Aliás há uma diferença de idade bem considerada entre você e sua atual esposa. Resolveu radicalizar essa altura do campeonato, né? Para você o amor não tem idade?

Amor, pra mim, não tem limites nem de idade, nem de sexo, raça ou religião. Amar é viver intensamente todas as emoções, inclusive as negativas. A relação entre alguém com experiência de vida e quem está na flor da idade pode ser benéfica para ambas as partes, pois as diferenças se acentuam e o desafio da convivência a dois torna-se mais intensa, revelando um aprendizado de sentimentos.

Você amava muito sua primeira mulher, esse foi o principal motivo da depressão que sofreu logo após a separação?

​​Eu sempre amo intensamente. Mulheres e amigos. Sem intensidade, nenhum amor é completo. Mas amar não basta. Às vezes pequenos detalhes podem pesar contra ou a favor de uma relação. O importante é manter sempre uma amizade. Minha separação não foi traumática, mas por algum tempo algumas feridas precisaram ser curadas. Hoje mantenho uma relação civilizada com a Graça Pedroso, que antes de tudo foi companheira de luta e de sonhos. Infelizmente nem todos se concretizaram. O importante é que dessa relação temos um filho maravilhoso, o futuro engenheiro Georgios, e ganhei uma filha, a Carla, cuja afinidade diminuiu as limitações genéticas.

Quando a diferença de idade atrapalha a relação? Pergunto, porque, afinal, não é todo dia que uma mulher aguenta um “homem condor”… hahahahah

O importante não é sofrer com a dor. ​É​ fazer da dor até mesmo o prazer… Isso parece até masoquismo!​ (rsrs). Na verdade, o amor é a pedagogia da dor. E pra isso não é preciso diferença de idade. O amor é uma poesia feita a quatro mãos e ​pernas! Como diz​ia​ ​Fernando Pessoa “O poeta é um fingidor./Finge tão completamente/Que chega a fingir que é dor/A dor que deveras sente”.

​​Ainda vais tentar fazer mais um Ninos, ou a cota já encerrou?

Se dependesse de mim eu faria mais uns dois ou três… Kkkkkk

Marmininooooo…hahahaha

Mas a situação financeira não permite. Se existe uma frase da bíblia que eu, um quase ateu, a​doro é o famoso “Crescei e multiplicai”… rs rs

​​Hahahahha… Não precisa ficar vermelho porque eu tô só começando…. rs rs

Sou vermelho de coração, como todo bom comunista deve ser…rs

Um comunista viciado em... Coca-cola e novela da Globo

​​Aliás, tímido do jeito que você disse que é, o romantismo falou mais alto na hora de conquistar o coração da Ana?

Já contei essa história no Face. Estava solteiro e cansado de amores fugidios. Vivia na net e o Facebook era uma ferramenta pra ​novas conquistas. Algumas foram até namoros interessantes, mas a maioria era só de prazeres efêmeros.​

Huuuuummmmmmm…. Olha, estás te revelando. Não conhecia esse teu lado.

​No Facebook eu adicionava qualquer pessoa que me mandava um convite. ​Mas no dia 04 de agosto de 2011, entre uma reunião e outra para debater o plebiscito do Tapajós, aceitei um convite dela​, Ana Charlene Negreiros​.

Paixão ao primeiro “convite” virtual?

Três dias depois resolvi explorar alguns perfis e saber quem eu adicionava. Ao ler as postagens dela, logo me encantei pela inteligência​ e vivacidade​. Não era daquelas meninas vazias que encontrei várias vezes nas redes sociais. Quando vi ela postando um trecho de Canteiros, música do Fagner sobre poesia de Cecília Meirelles, uma de minhas favoritas, pirei​!

kkkkkkkkkkkkkkk…

Mas como convém a todo nerd chato, ao invés de elogiar, consertei a informação dela, que citou o Fagner como único autor da composição!

Putzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz…. Ela não é braba?

Fui dar uma de sabichão contando os bastidores da briga do Fagner com a filhas de Cecília, que não aceitaram que o compositor utilizasse os versos da mãe sem permissão, conseguindo que a Justiça mandasse recolher os vinis do mercado. Ela não gostou e por p​ouco ​não me excluiu… kkkkkkkkkkkkkk

​Ela tinha um namorado e eu respeitei isso. Mantivemos contato por 10 meses, fortificando uma amizade, que até hoje permanece. Eu sempre digo que a amizade tem que ser maior que o amor, pois se esse um dia acabar, que se mantenha um bom relacionamento.

Interessante isso mesmo.

Até que um dia nos encontramos pessoalmente, durante a realização de um dos júris mais badalados de Santarém, sobre o caso Valter Cardoso. Ela como estudante de Direito na plateia e eu auxiliando o juiz. Passamos os três dias do júri conversando por sms no celular!!!​

Jota Ninos

Marrapáaaaaaaa

Comentávamos detalhes do júri, testemunhos, debates entre defesa e acusação. Numa das mensagens, ela me disse que estava terminando com o namorado. Foi a senha para eu tomar coragem e propor uma aproximação.

Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk…

Terminado o júri rolou o primeiro beijo, que se estendeu noite afora, durante um show da Paula Fernandes, que nós dois gostávamos. E começamos a namorar. Meses depois já estávamos morando juntos. A pedi em casamento publicamente pelo Face. Dois anos depois veio a Nicole e quando ela completou um ano, casamos oficialmente.

​​Éguaaaaa, que história legal. Um amor que começou nas redes sociais. Falando em amor, você tem uma filha homossexual. Um dia essa questão de ser gay ou lésbica já foi um problema para você?

​Nunca. Sempre respeitei as opções de qualquer um. Sou pela diversidade de pensamentos. Mas não vou mentir que antes dessa situação se revelar eu adorava fazer piadas sobre tudo, e vivia cutucando os gays. rs. Era um posicionamento meio homofóbico, que herdei de uma geração machista. Mas não passava de brincadeira. Fui de uma geração, que apesar de lutar contra a opressão, não participava ativamente de movimentos de minorias.

Muita gente na esquerda tinha uma formação às vezes mais machista do marxista. Até hoje ainda existem resquícios disso. A Carla Ninos me ensinou a ver esse outro lado do mundo. Mas, no dia em que veio me contar essa novidade, e ressalte-se que ela contou primeiro a mim do que à mãe dela por necessitar, talvez, de uma aprovação minha, pelo carinho que nutríamos um pelo outro, ela rodeou muito até contar. Cheguei a pensar que seu novo amor de que tanto falava e evitava dizer o nome fosse algum jornalista amigo meu! Kkkkkkkkkk

Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk…

Até que ela disse: Mel. Eu pensei com meus botões: “Mel? Como assim Mel?”. Ela me olhava desesperada achando que eu a reprovaria. Olhei pra ela disse: “Você está feliz?”. Seu olhar marejado e o balançar positivo da cabeça não me deixava dúvidas: pela primeira vez a Carla estava realmente apaixonada por alguém. Acompanhei muitos de seus namoricos, mas nada consistente. E se aquele lhe fazia feliz, como eu poderia reprovar? Dei-lhe um abraço e passamos a ter uma relação melhor do que antes. Hoje sonho em acompanhar o dia em que elas forem se casar.

​Então a relação é bem legal entre vocês, né?

