“O PT se tornou um partido de caciques, que não renova lideranças”, diz sociólogo

Doutor em Sociologia, Válber Pires comentou o artigo A candidatura que sangra em praça pública. Por Jeso Carneiro, que foi ao ar nesta quinta-feira (28) no portal JC.

Leia o comentário:

★★★★

Já falei há algum tempo a este respeito. Um dos problemas do PT é ter se tornado um partido de caciques. Pior, caciques vaidosos e egocêntricos, que não permitiram a renovação das lideranças do partido.

Todas as principais lideranças do PT em todos os estados estão velhas – e não necessariamente na idade, pois, como Gabriel Garcia Marquez, acredito que o espírito se mantém jovem sob o envelhecimento do corpo.

Assim, estão velhas enquanto lideranças e os jovens militantes são apenas adoradores de suas personalidades, sem ideias próprias e, mesmo, sem bagagem intelectual para dar um ar de jovialidade às antigas ideias e bandeiras da esquerda, tão essenciais ao nosso mundo.

Muitas destas lideranças envelhecidas estão desgastadas e com razão, porque muitos fizeram gestões aquém do prometido em seus cargos públicos e, também, porque é cansativo para a população ver sempre as mesmas personagens se apresentarem como representantes de seus interesses, quando suas condições reais de vida pouco mudam e, principalmente, mudam muito pouco para melhor.

Os partidos de esquerda negligenciam a importância de entregar à juventude a tarefa de representar suas antigas – e novas – ideias e bandeiras: isso inculca na população o sentimento de novidade e renovação pela qual ela tanto clama.

Os partidos de direita são mais inteligentes neste sentido, porque apoiam e treinam o surgimento de novas lideranças. Assim, esse desejo de renovação que está latente no subconsciente das massas é sempre atendido por eles, que sempre lançam um candidato que se diz “a mudança” “a renovação”, mesmo que seja apenas “mais do mesmo”.

E, ainda que os líderes da direita cedam lugar para novos líderes, saem lucrando, porque é sempre o mesmo grupo com os mesmos interesses e negócios que se revezam no poder: “tudo deve mudar para que nada mude”.

O PT, e a esquerda de modo geral, torna tudo mais difícil porque o culto à personalidade entrega para a população sempre as mesmas velhas lideranças banhadas de maquiagem para esconder as rugas.

Resultado: só mantém o voto inalterado a militância, que também envelhece, e, de candidatos potenciais, isto é, com potencialidades de, realmente, conquistar o poder, esses candidatos se tornam apenas peças para legitimar o jogo democrático.

A candidatura da Maria não empolga, porque a Maria não empolga mais, mesmo que represente boas ideias e intenções. E não é porque Maria envelheceu na idade, mas porque sua liderança envelheceu, não se renovou em novas lideranças capazes de dar novo fôlego e injetar um ar de novidade às antigas e novas ideias e bandeiras da esquerda.

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