Direita, volver!

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por Helvecio Santos (*)

Recentemente escrevi no Gazeta e no Blog do Jeso “Morde e assopra”, e no blog colhi algumas manifestações interessantes, entre elas um cidadão que dizia o seguinte : “Tem um monte de empresas que mesmo sabendo dessas benesses não dão um prato de comida pra quem precisa, não dá um cobertor pra quem tem frio, o que fica parecendo é que alguns ainda pensam que causas sociais são monopólio das esquerdas”.

No artigo, eu comentava sobre uma grande rede de televisão que promove e concentra uma mega campanha de doação em espécie para repassar a um fundo internacional, valor que, segundo a emissora, é destinado a obra de assistência às crianças brasileiras.

Ao longo da campanha a emissora avisa que a doação não poderá ser abatida no imposto de renda. Como o dinheiro é repassado ao fundo como doação, eu perguntava: quem se beneficiaria da doação como abatimento no imposto de renda?
Destaco o comentário supra, pois somente essa pessoa viu em meu texto uma conotação ideológica, o que me levou a sentir imensa saudade dos professores de português Nicolino Campos, Olindo Neves e Gersonita Imbiriba, que fizeram história em Santarém.

Senti saudade dos mestres, pois ou o leitor não deu a interpretação correta ao texto ou será que ele faz parte daquela minoria que ainda acredita na ideologia que divide o mundo em esquerda e direita?

Dos anos 70 do século passado lembro que os ditos “esquerdistas” lutavam para derrubar um regime militar imposto à força no Brasil e tinham como inspiração os ventos vindos de Cuba e União Soviética. Copiando os ídolos caribenhos, usavam barba e cabelos compridos, andavam com um bornal a tiracolo, calçavam sandálias de couro, usavam camisas de malha e calças jeans.

Mantinham sempre um ar caladão, tipo o intelectual que sabia o destino do mundo, liam Sartre e assistiam filmes de Godard. Escutavam long plays dos Novos Baianos e nos finais de madrugada posicionavam o “dial” nas transmissões da “Rádio Habana-Cuba – território libre de América”. Vermelho era a cor sagrada.

Roberto Campos era crucificado e “direitistas” como Antonio Carlos Magalhães eram tidos como encarnação do capeta. Hoje os remanescentes dessa pipa nem de longe lembram os jovens idealistas que eram e que diziam lutar pela conquista do poder para ser entregue nas mãos do proletariado.

Os “direitistas”, por sua vez, estavam totalmente ligados nas notícias dos Estados Unidos da América, também usavam calças jeans e camisas de malha mas sem o surrado bornal. Cortavam o cabelo bem rente e jamais usavam barba comprida. Sempre que se apresentava uma ocasião propícia, envergavam bem cortados ternos, os quais, já sem o colete, deveriam por justiça serem chamados de duplos.

Ouviam discos de rock e não freqüentavam cinemas como o Paissandu no Rio de Janeiro. Conseguiam bons estágios nas estatais o que era abominado pelos “bichos grilo”, como também eram referidos os “esquerdistas”.

O tempo mudou e não foi preciso entrarmos no século XXI para tudo virar um mingau só!

“Esquerdistas” de proa hoje só mantêm o vermelho nas vistosas camisas em eventos nos quais precisam chamar atenção para si. Assim, “guerrilheiros” como José Genoíno e José Dirceu e sindicalistas como nosso “guia falante” Lula da Silva, só andam, aliás voam, em jatinhos particulares, hospedam-se em hotéis cinco estrelíssimas, bebem vinhos caríssimos, freqüentam os melhores cabeleireiros, beijam ou beijaram as mãos entre outros de ACM, José Sarney e Collor, tido como o melhor representante da safra brasiliense da juventude “direitista”.

O ex-ministro Nelson Jobim era amigo de FHC, integrou, por sua indicação, a mais alta corte da justiça e depois virou ministro do governo “esquerdista”.

O que assistimos hoje é a sublimação de que os fins justificam os meios e a ideologia que vá pro raio que os parta!!
Fico por aqui para não ser cansativo, mas não posso deixar de pensar, e ressalvo, sem desmerecer sua postura no tocante ao combate à corrupção, como a ideologia se vende ou muda rapidamente por conveniência da ocasião, quando vejo aquele eterno bigode dos “brasileiros e brasileiras”, camaleão que se adapta em qualquer cenário ideológico, sendo o sustentáculo político do governo da ex-guerrilheira Dilma Roussef.

Então, se pensar em direita ou esquerda entre pessoas é viver de ilusão, que dizer se pensarmos assim das empresas que vivem de resultados econômicos financeiros? Na verdade, as empresas não têm e nunca tiveram ideologias mas simplesmente interesse nos lucros. Quanto aos políticos, o interesse é no quanto podem usar e desfrutar. Pensar diferente é um atraso de no mínimo 40 anos. Nossas empresas e nossos “heróis” estão aí para comprovar essa verdade nua e crua e os que se iludiram com o canto da sereia morreram de overdose.

Os auto intitulados “esquerdistas” não explicaram quem era proletário quando em cansativos blá blá blás pintavam o mundo tendo o proletariado no poder.

Essa dualidade, esquerda x direita, é mote político de “companhêro” para se manter no topo e pior, tem gente que ainda acredita nessa baboseira.

Qual a diferença entre o PFL, tachado de “direitista” e o PT, dito “esquerdista”? A busca de poder, a negociata por cargos, a corrupção, as benesses, o aparelhamento da máquina partidária, não é tudo igual?

Ideologias não existem! São meros pontos de vista ou pontos de onde o poder é visto e tudo vai por água abaixo quando o poder é visto de dentro.

Na verdade, os políticos não se importam com a ordem “Direita, volver!”, desde que desfrutem do poder. Esquerda e direita é a mesma coisa! O que faz a diferença é quem está com a chave do cofre.

Nas palavras de Roberto DaMatta, para os nossos políticos e mandatários, “a ‘política’ é vista como uma região social na qual os valores da ética, da moralidade, da racionalidade e, sobretudo, do bom-senso são subvertidos ou desdenhados”.

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* Santareno, é advogado e economista. Reside no Rio de Janeiro e escreve regularmente neste blog.


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