​Simmmm. Já foi tensa. Carlinha era filha única e quando casei com a mãe dela, de repente ganhou três irmãos! Trouxe meus dois filhos (Helena e Thiago) de outros relacionamentos, para morar comigo e nasceu o caçula Georgios Neto. Éramos uma família sui generis. Mas para a Carla acho que era como perder sua realeza. A mãe passou a dividir o carinho por quatro crianças, em menos de um ano. Tive que dar uma dedicação especial pra ela. Isso nos aproximou mais. Ela acabou embarcando no Jornalismo. Hoje somos mais que pai e filha, somos colegas de profissão. Isso até gerou um certo ciúme na outra filha, Helena, com a qual não conseguia ter uma relação mais próxima. E o Thiago era o que mais sofria. Tivemos muitos problemas.

Hoje tento conviver melhor com eles. De certa forma, a distância nos aproximou. Thiago mora em Campinas com a mulher e dois filhos e quer voltar pra cá. Torço por isso. Helena vive em Natal-RN com sua filha e está prestes a casar de novo. É evangélica e eu respeito sua opção também. Gostaria que também voltasse a morar aqui, mas ela adora Natal. E a Carla vive com Mel em Cuiabá, fazendo o que gosta: jornalismo e ativismo na causa indígena. Mantemos uma relação bem mais próxima hoje. O caçula Georgios é o nerd da família, e deve se formar em breve como engenheiro físico. Com certeza levantará voo. Mas, ele sempre foi o conversor entre os irmãos. Hoje espero que eles se aproximem também da Nicole, que ainda não entende que tem tantos irmãos e sobrinhos! rsrs

Jota Ninos

​Fico imaginando aqui tua timidez. kkkkkk… Mas bora seguir em frente.. rs rs

​​Como você analisa o preconceito. Hoje os pais, por exemplo, não estão mais tão “agressivos” quando descobrem que tem filho(a) homossexual, né? Antes, isso era caso de expulsão.

​Toda intolerância é burra. Pais devem apoiar os filhos, em qualquer momento. Respeitar suas escolhas. A sociedade avançou muito nessa questão, mas há uma onda conservadora que tenta resistir à essas mudanças. Mas acredito que não se sustentará. O amor vencerá.

​​​Além dos filhos você é fanático por animais. Tens uma “vida de cão” né? Ah…e gatos também! Você se apega muito a ponto de sofrer quando eles vão embora?

​Com certeza. Já chorei por muitos bichos meus que morreram. Todos que criei, sempre eram como crianças pra mim. Me jogava no chão pra brincar com cães e gatos, quando bebês. Por mim, dormiriam sempre na cama comigo. Hoje temos uma gatinha (Nina) que interage com a Nicole e um cachorro meio bobalhão (Betuff) que fica no quintal. O olhar deles é qualquer coisa. Sempre digo que é mais fácil conviver com bichos. Acho que os humanos são mais irracionais que eles.

Putz…É mais ou menos isso mesmo. Cara, tu não bebes, nem fumas, nem é evangélico… Teu prazer está em comer? Hahahahahahaa

​Desde pequeno era um glutão inveterado. Aliás, comer bem sempre foi um ponto alto em minha família. Quando morei na Grécia por três anos, me larguei na culinária grega com força. Resultado: ganhei vinte quilos em três anos! Hoje tenho um excesso de peso em torno de 30 quilos! O problema maior é que esse tipo de alimentação, fora de hora e comendo os x-qualquer-coisa da vida, só me fazem ficar mais doente. Hoje sou diabético e indisciplinado com as regras impostas pelos médicos. Não consigo fazer uma reeducação alimentar. Consegui há algum tempo passar um ano sem tomar uma coca-cola!!! No dia em que comemorei a data, tomei um golinho, e acabei voltando pro vício.… Rs Rs

Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk….

Hoje já não tomo um litro por dia. Talvez um por semana. Mas preciso cortar. Ainda por cima, sou sedentário ao extremo. Sei pra onde isso me leva, mas sempre tento mudar. Charlene pega no meu pé. Os filhos também. Sou especialista em ócio criativo: sentar no computador ou com celular na mão, navegando na internet, produzindo texto, propondo ideias… isso dá uma fome…rs

kkkkkkkkkkkkkkkkkk…

Mas sempre prometo pra mim mesmo que vou mudar. Ainda não consegui cumprir essa promessa.

Você é míope e das pessoas que eu conheço, o que mais gosta de ler. Miopia e leitura são teus aliados não é? Você lê tudo?

Já fui de ler de Bíblia à bula de remédio. Eu adorava ler dicionário, desde pequeno! Memorizava palavras difíceis. Também adorava decorar informações sobre os países. Houve uma época que eu sabia de cor todas as capitais do mundo! Hoje já não tenho tanta habilidade. Minha memória é seletiva. Sou capaz de me lembrar o que fazia aos cinco anos de idade, mas não sei onde estacionei o carro!! Kkkk

Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Boa essa…

Acho que li muitos livros até os 30 anos. Hoje continuo lendo, mas textos e documentos que pesquiso na internet. Mas o que não perdi foi a mania de ler gibis! Como um bom nerd que fui na adolescência (na minha época nos chamavam de CDF, que significava ter o traseiro resistente à horas sentado em bibliotecas…rs), aprendi a ler com gibis da Disney, do Maurício e outros e depois passei pros super-heróis da Marvel e da DC Comics. Tinha uma coleção invejável em Belém, que cabia numa caixa de papelão de geladeira! Quando vim pra Santarém, em 1978, aos 15 anos, não podia trazer aquela tralha toda. Chorando, doei meus gibis pros amigos da vizinhança…

Recentemente retomei uma coleção de gibis de super-heróis e continuo relendo muitas aventuras que conheci naquela época. Mas existe uma outra “leitura” que fiz desde menino: a televisão. Sempre fui fissurado por filmes, séries de TV e (pasmem) novelas! Essa ninguém vai acreditar: sou um noveleiro quase maníaco! Já houve tempo que via de tudo, hoje escolho uma ou outra novela, pela temática ou pelos atores. Isso me aproximou da dramaturgia. Era ator e diretor de peças no colégio. Criava personagens em casa e cheguei a produzir gibis toscos, porque não desenhava direito.

Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk… Imagino

Encenava filmes no banheiro sozinho! Demorava tanto com minhas “produções” que todo mundo achava que eu tava fazendo o que todo adolescente faz no banheiro…kkk. Mas eu estava salvando o mundo com heróis imaginários, embaixo do chuveiro! Kkkkkk

Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk….

Jota Ninos

Você sempre fez muitas poesias. Cada uma era pensando em uma mulher. Afinal, cada filho seu é de uma mulher diferente. Essa inspiração foi herdada dos deuses gregos? Hahahaah…

Escrevo poesia desde adolescente. Mas as primeiras, como toda poesia de adolescente, eram muito piegas. Joguei todas fora, com exceção de duas ou três que guardei e dei outra roupagem mais consistente. Não falo só de amor em minhas poesias. Aliás, as mais antigas são engajadas, povoadas de sentimentos libertários baseados em minha ideologia socialista. As poesias mais românticas começaram a ser buriladas no meu período de Grécia, mas pouca gente sabia das produções. Com a internet, comecei a liberar alguns textos em meu blog e de outros colegas. Aí de repente muita gente associou que tinha a ver com minha separação. Mas muitas poesias já existiam.

Hummmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm…

Meu senso criativo opera rápido e a inspiração faz transbordar poemas que representam um momento. Pode ser um pássaro que pousou num galho, uma pessoa que passou em minha vida ou um protesto contra um buraco. Algumas já são produzidas com uma música. Sou um compositor frustrado. Já participei de festivais e tive alguns parceiros, mas nunca avancei nessa área.

