Jeso Carneiro

Há 90 anos, Santarém era chamada de Pérola do Tapajós pela 1ª vez. Por Silvan Cardoso

Há 90 anos, Santarém era chamada de Pérola do Tapajós pela 1ª vez. Por Silvan Cardoso
Santarém, a Pérola do Tapajós, às margens do rio Tapajós. Foto: PMS

Tornou-se tão natural chamar Santarém de “Perola do Tapajós”. Esse apelido carinhoso tem sido tão significativo quanto o próprio nome da cidade. E essa naturalidade em chamá-la é vista com frequência no dia a dia dos santarenos, nos eventos e adotados por qualquer pessoa.

Quando se pergunta a algum santareno o porquê da cidade assim ser chamada, costuma-se responder, sem referência e de forma vaga, que o apelido é devido à sua beleza, especialmente quando se trata das belezas naturais, e da sua importância econômica na região oeste ou até mesmo no estado do Pará.

Pode até ser, mas não é exatamente assim. A história é bem mais interessante. E neste ano de 2025 serão celebrados os 90 anos desse apelido tão marcante para várias gerações.

A origem do apelido carinhoso

Foi o escritor Felisbelo Sussuarana que teria criado essa famosa expressão. Era o ano de 1935, quando Sussuarana escreveu o poema intitulado Pérola do Tapajós. Divido em três estrofes e contendo o total de 37 versos, o texto foi feito para se tornar uma valsa, que seria, na época, musicada por Pedro Santos e Wilson Fonseca.

O poema exalta a beleza da cidade “na doce paz da tua singeleza a resplandecer, banhada de arrebóis”. O autor se declara tão intensamente à sua cidade, que ele faz questão de “roubar do sol os raios, o doce olor dos rosais e o primor dos rouxinóis” para cantá-la e exaltá-la.

A expressão Pérola do Tapajós é encontrada apenas no título do texto. No corpo do poema, similares ao título, são encontrados os versos “a pérola encantada/ do altivo Tapajós!”, logo na primeira estrofe. O poema é muito interessante, bonito e inspirador, principalmente para quem é apaixonado por esta cidade.

Perífrase: renomeando poeticamente as cidades

O apelido colocado numa cidade se chama perífrase, uma figura de linguagem que consiste na substituição do nome por uma ou mais palavras, que mostram as características ou algumas atribuições relacionadas ao lugar em questão.

Outros exemplos de perífrase são: “Princesa do Surubiú”, para Alenquer; “Princesa do Trombetas”, para Oriximiná; “Cidade das Mangueiras”, para Belém; “Terra da Garoa” para São Paulo; “Cidade Maravilhosa”, para Rio de Janeiro e “País do Futebol” para o Brasil.

90 anos depois, a perífrase ou apelido carinhoso, caiu no gosto dos santarenos de modo geral, sendo bastante frequente o seu uso em discursos, nos anúncios comerciais, nos grafites em paredes e muros, nas conversas de esquina ou mesas de bar e também nos versos de muitos outros poemas.

Sobre o autor de Perola do Tapajós

Felisbelo Jaguar Sussuarana foi um notável professor, escritor, jornalista, músico, vereador e futebolista santareno. Filho do senhor Alexandre Alves da Silveira Sussuarana e de dona Filomena Nóvoa, nasceu no dia 28 de abril de 1891. Ele foi autodidata em sua trajetória de vida.

É atribuída a ele a introdução do futebol em Santarém entre os anos de 1911 e 1912. Fundou jornais, um colégio com seu sogro, o professor Antônio Batista Belo de Carvalho, criou revistas e integrou o conjunto musical Euterpe-Jazz.

Teatrólogo respeitado, é de Sussuarana o drama “Divino Martírio” e a comédia “República de saias”. Faleceu aos 51 anos de idade no dia 10 de outubro de 1942 e se encontra sepultado – e eternizado – em sua querida Pérola do Tapajós.

Felisbelo Sussuarana

❒ Silvan Cardoso é poeta, cronista e pedagogo nascido em Alenquer, no Pará. Escreve regularmente no JC. Leia também dele: Alenquer, 143 anos: quem come seu acari não quer mais sair daqui. E ainda: Canhoto, o dono do lanche que virou point em Alenquer; vídeo.

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