O filho das elites no 13 de maio. Por Joaquim Onésimo Barbosa

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O filho das elites no 13 de maio. Por Joaquim Onésimo Barbosa
Em “O filho das…”, Joaquim Barbosa escreve: “Eles aprendem no exterior para, depois, praticarem na terra dos bananas, com um discurso que ludibria as massas”

Li o texto do jornal Folha de S. Paulo em que o filho de Bruno Covas, morto ano passado vítima de câncer, fala sobre o futuro político que teria seu pai, se estivesse vivo.

Na chamada, a frase “Meu pai seria presidente algum dia” soa aquele saudosismo português sebastianista. Tomás Covas, 16 anos, reflete o espírito que alimenta a elite brasileira desde a Colônia, como nos mostra Ana Maria Daou, ao tratar das elites amazonenses e dos seus filhos formatados para a reprodução dos vícios das elites, nos fins do século XIX e início do século XX.

No Amazonas, lembra Daou, os endinheirados da borracha principalmente recebiam até incentivos públicos para que seus filhos fossem estudar no exterior, para aprenderem a cultura gringa, e, voltando de lá, assumissem cargos no poder.

Até nisso Tomás é cópia no nosso passado: o garoto prodígio do Jornal Folha mora em Nova York, fetiche de orgasmo dos ricos e pobretões com a pretensa vira-lata. Ao dar vez e voz ao garoto Covas, o jornal brasileiro tenta e tenta e tenta se colocar como o canal que foi em outros tempos, quando reproduzia o discurso e o pensamento das elites, pintando exatamente o que elas pensavam.

Hoje, perdido entre os devaneios e a crise política, agarrado ao sonho de uma terceira via que não vinga, a Folha dá aquele grito de desespero na imagem do filho de Bruno Covas, quem sabe até mesmo na ânsia de ressuscitar um PSDB zumbi – partido das elites –, que mofa em terras tupiniquins, abandonado até mesmo por aquele que tem a cara tucana, agora na esquerda, Geraldo Alckmin, candidato a vice de Lula.

No outro jornal porta-voz das elites, o Estadão, um outro tucano, Aloysio Nunes, diz que apoiará Lula já no primeiro turno, talvez na tentativa de escapar da sujeira em que se meteram os tucanos ao servirem de ponte para o horror em que o Brasil se encontra.

A reportagem, com a entrevista do rebento dos Covas, é emblemática, ainda mais sendo publicada na data de 13 de maio, quando se passam 134 anos da assinatura da Lei 3.353. Pode dizer muito do que ainda pensam os porta-vozes das elites, principalmente as paulistas e paulistanas.

É como se dissessem: precisamos juntar os cacos do que temos e somos para tentar a volta ao caminho de onde viemos, já que os nossos de hoje não nos representam mais – Dória é um bom exemplo do fracasso retumbante.

Também quem sabe serve para dar aquele ar que deram à Princesa Isabel, como a bondosa riquinha branca portuguesa amiga dos pretos.

A elite sempre acha tempo e pretexto para inventar seus heróis. Tomás Covas fala de um lugar onde os filhos de gente igual a ele prefere morar. É o tipo de gente que prefere o cheiro da elite ao cheiro do povo, a sentir as dores do povo, a viver onde o povo sofre e luta.

Ele é o perfil das elites brasileiras, dessa que nos governou e nos governa nos terrenos dos centrões, entre orçamentos secretos e discursos da meritocracia.

Eles aprendem no exterior para, depois, praticarem na terra dos bananas, com um discurso que ludibria as massas, ignorantes e famintas, que entopem filas na busca de pele e pé de frango.

Como poetizou e cantou Cazuza, a burguesia fede e busca, hoje, desesperada, uma ideologia para chamar de sua. Mas, antes, quer passar por Nova York, de onde não pode sentir a dor da vendedora de chiclete.

Joaquim Onésimo F. Barbosa
Joaquim Onésimo F. Barbosa

É professor santareno. Doutor em Sociedade e Cultura na Amazônia. Escreve regularmente no portal JC.

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Uma comentário para

  • Eu sei, pra muitos, deve tá doendo, ver o candidato predileto “das pesquisas” – sem voz nas ruas – ter que estender a mão com um pires vazio em direção ao PSDB mendigando apoio. Como dizia minha mãe: chora, não, que passa!

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