Eu diria que a mitologia grega ajudou na minha inspiração. Tenho muitos livros sobre a Grécia, principalmente sobre sua mitologia, em português e grego! Já fiz até poesia em grego e a única peça teatral inteira que escrevi foi em grego. Uma sucessão de sketchs que um dia quero “traduzir” para encenar…rs Meu estilo é o de brincar com o texto, com as palavras, e não simplesmente deixar fluir o sentimento. É quase um processo de criação baseado no concretismo e na poesia marginal dos anos 1970. Ouvir Chico, Raul e Zé Ramalho, ajudou muito. Ler Drummond e Bandeira, também. Estamos conversando há dias nessa entrevista, e nos intervalos fui escrevendo uma poesia pra esse momento, que te entrego no final da entrevista…rs

Kkkkkkkk… Ai meu Deus! Sou jornalista e curiosa.. vou já finalizar… kkkkkkkkkkkkkkkk

Você sempre transforma uma coisa ruim que acontece na sua vida em crônicas que, eu por exemplo, me acabo de rir, como a de um assalto na época da faculdade. Por trás de um homem sério se esconde alguém?

Acho que o garoto dos gibis continua em mim. Quem me conhece mais de perto sabe que não sou o cara sisudo que pareço ser. A sisudez sempre foi uma máscara para esconder a timidez. Sou um sonhador, e talvez por isso muita gente ache que coleciono fracassos. Mas sonhar é um estado de espírito típico dos cancerianos como eu. Viver no passado, num eterno processo de “arqueologia mental”, faz parte desse meu ser. E é através do humor que às vezes remonto algumas histórias, como aquela do assalto ou da minha estreia como repórter na Rádio Rural (no final vou deixar os links pra usares na entrevista, pra quem quiser ler).

Jota Ninos

Legal… Já to morrendo de rir. Já li o do assalto…. Hahahahahahah

Nesse item contribuiu a leitura de cronistas e humoristas dos anos 1980 como Carlos Eduardo Novaes e o pessoal da revista e jornal satíricos Casseta Popular e Planeta Diário (os caras que escreviam estas publicações, depois migraram pra televisão, como redatores do Tv Pirata, um dos maiores programas de humor da TV, e depois criaram o programa Casseta e Planeta, inspirado na revista e no jornal que editavam).

Na tua juventude você foi adepto do futebol, curtia festas, orgias ou coisas parecidas, ou você era do tipo anti-social? :-p Hoje continua?

Como jogador de futebol sou um excelente poeta…rs Já joguei muito. Era um atacante esforçado que vivia na banheira.

Hahahahahahahaha…

Mas na adolescência era tão ruim que só me colocavam no gol. E eu jogava de óculos, porque era míope desde os 10 anos!!!rs Era tão ruim que um dia uma árvore fez um gol em mim!!!

kkkkkkkkk….

Essa história contei numa crônica (repasso o link depois). Nunca fui festeiro. Até hoje não sei dançar. Engano um pouco em alguns passos de rock dos anos 1950… Sempre preferi estar num cinema ou na frente da TV. Na Grécia, cheguei ao recorde de assistir cinco filmes num só dia! Cinema fez parte de minha infância e adolescência, assim como a TV. Quando gostava de um filme, voltava pra assistir outras vezes. Nem precisa ser um clássico, mas algo que me divertisse como o filme Roger Rabbit – Uma grande cilada, aquele que misturava desenhos e humanos com o excelente ator Bob Hoskins, já falecido. Assisti ele sete vezes seguidas!!!

Passou pela sua cabeça um dia ser padre? :-p

kkkkkk… De onde você tirou isso?

Sei lá… suas sandálias kkkkkkkkkkkkkkk…

kkkkkkkk… Na verdade eu me considero um cara sem religião, mas fui batizado em duas igrejas: a Católica Ortodoxa Grega e a Católica Apostólica Romana. A rigidez dos princípios religiosos me levou a me rebelar contra todas as religiões. Religião vem de RELIGAR, mas o que se vê mais é a desunião. Acho que quem tem fé em algo, não precisa de religião. Cada um traz seu deus dentro de si. Muitas religiões apenas se beneficiam da fé dos seres humanos e tiram proveitos. Mas respeito a opinião de todos.

Só que quando vejo lideranças religiosas cometendo absurdos em nome da fé, eu denuncio. Hipocrisia não pode ter nada a ver com fé. E te digo mais ainda, a Bíblia é um dos livros mais fascinantes que existem, porque sua interpretação é tão diversa, que sobre ela se erguem várias igrejas cristãs. A fé não é seguir qualquer fanático ou qualquer palavra escrita. A fé tem que ser um sentimento que vem de dentro da gente. E em nome dela não se pode matar ou discriminar quem não segue os dogmas religiosos. Por isso eu nunca seria padre…rs mas tenho grande amigos padre, pastores e até rabinos.

De vez em quando, (isso não é raro) rs rs você serve de gozação para a torcida dos MAIORES times do Brasil, como o FLAMENGO, por exemplo, porque torce pelo Bos…tafogo :-p Acho que ainda da tempo de ser feliz no futebol, topas ser um torcedor feliz? Kkkkkkkkkk Esse fanatismo começou quando?

Kkkkk Olha que o Jeso te demite….kkkk

Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Ele não vai ler essa parte… hahahahahahahha

Pra começar, quando militava em movimentos sociais bem à esquerda no final dos anos 1970, o assunto futebol, era tabu. No fundo, todos tinham uma torcida, mas coletivamente trabalhávamos contra a utopia por trás do futebol. Eu mudei esse conceito quando fui convidado pra cobrir a Copa do Mundo de 1990, pelo Olympio Guarany. Estava na Grécia e deveria me juntar a uma equipe que ele levaria pra Itália. Passei a estudar o futebol, assistir filmes, para entender o que era aquilo. Quando vi o Garrincha eu disse: sou Botafogo desde criancinha. O Fogão é um time que não tem as “glórias” de outros grandes. Mas ninguém nunca terá um Garrincha como ele teve. Nem Pelé e nem Zico valem um Garrincha, o moleque do futebol.

Ganhar campeonatos é apenas consequência de um bom planejamento, o que o Botafogo poucas vezes teve. E quando estava em boa fase, foi o grande rival do Flamengo, mas aí jogar contra o juiz, contra a Globo e todo o estabilishment, nem com Garrincha…kkkk Torcer por um time que tem todas as benesses é fácil. O dia em que deixarem o Flamengo cair pra segunda divisão (e isso ainda estarei vivo pra ver), acaba essa bazófia….kkkk

Jota Ninos

Você sempre “idolatrou” seu pai. E a tua mãe? Como foi conviver com a ausência dela?

Meu pai é um capítulo especial em minha vida. Tenho maior orgulho de ser descendente de grego. Mas minha mãe é uma página vazia nesse mesmo livro. Nunca a conheci e meu pai teve culpa nisso. Aliás, isso acabou nos afastando por muitos anos. E talvez o ser rebelde e em busca de fazer o bem e de brigar por direitos humanos, surgiu desse cara que não conheceu a mãe e que um dia entendeu que há outros motivos mais fortes para se chorar. Geralmente os filhos não conhecem o pai, é traumático também, mas as mulheres têm uma capacidade ímpar de ocupar o espaço de um pai ausente. Mas os homens não foram moldados para ter essa sensibilidade.

