Jeso Carneiro

Inesquecível!

por André Cavalcante (*)

Como desportista, hoje mais na teoria do que na prática (vão distantes os tempos de jogador de múltiplos esportes), costumo acompanhar a programação esportiva da rede aberta de televisão, em especial aos domingos, o mais preguiçoso dos dias.

Assim, como de hábito, estava neste domingo assistindo ao “Band Esporte Clube”, programa como o nome já revela da BAND, apresentado pela jornalista Patrícia Maldonado (aquela flagrada falando mal do Festival de Parintins junto com o Datena em um intervalo da transmissão e que virou febre na internet), quando foi ao ar uma matéria em que os narradores da referida emissora falavam dos seus locutores preferidos que tinham servido de inspiração para suas respectivas carreiras.

A partir dos depoimentos do Nivaldo Pietro e do Téo José (dois dos melhores narradores do Brasil em minha opinião), lembrei de uma conversa que tinha tido dias antes como meu querido amigo Oti Santos, o “Doutor da Bola”, um dos mais conhecidos locutores esportivos do Pará, quando nos encaminhávamos para o Estádio Olímpico “João Havelange”, o “Engenhão”, no Rio de Janeiro, por ocasião do jogo de volta da Copa do Brasil entre Botafogo e São Raimundo.

Na ocasião, com a participação do presidente do SREC, Rosinaldo do Vale, lembrei das inúmeras oportunidades em que acompanhei os jogos do Flamengo pela Rádio Nacional e das narrações empolgantes do famoso José Carlos Araújo, ainda hoje na ativa e a quem sempre reputei ser um dos melhores do Brasil em todos os tempos (não esqueço o bordão: “Barato bom, barato bom é do Mengão… chora vascão… Mengão um, vasco da gama zero…”).

O Oti, logicamente, concordou com a importância do José Carlos Araújo, mas, sendo a “enciclopédia” que é em termos de futebol, citou vários nomes que, para ele e para meu outro interlocutor, estavam à frente em importância ao meu preferido. De todos os citados pelo Oti, dois ele destacou como sendo o que de melhor o país já produziu em termos de locutores esportivo, José Silvério e Waldir Amaral, opinião que foi acompanhada pelo Rosinaldo.

Como não tive oportunidade de ouvir narrações dos dois locutores citados pelo Oti, não manifestei qualquer opinião e aceitei a dele até como forma de reverência ao seu conhecimento, e a conversa tomou outros rumos.

Após a partida do São Raimundo no Rio de Janeiro, rumei na manhã do sábado para São Paulo, onde me encontraria com minha esposa para um período de descanso e para realizar uma série de exames médicos há muito protelados. Logicamente que em São Paulo você não pode deixar de realizar algumas incursões culturais e gastronômicas (destas falo em outra oportunidade) e, assim, aproveitei a estadia para conhecer, entre outros, um museu cuja fama já vem se tornando uma lenda no meio, o renomado MUSEU DO FUTEBOL.

A visita já há algum tempo desejada, tinha outra finalidade, a de colocar nosso Pantera no panteão dos maiores do Futebol Brasileiro a partir da inclusão do seu recente feito no acervo do museu. Assim, na manhã do dia 16, terça-feira (ele não abre as segundas), parti rumo ao charmoso Estádio Paulo Machado de Carvalho, o conhecido “Pacaembu”, já que foi aproveitado o espaço embaixo de uma das suas arquibancadas para instalar o Museu a ser visitado.

Como era de se esperar pelos comentários que precediam a visita, o Museu de fato é um marco para o futebol brasileiro. Uma sublime homenagem que emociona e empolga. Já na entrada enormes painéis expõem objetos com os símbolos dos mais variados times do Brasil. O Pará esta lá com Remo, Paysandu e Tuna.

São diversos os estágios da visita, indo desde a saudação inicial do Rei Pelé a uma emocionante lembrança do “Maracanaço” (Rito de Passagem), o doloroso triunfo da Seleção Uruguaia na Copa de 50 no Brasil, quando, segundo a lenda, o silêncio e a tristeza dos brasileiros foi tão profunda que o Capitão da Celeste, Obdulio Varela, conhecido como El Negro, só foi conseguir comemorar o feito na chegada ao Uruguai.

Contudo, de todos os momentos maravilhosos do museu um deles me chamou mais a atenção por me fazer lembrar a conversa do início deste texto.

Em uma das primeiras salas de visitação existe uma seção chamada RÁDIO, “Uma homenagem aos grandes locutores que, pelas ondas do rádio, unem o coração das torcidas”, como diz o programa. É uma série de narrações de gols feitas por verdadeiros “deuses” do rádio nacional. Estão lá além do meu preferido José Carlos Araújo e dos citados pelo Oti, José Silvério e Waldir Amaral, pérolas como a narração do saudoso Osmar Santos (inclusive com aquela “musiquinha”), do Fiori Gigliotti e até mesmo do Ari Barroso.

Mesmo mediante a impaciência velada da Giovanna (recomendo não levar as esposas, pois, com raras exceções, elas não entendem o que o futebol significa para os homens brasileiros), fiz questão de ouvir todas as narrações. E mesmo sem saber que seria possível (conforme pensava alguns dias antes), pude comparar a opinião do Oti, corroborada pelo Rosinaldo, com a minha sobre quem seria o melhor narrador esportivo do Brasil.

A conclusão não poderia ser outra, não existe um melhor. Todos são verdadeiras instituições da radiodifusão brasileira que de fato uniram, em seus respectivos tempos, o “coração das torcidas”, principalmente na era pré-televisão e internet.

Na emoção das lembranças da infância, rendi silenciosamente minhas homenagens a estas inesquecíveis figuras e, até por uma questão de justiça, as estendi ao próprio Oti Santos, ao Ivaldo Fonseca, ao Peninha Povão e a todos os locutores da nossa terra (aos quais peço desculpas pela indelicadeza de não os citar nominalmente) que também já uniram e unem o coração das torcidas locais. Quem sabe o Pantera não nos leve em breve até a paulicéia e lá, juntos, possamos comparar nossas impressões não só sobre os locutores como, também, aos demais aspectos do futebol homenageados no museu.

Espero que neste dia, além da visita, possamos constatar que o SÃO RAIMUNDO ESPORTE CLUBE foi inserido na maior homenagem já prestada ao Futebol Brasileiro, o Museu do Futebol que é simplesmente INESQUECÍVEL!

——————————-

* É advogado e um dos diretores atuais do São Raimundo.

Sair da versão mobile