Meu pai só pensava em trabalhar e prover a família. Ou, as famílias. Teve três filhos com três mulheres diferentes. No final acabou ficando com uma delas. As outras ficaram no passado. Minha mãe foi pior: ele a convenceu de ficar comigo e a apagou de minha história. Isso era imperdoável! Só nos últimos anos ele me pediu perdão e disse que foi o maior erro de sua vida. Queria me ajudar a encontrá-la, mas simplesmente nem se lembrava como era ela! Tinha sido um amor fugidio.

Sobrou um nome numa certidão e uma informação de que seria natural de Marapanim! Quando passei no concurso do Tribunal, fui morar em Ananindeua por um ano e meio e comecei uma busca desenfreada, mantendo contato com pessoas que conheceram meu pai, para ter informações. Mas era como buscar agulha num palheiro. Só não apelei por buscar informações em programas de rádio e TV que promovem estes encontros. Não queria que virasse dramalhão mexicano. Hoje te revelo isso, apenas para desencargo de consciência. Já desisti de encontrá-la. Acho que ela está em cada uma de minhas atitudes. E isso me basta. Ponto.

Caramba! Triste.

Você tem um jeitão todo desengonçado, usa boina, suspensório, sem isso o Ninos não é Ninos?

Quem não pode ser bonito, pelo menos pode ser estiloso…

kkkkkkkkkkk….

Mas sou bem camaleônico. A boina e o suspensório de vez em quando ainda fazem parte do meu vestuário. Mas se pudesse só andava de camisa pólo, bermuda e sandália de dedo. Aliás, quando cobria a Câmara Municipal, no início da minha carreira, ia pro plenário de calça jeans rasgada, boina, bolsa de couro e a inseparável sandália Havaiana. Isso virou até ponto de debate entre vereadores, que achavam que eu não me vestia de forma condizente.

Hahahahahahahahahahahhahahahahahahaha…

Essa história de “roupa condizente” é um pé no saco até hoje. A roupa não faz o caráter. Tem gente de paletó e gravata na Câmara, que não vale o que o gato enterra…rs

Ai ai ai Rum… Não pode falar mal dos meus chefes… Bora mudar de assunto que é… kkkkkk

Falar agora de jornalismo: Como foi trabalhar no Rádio numa época em que havia muita censura?

Comecei a trabalhar em 1984, no final da ditadura. Não vivenciei os períodos mais duros da censura. Aliás, com a eleição de Tancredo Neves pelo Congresso Nacional, o regime militar se acabou. Veio a Nova República e a gente acho que era o momento de extravasar. E como repórter, aos 21 anos, eu achava que podia mudar Santarém, e comecei a criticar prefeitos e vereadores, no primeiro programa policial de rádio, o Plantão da Cidade, que criei na Rádio Rural.

Hahahahahahahhahahhahahhaah…

A empatia com os ouvintes foi enorme e a concorrência era pequena. Então muito da popularidade que ainda tenho hoje, devo aquele programa.

Jota Ninos

Realmente, você sempre teve uma postura enquanto formador de opinião e isso mexe com os brios de alguns políticos. Você chegou a sofrer perseguição?

Em 1987, resolvi chamar o ex-prefeito Ronaldo Campos (do PMDB, pai do blogueiro JK, e que esteve na Prefeitura de 1986 a 1988) de corrupto por causa de um esquema de doação de sacas de cimento em troca da doação de uma área para a construção de um posto de gasolina, e quase fui preso no estúdio!

Eitaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.

Fui um dos primeiros jornalistas processados por um prefeito de minha época. Foi um momento tenso que movimentou a Câmara e deu notícia até no Liberal, em Belém. No final, me consagrei como “repórter polêmico” e ganhei o maior amigo de todos, o jornalista Manuel Dutra, que foi solidário e me deu apoio num momento crítico.

Ah, entendo agora porque você idolatra tanto o Dutra… rs rs

Mas fiquei com medo, à época. Meu pai recebia ligações ameaçadoras, dizendo que eu ia “acabar com a boca cheia de formiga”. Ele quis me mandar pra Grécia, mas eu resisti durante um ano e só depois decidi me “autoexilar”. Foram três anos de amadurecimento na terra de meu pai. Mas quando voltei, mostrei que não tinha mudado tanto: escrevi um artigo na Gazeta e junto com o Jeso Carneiro e com o Celivaldo Carneiro fomos ameaçados de processo pelo prefeito Ronan Liberal! Kkk

Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Só os “péssimos”.

Muitos te denominam “dinossauro Ninos”, você é o tipo do Dino bem moderno, né, está sempre se atualizando. Se formou em Jornalismo com uma turma bem jovem…

Eu sou um Ninossauro…rs É legal ter esse epíteto. Mas os dinossauros dominaram a terra e um dia sumiram. A vantagem de ser um “dinossauro humano” está exatamente na possibilidade de se reciclar. Não domino tão bem toda a tecnologia surgida dos anos 1990 pra cá, mas tenho conseguido sobre viver com ela. O bom é saber navegar na internet e pesquisar sobre um caso, coisa que no meu tempo era quase impossível. Tínhamos que ir em busca de livros e jornais ou organizarmos nossas agenda. Mas poucos repórteres conseguiam isso. Eu colecionava recortes de jornal, folhetos, panfletos e até santinhos de candidato, para ter fontes de informação. Até hoje guardo muito disso. E às vezes me ajuda a voltar no tempo e me situar sobre um tema. Gostar de história me levou hoje a atuar no Instituto Histórico, onde faço a fusão entre a visão de jornalista e a do pesquisador de história.

Sempre quis ser um contador de histórias. Quando pequeno me perguntavam o que vai ser quando crescer e eu respondia na lata: escritor. Depois me demoveram disso, dizendo que “não dava dinheiro”…rs Fui crescendo e comecei a dizer que seria médico (por influência), até o dia em que vi sangue num hospital e quase desmaiei…kkk Eu detestava tomar injeção. Saia correndo e precisava de vários enfermeiros pra me segurar.

Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk…

Aí decidi: nunca vou ser médico. Mas como sempre gostei de escrever, acabei fazendo o papel de “assessor de comunicação” dos movimentos sociais que participei. Daí, pra ser jornalista foi um pulo. E me formar com uma nova geração, foi sensacional! Sei que nem todos os colegas me tem em conta, às vezes pareço um pouco pedante, mas a grande maioria sabe que sempre que posso, tento ajudar com minha experiência.

Você defende com garras e dentes o diploma para jornalistas? Se você assumisse a coordenação de jornalismo de algum órgão de comunicação, só contrataria diplomados na área?

Eu já fui gerente de jornalismo em várias empresas, antes do primeiro curso de jornalismo existir em Santarém. E com certeza se assumisse hoje só trabalharia com diplomados.

Jota Ninos

Me dá logo um tapa… kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

A questão não é ter diploma. O diploma é só um papel. Tem gente que não é diplomada com mais capacidade dos que tem um diploma. Falar em diploma é falar em vida acadêmica, a possibilidade de respirar o que esse mundo nos oferece. Sempre reverencio um cara que pra mim é o maior exemplo de perseverança em Santarém, o pequeno-grande homem Milton Corrêa, nosso popular Miltinho. Ele é um decano dos repórteres e já alcançou todos os patamares que um profissional poderia almejar, porque então sentar num banco de universidade e até fazer uma pró-graduação? E se ele pode fazer, porque outros não fazem? É preciso que todos tenham essa experiência. Não dói nada. Mas não ter diploma não diminui a capacidade de ninguém. E pelo que sei, você está em busca desse caminho agora.

Pois é! Esse ano recomeço a facul em Jornalismo. Já fiz um semestre em Manaus, mas optei em começar tudo de novo.

Quando estiver lá, vai me dizer como se sente. O conhecimento está acima de tudo. No jornalismo vivemos, às vezes, da trivialidade. Ser acadêmico pode nos ajudar a ter outra visão. Ou não. Tudo é relativo, como diria Caetano…rs

Como você analisa o jornalismo da época que você atuava com rigor, para essa nova geração?

Os jornalistas de minha época não tinham as facilidades que hoje temos. Mesmo assim, muitos de nós deixamos de utilizar as ferramentas que temos de forma adequada. As redes sociais e o zap deveriam servir para um maior enriquecimento. Mas muitas vezes perdemos tempo com futilidades. Participo de muitos grupos e vejo que muita gente perde tempo com coisa inúteis. Mas devo respeitar o tempo de cada um. Talvez, por ser esse “Ninossauro”, eu já esteja entrando no tempo da rabugice…rs.

Você representou o Sindicato dos Jornalistas do Pará aqui em Santarém, foi feito o que na tua gestão? Eu só ouço reclamações. Aliás, nunca vi uma coisa que tenha beneficiado a classe. Sem tem, desculpa, aproveite e me informe.

O conceito de organização, se não for assumido de forma coletiva, sempre tende a fracassar. Nós estamos acostumados a eleger alguém que fará tudo por nós. São as sequelas de uma filosofia presidencialista. Já ajudei a organizar o sindicato dos Comerciários, no final dos anos 1970, depois o dos radialistas e recentemente o dos jornalistas. Nem sempre o que sai de bom fica visível. Quem assume a vanguarda de um movimento, paga o ônus pelo que não fez e nunca terá o bônus reconhecido. Quando começamos a organizar os radialistas, muitos diziam que isso era “coisa do PT”. Mas foi um divisor de águas. Bem ou mal, hoje há um piso salarial, que antes não havia. Mas é preciso reciclar o Sindicato e não apenas culpar o presidente de plantão.

Por que você acha que o Sindicato dos Jornalistas em Santarém nunca vai pra frente? O que falta?

Muita gente reclama, mas na hora de ir a uma assembleia ou assumir uma simples tarefa como vender um bingo nada faz. Depois é fácil culpar quem está à frente. Não que os líderes não tenham culpa. Muitas vezes, lideranças centralizam ações e acabam se isolando. Enquanto não houver uma conscientização coletiva, dificilmente se avançará em propostas sindicais. Posso dizer que a gestão provisória que tive no Sinjor Oeste, foi criar as condições para a instalação de uma diretoria definitiva. Esse processo só está começando, mas acho que o trio que comanda o Sinjor (Joab Ferreira, Júlio César e Raphael Ribeiro) sabe de sua responsabilidade. Só que ao invés de criticar, os colegas tem que participar, se filiar, cobrar mais de perto e quando sentirem que não anda, montar suas chapas e ampliar o debate. Isso é democracia. O resto é balela.

Você é o tipo de cara muito exigente. Algumas vezes quando comandava equipes, houve muita gente que você demitiu e, também, admitiu. És amado e odiado. Isso alguma vez já teve importância pra ti?

Toda pessoa que assume comando de uma equipe profissional tem que saber que nunca conseguirá unanimidade. Isso acontece desde Cristo…rs Existem dois tipos de liderança de equipe: o chefe e o comandante. O chefe dá ordens e todo mundo cumpre. O comandante tenta manter uma unidade a partir do comprometimento coletivo. Sempre trabalhei tentando ser este segundo. Sempre dialoguei. Mas nem sempre fui compreendido. Talvez porque muitos de meus comandados queriam ser chefiados…rs Eu diria que a grande maioria que trabalhou comigo sabe que de alguma forma contribui com sua carreira. Mas com certeza tive alguns colegas que até hoje não querem me ver nem pintado a ouro…kkk Isso é natural. Na área de Jornalismo o maior problema é comandar egos. Nós jornalistas acreditamos que estamos acima dos outros. E queremos ser os melhores. Ás vezes somos capazes de puxar o tapete de um colega para nos darmos bem. Não que isso não exista em todas as profissões, mas no Jornalismo é mais acentuado.

Jota Ninos

A Tatiane Lobato, foi uma das que você demitiu, assim na lata. Hoje ela tá na TV e com um talento impecável. Isso te diz o que?

Primeiro não houve uma demissão “na lata”. Já conversei sobre isso com a Tati várias vezes. O problema é que quando ela estava estreando existia na TV Tapajós um grupo forte de pessoas que dava muita importância às picuinhas. A Fogueira das Vaidades era imensa. Eu e o Ormano Sousa fomos chamados pela Vânia Maia exatamente pra combater isso. Foi um embate duro, mas acho que conseguimos avançar bem. A Tatiane, à época, era mais espevitada do que é hoje. rsrs Várias vezes avisei, não só à ela como a outros novatos, que não podiam se enredar pela filosofia que existia então.

A contratação de estagiários como definitivos passava por um crivo que não avaliava só o talento, mas também a capacidade de evitar entrar em atritos. Muitos dos que saíram não estavam preparados para aquele momento neste quesito. Os que evoluíram, como a Tati, chegaram pelos seus méritos à função. Falo da Tati porque você citou o nome dela, mas como ela há vários exemplos de profissionais que souberem vencer um revés. A Tati é apaixonada por vídeo. Está lá e sabe o que está fazendo. E talvez, na condição de chefe de um telejornal, hoje, saiba o que é ter que fazer certas escolhas. Me orgulho de ver pessoas que trabalharam em algum momento comigo e que conseguiram se superar, como a própria Tati, mas cito também a Rúbia Corrêa (o melhor texto que já tive nas redações), a Claudenice Lopes, a Suelen Reis, o Rômulo D´Castro, a Amanda Lago, a Cleuma Lima e a Wal Nascimento, uma das melhores repórteres que passaram pela TV, mas que decidiu trocar a profissão por uma missão evangélica. Você trabalhou comigo, mas já tinha experiência anterior, mas deve lembrar de quantas vezes parávamos pra conversar sobre a profissão e de como você podia avançar. Nunca me arrependi de ter interrompido a carreira de ninguém. Os bons sobreviveram. Os medíocres foram esquecidos.

Agora, você procura “perfeccionismo” nos outros, mas pelo que sei você deixa muito a desejar. Tipo, você é daqueles que iniciava umas coisas e nunca terminava. Isso te prejudicou de que forma?

A busca do perfeccionismo é um grande defeito. E muitas vezes eu tentei ser mais do que era. Pisei na bola. Não sou perfeito. Ou melhor, sou mais imperfeito do que perfeito. Ainda não me sinto completo. Quero continuar tentando acertar, mesmo quando aponto os defeitos dos outros. Isso é chato, eu sei. Mas a tentativa é sempre de ajudar. De vez em quando vejo um colega cometendo um erro na rádio, na TV , no impresso ou na net. Faço contato e dou uma dica. A maioria me agradece. Às vezes faço comentários coletivos. Os que vestem a carapuça, podem ficar zangados. Mas faz parte do processo. Sempre que erro num relise e alguém me chama atenção, eu conserto e agradeço publicamente quem me consertou. É o mínimo que posso fazer para manter um certo grau de coerência.

Essa parte te admiro muito, és muito humilde nesse quesito mesmo. Já fizeram elogios a você, antes de eu começar essa entrevista.. rs

Mas, me diz, ainda nesse mesmo ritmo…Você começou fazendo Letras, depois fez Direito e deixou tudo de lado. Comunicação Social, foi a tua salvação?

Quem sabe seja minha perdição…

kkkkkkkkk…

Letras eu fiz porque era mais próximo do Jornalismo, e acabei jubilado (fiz 10 disciplinas em 10 anos na Ufpa!, faltava muito por causa de trabalhar nas redações). Direito comecei por ter passado no concurso do TJPA. Mas minha praia era o Jornalismo, mesmo, no qual até me especializei e, se der, ainda vou em busca do Mestrado, mas só se for aqui.

Você é um poético de primeira. Escreve pra Ca…ramba, lê horrores sobre política, no entanto, foste trabalhar no Judiciário. Vai entender você, heim? rs rs

Quando fiz o concurso do TJ, vivia um momento de desilusão. O salário não conseguia mais dar conta da família. Minha tentativa de ter uma empresa de marketing fracassou, por uma má gestão e por calotes da Prefeitura, meu principal cliente.

Nunca tinha feito nenhum concurso. Me inscrevi escolhendo o maior salário. A sorte era que o cargo não exigia graduação superior, que eu ainda não tinha. Fiz sem nenhuma esperança. Quando veio o resultado, olhei as letras miúdas e vi que minha pontuação não foi alta. Acreditei que não tinha passado. Um ano depois me chamaram dizendo que tinha tirado o terceiro lugar! Ainda pensei em desistir e continuar na TV Tapajós, mas a própria Vânia me aconselhou que era besteira rejeitar um cargo de concursado, aos 40 anos de idade!

Acabei indo pra Ananindeua, por não haver vaga aqui e depois de um ano e meio consegui voltar através de permuta. Foi uma mudança excepcional na minha vida, não só no padrão salarial, mas principalmente por poder ter uma outra visão atuando no Judiciário. Já tinha assessorado o Executivo e o Legislativo. Agora era vez do terceiro poder.

[Aplausos]

Você já enfrentou inúmeros júris populares. Virou a noite. A vida no jornalismo era fraquinha perto dessas sessões que você encara?

Encarava. Desde agosto deixei o Tribunal do Júri. Do ponto de vista de tempo, o Júri consome mais, entretanto o dinamismo da vida jornalística diminui qualquer tensão. O júri passou a ser monótono. Depois de quase 600 sessões em 10 anos ininterruptos, desisti da área. Agora tenho um pouco mais de liberdade para novas ações, inclusive voltar a escrever no meu blog.

Você é uma caixa de surpresa em vida. A caixa de Pandora. Ou as pessoas se aliam ou começa a guerra. Quem você não gosta, a “rasteira” é certa?

Não existe esse maniqueísmo…rs rs Digamos que sou um radical, no sentido amplo da palavra. Defendo meus princípios pela raiz. Mas não sou sectário. Quem me conhece sabe que busco o diálogo. Agora se alguém não quer essa via, parto para a briga. Mas sempre de palavras. Para brigar na porrada, sou um frouxo. Odeio violência. Sou da paz. Debato com alguém até onde puder. Às vezes consigo persuadir. Mas, na maioria das vezes, o debatedor prefere me atacar ao invés de debater minhas ideias. Ai prefiro sair disso. Não gosto de barraco. Mas no sentido metafórico adoro o ditado popular: “Dou um boi pra não entrar numa briga e uma boiada pra não sair dela”.

Jota Ninos

rs rs…

Por que você poupa a TV Tapajós de suas críticas midiáticas? Você tem medo que dona Vânia lhe coloque no índex?

Nunca ataquei nenhum órgão de imprensa local, diretamente, seja nas redes sociais, seja em outros meios. Não que eu me lembre. Sempre faço críticas coletivas, principalmente às corporações da mídia, dentre elas a Globo (é só olhar no meu perfil). E isso nunca afetou minha relação com a Vânia Maia. Trabalhei em quase todos os órgãos de imprensa local (menos na Guarany), e sai com mais amigos do que inimigos. De vez em quando tenho debates com os donos de alguns dos órgãos, mas nada que não seja resolvido na frente. Tenho uma relação de amizade com a Vânia Maia, assim como tenho pelo Miguel Oliveira, pelo Jeso e Celivaldo Carneiro e até mesmo pelo Almeida, do Impacto (apesar de termos uma querela na Justiça). Isso não me impede de vez por outra ter uma desavença com alguns deles. É natural do ser humano. Críticas midiáticas não devem extrapolar os limites éticos. Quanto a estar no índex, já estive em quase todos!

kkkkkkkkkkk…

Kkkkkkkkkkkkkkkkk….

Já fui proibido de entrar na Tapajós, na Ponta Negra, na TV Santarém, por causa de minhas posições políticas e sindicais. Mas foram outros tempos. Se alguém achar que não devo nem sair nos noticiários por um motivo ou outro, é seu direito. Isso não me impede de em algum momento fazer alguma crítica a este ou aquele órgão.

Você já fez alguma coisa que prejudicou alguém e você se arrependeu?

Sim. Perdi a amizade de um grande colega jornalista por causa de desavenças sindicais. Apesar de não ter feito o que ele sempre teve certeza que fui eu que fiz, me arrependi de como a coisa foi conduzida. Todos que se envolveram no episódio (que tinha a ver com uma eleição sindical), já foram perdoados. Menos eu. Não vou nem citar o nome dele, pois seria reacender um conflito que prefiro que continue sepultado. Muitos dos colegas jornalistas de minha geração sabem do que falo e alguns até tentaram criar as pontes para um reencontro, mas não conseguiram. Uma amizade não vale mil ideologias.

Tá bom, vou respeitar e não vou forçar!

És do tipo que se desculpa, pede perdão.

Sempre. E de preferência publicamente. Uma vez cometi um ato ríspido contra o amigo Miltinho. Quase abalou nossa amizade. Me ajoelhei na frente dele, na sala de aula no Iespes e pedi perdão. Mas o Milton não é gente. É santo!…Nem lembrava do que havia acontecido e perdoou…kkkkkkkk tenho muitas paradas engraçadas com o Milton. Somos antagonistas em muitas coisas, mas sempre soubemos respeitar um ao outro. Por isso quando cometi o deslize (por causa de um professor maluco do Iespes), me senti o cara mais mesquinho do mundo. Miltinho merece nosso respeito.

Você é referência como analista político em Santarém, já compôs as fileiras de alguns partidos, mas nunca se candidatou a cargo eletivo. Nunca teve desejo?

Já fui candidato sim, em 1992, logo que voltei da Grécia pelo PT. Tive míseros 309 votos.

KKKKKKKKK… Acho que por isso que nem consegui estudar essa parte.. rs

Não me elegi, logicamente, mas contribuí com a eleição da companheira Socorro Pena. O termo “analista político” sempre considerei pesado. Sou um jornalista que sempre gostou de atuar nos bastidores da política. Ouço muita coisa e sintetizo pensamento de uma forma que todo mundo entende. Mas como todo “analista”, mais erro do que acerto…rs A política é dinâmica, mas gosto de tentar entendê-la.

Você já errou feio como analista, quando disse que Lucineide venceria a eleição em 2012, tranquilamente. Dirias, gênio também erra? Hahahahah

Esse é um episódio que me marcou em 2012, mas não por “errar”. Eu fiz a análise de números indicados numa pesquisa que foi registrada. Uma pesquisa mostra um momento de campanha, nem sempre é a verdade final. O maior problema foi eu ter aceitado expor essa “análise” no horário eleitoral. Nunca mais faço isso.

Kkkkkkkkkkkkkkkkkk e eu que te entrevistei, né? Hahahahaah…

Qualquer análise em horário eleitoral, de qualquer dado estatístico, carrega em si a propaganda, e não a ciência em si. A Socorro Pena me convenceu a fazer isso e, na época, me empolguei com a possibilidade de contribuir com a campanha. Foi um erro. A credibilidade de jornalista ao fazer uma análise sobre determinados fatos pode se acabar quando é aplicada ao marketing. Principalmente o partidário. Hoje é difícil equilibrar o mínimo de sensatez que eu possa ter, pelo fato de estar sempre envolvido com a política. Mas é um malabarismo interessante. E ainda vou pegar muita porrada por causa dessa patuscada… Bem feito pra mim….kkkkkkkkkkkkkk

Você é do tipo revolucionário. Talvez, por isso agrade a poucos. Aliás, você é do tipo que tem muitos amigos. Ou tem mais desafetos?

Como já disse antes, defendo meus princípios de forma radical. Isso traz a pecha de “revolucionário”. Todos que vão contra o senso comum acabam sendo os rebeldes sem causa. Amigos devem existir além da ideologia, como já disse antes. A maioria dos meus amigos pode ser contada nos dedos de minhas mãos. Mas tenho muita gente que tem uma certa simpatia por mim. Isso é legal. Assim como tenho muita gente que me odeia. E isso também é legal. Como já disse Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra”.

VERDADE!!!

Uma das pessoas preferidas para confrontar com suas teorias, opiniões ou coisas parecidas, é o também jornalista Jeso Carneiro. Vocês são farinha do mesmo saco? Nasceram para “guerrear”?

Kkkkkkkkk… Somos irmãos gêmeos da polêmica. Nossos embates já até viraram memes na internet, na época da especialização. A gente debate por qualquer coisa. Somos dois teimosos. Dia desse ficamos horas debatendo pelo zap sobre o nome de uma rua….kkkkkkk Foi hilário. Mas gosto muito do Baixinho. E acho que ele também gosta de mim. Senão, não me dava espaço no blog dele, nesse tempo todo em que fiquei ausente do meu blog. Não que outros colegas não tenham me dado espaço, mas com o Jeso sempre tive uma boa empatia.

Mas já chegaram a ficar de mal? Como é a relação entre vocês? Apenas se aturam?

Às vezes nos estranhamos. Já fomos mais próximos. Há algumas divergências de opinião sobre a conjuntura atual que criam um certo abismo, mas nada que não se cure mais tarde. Pelo menos de minha parte não há nada disso. Sabes de alguma coisa? Será que minha entrevista não vai sair por causa disso? Kkkkkkkkkkkkkkkk

KKKKKKKKKKKKKK…. Não, o Jeso só publica. Ele é imparcial. Eu que mando! Hahahahhahahha

Chupa, Jeso…kkkkkkkkkkkk

Bora continuar, porque corre mais risco de eu ser expulsa do blog. rs rs

Teve uma vez que você foi exilado. Não se faz mais “porra louca” como você… Tipo “que peita os caras mesmo”, né? hahahahahaha Ou existe? Aqui em Santarém?

De vez em quando ainda peito. Mas os tempos de porralouquice ficaram pra trás. Hoje é um pouco difícil peitar alguém. A maioria peita um desafeto e deixa outro sem peitar, mesmo que seja farinha do mesmo saco. E tem alguns que depois de peitar, de repente mudam de lado…. O que acontece entre um momento e outro, só o diabo sabe…rs

riiiiiiiiiisooooossssss rs

Qual a situação mais polêmica que você já se envolveu?

Com certeza foi o período contra Ronaldo Campos, que já relatei antes. Mas também teve minha atuação na UFPa, contra o Aldo Queiróz. E no PT, contra o Everaldo Martins. Além do Reginaldo Campos, presidente da Câmara. Detesto déspotas. Aliás, a coincidência dos quatro é que seus nomes são feitos do mesmo sufixo: ALDO…kkkkkkkkk

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk…

Na política, por conta dessas polêmicas o índice de desafetos é de 99 por cento, né? Ainda bem que existe aquele 1 por cento… rs rs

Jornalista não pode viver sem polêmica, desde que dentro dos limites éticos. Minhas palavras ferem, porque eu nunca falo de “autoridades constituídas”. Gosto de dizer o nome de quem está neste cargo. Quem usa o termo, foge da polêmica. Político não gosta de ver seu nome ligado a nada negativo. Político gosta de jornalista que só o elogia. E quando ataca seu adversário, o jornalista é o melhor cara do mundo. Mas na hora que ele passa ser o alvo, o jornalista é um irresponsável…kkkkkkkkk

Jota Ninos

Por que você saiu do PT? Aliás você saiu do PT, mas o PT não saiu de você…rs rs

O PT é uma sigla que carregou a simbologia de uma ideologia socialista. Ela significou o que de mais genuíno havia na esquerda brasileira no final da ditadura. Mas chegou ao poder com Lula e pecou em utilizar vários métodos da direita, em face da tal “governabilidade”. A mídia reverbera isso como se o PT tivesse criado a corrupção no país. E tem muita mentira no meio. Quando estourou o chamado “Mensalão”, muitos militantes e simpatizantes como eu não aceitaram ver o partido ser exposto daquele jeito. Eu me desiludi de muita coisa que foi dita, mesmo sabendo dos exageros da imprensa. Esperei outra atitude do PT, mas tentaram blindar os envolvidos.

Quando você saiu, exatamente?

Decidi sair em 2007, depois de 26 anos de filiação. Passei quatro anos longe da militância. Em 2011 resolvi entrar no PCdoB, que apesar de ser um partido-satélite do PT, demonstrava que pretendia aos poucos cortar o cordão umbilical. O PT saiu de mim, mas o sentimento socialista não. O PT, hoje, é apenas uma legenda com resquícios de socialismo. Tem muita gente boa que eu respeito, mas ainda tem lideranças locais, regionais e nacionais que com suas atitudes só afundam mais a legenda.

Ser presidente do Diretório Municipal do PCdoB significa o que para um homem tão radical como você?

Significa beber na fonte do marxismo e comunismo, mais pragmático que retórico. O PCdoB é considerado hoje um partido de centro-esquerda, como o PT (há quem diga que o PT já está mais pro centro, até quase caindo pra centro-direita). O PCdoB é muito criticado pelos partidos mais à esquerda como o PSOL, PCO, PCB e PSTU. Mas ainda mantém algumas bandeiras de luta da esquerda tradicional. E é por aí que dialoga com algumas legendas, na tentativa de definir propostas consistentes. O PSOL pode ser nosso aliado em nível local. Estamos conversando sobre isso.

Falando em radicalismo…rs Essa formação política começou como?

Já contei em meu blog sobre isso. Mas vamos lá: em 1979 eu tinha 16 anos, tinha chegado há um ano em Santarém e estava meio perdido por aqui, até conhecer uma jovem comerciária que lanchava frequentemente na lanchonete de meu pai. A conversa dela era muito legal. Falávamos de teatro, cultura, MPB e outras coisas. Ela dizia atuar num grupo de jovens, não ligado à igreja, que tinha uma proposta revolucionária, de encenar pequenos sociodramas na periferia e fazer debates sobre a situação do povo. Achei interessante e passei a dar mais atenção. Mal sabia que ela estava me sondando. Até que um dia veio o convite: “topas conhecer meu grupo? Tem um colega que está saindo e estamos precisando de um ator”.

Topei na hora. No dia marcado fui à uma casa na Avenida São Sebastião, próximo do colégio Ezeriel Mônico de Matos, e atrás tinha um barracão onde 12 jovens se reuniam pra ensaios dramatúrgicos, declamação de poesia e roda de violão. Me achei. Era algo interessante, pra sair da minha vida monótona. Fui aceito no grupo, passei a ensaiar e começamos a visitar invasões de periferia onde reapresentávamos o sociodrama, depois abríamos um debate e encaminhávamos um movimento por melhorias. A água era o principal problema. Ali meu mundo mudou. Minha cabeça de pequeno burguês entendeu que havia um mundo real, além dos meus gibis.

A casa era da família Peloso. Os irmãos Pedro, Milton e Rita faziam parte do grupo. Pedro era casado com minha amiga, que hoje é a reitora da Ufopa, Raimunda Monteiro (eles se separaram e hoje ela é casada com o deputado Airton Faleiro). O irmão mais velho dos Peloso, o ex-frei Ranulfo, era um dos líderes do movimento de trabalhadores rurais que venceu uma eleição histórica, com o ex-frei Geraldo Pastana, assumindo o Sindicato dos Trabalhadores Rurais. O grupo era um movimento para formação de quadros para o movimento popular urbano, seguindo a mesma ideologia da luta rural. Ali estavam alguns dos fundadores do PT em Santarém. E eu, um garoto de 16 anos, no meio deles.

Pedro e Raimundinha praticamente me “adotaram”. Depois que o grupo acabou continuei com eles e acabei trabalhando na formação do Sindicato dos Comerciários, do qual quase fui presidente. Foi a época em que comecei a trabalhar na Rádio Rural e deixei de ser comerciário.

Hoje te vejo com uma barba enorme… É algum tipo de homenagem ao Lula, ao Marx ou a Fidel Castro? :-p

Começou com preguiça de me barbear. kkkkkkkkk

Mi-se-ri-cór-diaaaaa

Hahahahah Depois resolvi deixar crescer, pra simbolizar o ano mais marxista de minha vida, como presidente do PCdoB. É mais uma faceta camaleônica das tantas que já usei. O bom de usar barba é que fico mais feio do que sou. No dia em que tirar dirão: “Você ficou mais jovem! Está mais simpático!”kkkkkkk

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk….

Eu tenho uma enormeeeee curiosidade: Por que você persegue tanto o Paulo Barrudada nas redes sociais. O “Senhor dos Hotéis”, como você o denomina, te incomoda a que ponto?

Como já disse não gosto de despotismo. O empresário Paulo Barrudada está há 7 anos em Santarém e resolveu entrar em nossa história. Acho louvável. Sou contra a xenofobia. Ele tem todo direito de querer ser um líder partidário. O problema são os métodos que tem usado. Uma política agressiva de cooptação financeira. Quando ele resolveu ter o PCdoB na mão indicando a presidência, me opus. Os líderes do partido à época me escantearam e partiram pra uma aventura sem volta. Fizeram uma eleição da qual nem fui convidado e por pouco me desfiliei. Mas como percebi que aquilo não se sustentaria, resisti.

Usei a redes sociais pra atazanar aquele acordo. Mandei dossiês para a estadual. O próprio Barrudada reconheceu que tinha errado na forma que conduziu aquele processo, quando o blogueiro JK desistiu de ser presidente. Tanto que me chamou pra conversar em seu hotel. Jeso Carneiro, que era amigo comum dos dois, intermediou o encontro. Deixei claro que não aceitava aquele processo. Ele disse que por ele, eu podia assumir o partido, mas que os outros não aceitavam e por isso teria indicado um funcionário de seu hotel para o cargo, depois que JK renunciou. E eu disse que não queria algo que não era dele ou dos outros.

O processo democrático interno do PCdoB tinha sido ferido. Fizemos um pacto que deixaríamos a poeira sentar e ver como as coisas poderiam se restabelecer. Mantivemos por um tempo uma relação de cortesia. Tenho até hoje as mensagens que ele me mandava, de madrugada, mostrando pesquisas duvidosas em que seu nome aparecia como favorito numa disputa para a prefeitura. Percebi que o discurso em prol da candidatura de Marcelo Corrêa para deputado estadual e futuro prefeito era furada.

Jota Ninos

Eitaaaaa “Piulaaaaaaaa”

Desde o início o candidato era o Barrudada. E aí começaram as informações nos blogs, como até faz em alguns, que são mais contra-informações do que verdades. Até que comecei a dar umas cutucadas na campanha de 2014 pelo Face, e uma delas mexeu com seus brios. Veio um telefonema (devidamente gravado) mostrando seu destempero contra mim. A partir disso, ele me bloqueou nas redes sociais e chegou a incentivar um blogueiro a levantar calúnias contra mim. Depois um emissário tentou uma nova reconciliação que eu até aceitei, mas que não se consolidou. Não sou inimigo do Barrudada empresário, mas sou contra seus métodos de fazer política que já combati no passado. Quem quer ser novidade, não pode repetir os mesmos erros de quem critica.

Lucineide, não. Anselmo Colares, não. Por que ninguém quer embarcar nessa aventura chamada PCdoB-PSOL pra prefeito?

Não é uma aventura e tem muita gente embarcando. Os dois partidos, mais o Rede, tentam ser uma alternativa diante da mesmice que existe atualmente. Estamos construindo um programa, diferente dos outros que começam a discutir a partir de um nome. Há nomes internos dos três partidos para assumir a campanha, mas queremos buscar outras lideranças da sociedade que se disponham a assumir essa bandeira. A professora Lucineide era candidata pelo PT. Havia uma chance remota de vir encabeçar essa coligação. Mas ela mesma decidiu não disputar nada. O professor Anselmo Colares é um simpatizante da causa e desde 2012 acompanha a movimentação do PCdoB, não como filiado. Mas na qualidade de vice-reitor fica difícil assumir outro papel. Uma sondagem foi feita a ele, assim como outras pessoas que ainda não vieram a público. Tudo vai acontecer dentro do momento certo. Não temos pressa. O importante é estabelecer um novo diálogo com a sociedade, diferenciado dos que são feitos pelos mesmos de sempre, de Alexandre Von a Antonio Rocha, de Lira Maia a Socorro Pena, de Nélio Aguiar a Barrudada. Queremos uma Santarém, além dos seus encantos.

Muitoooooooooooo obrigada por está comigo No Salto. Foi muitoooooooo legal conhecer mais da tua história e mostrar para os leitores um pouquinho de ti.

Um abraço!

Eu que agradeço e apresento esta poesia:

Salto

Do alto do meu salto
Minha autoestima
Esgrima
Com a tua rima
E me revela a sina
De ser poeta
Quase profeta…

Porque
Do alto de meu salto
Pauto
A tua meta
De poeta
Que não desatina
E mantém, menina,
A palavra
Que nos contamina…


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2 Comentários em Um comunista viciado em… Coca-cola e novela da Globo

  • O NINOS É UM AMIGO E COLEGA DE PROFISSÃO QUE TEM MINHA ADMIRAÇÃO. É OPERÁRIOS DAS LETRAS E ORADOR NAS PALAVRAS. VALEU A ENTREVISTA!

  • Adorei! Lembrei dos tempos do sindicato! Lembrei de como era sentir-se parte daquela ideologia maravilhosa(falando do partido).
    Claro, já conhecia tua história mas lê-la assim hoje…me fez navegar no passado.
    Me emocionei com a parte da Carlinha…

    Por outro lado o que li, me fez rever antigos e atuais conceitos…

    Maravilhosa entrevista!

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