
Tornou-se tão natural chamar Santarém de “Perola do Tapajós”. Esse apelido carinhoso tem sido tão significativo quanto o próprio nome da cidade. E essa naturalidade em chamá-la é vista com frequência no dia a dia dos santarenos, nos eventos e adotados por qualquer pessoa.
Quando se pergunta a algum santareno o porquê da cidade assim ser chamada, costuma-se responder, sem referência e de forma vaga, que o apelido é devido à sua beleza, especialmente quando se trata das belezas naturais, e da sua importância econômica na região oeste ou até mesmo no estado do Pará.
Pode até ser, mas não é exatamente assim. A história é bem mais interessante. E neste ano de 2025 serão celebrados os 90 anos desse apelido tão marcante para várias gerações.
A origem do apelido carinhoso
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Foi o escritor Felisbelo Sussuarana que teria criado essa famosa expressão. Era o ano de 1935, quando Sussuarana escreveu o poema intitulado Pérola do Tapajós. Divido em três estrofes e contendo o total de 37 versos, o texto foi feito para se tornar uma valsa, que seria, na época, musicada por Pedro Santos e Wilson Fonseca.
O poema exalta a beleza da cidade “na doce paz da tua singeleza a resplandecer, banhada de arrebóis”. O autor se declara tão intensamente à sua cidade, que ele faz questão de “roubar do sol os raios, o doce olor dos rosais e o primor dos rouxinóis” para cantá-la e exaltá-la.
A expressão Pérola do Tapajós é encontrada apenas no título do texto. No corpo do poema, similares ao título, são encontrados os versos “a pérola encantada/ do altivo Tapajós!”, logo na primeira estrofe. O poema é muito interessante, bonito e inspirador, principalmente para quem é apaixonado por esta cidade.
Perífrase: renomeando poeticamente as cidades
O apelido colocado numa cidade se chama perífrase, uma figura de linguagem que consiste na substituição do nome por uma ou mais palavras, que mostram as características ou algumas atribuições relacionadas ao lugar em questão.
Outros exemplos de perífrase são: “Princesa do Surubiú”, para Alenquer; “Princesa do Trombetas”, para Oriximiná; “Cidade das Mangueiras”, para Belém; “Terra da Garoa” para São Paulo; “Cidade Maravilhosa”, para Rio de Janeiro e “País do Futebol” para o Brasil.
90 anos depois, a perífrase ou apelido carinhoso, caiu no gosto dos santarenos de modo geral, sendo bastante frequente o seu uso em discursos, nos anúncios comerciais, nos grafites em paredes e muros, nas conversas de esquina ou mesas de bar e também nos versos de muitos outros poemas.
Sobre o autor de Perola do Tapajós
Felisbelo Jaguar Sussuarana foi um notável professor, escritor, jornalista, músico, vereador e futebolista santareno. Filho do senhor Alexandre Alves da Silveira Sussuarana e de dona Filomena Nóvoa, nasceu no dia 28 de abril de 1891. Ele foi autodidata em sua trajetória de vida.
É atribuída a ele a introdução do futebol em Santarém entre os anos de 1911 e 1912. Fundou jornais, um colégio com seu sogro, o professor Antônio Batista Belo de Carvalho, criou revistas e integrou o conjunto musical Euterpe-Jazz.
Teatrólogo respeitado, é de Sussuarana o drama “Divino Martírio” e a comédia “República de saias”. Faleceu aos 51 anos de idade no dia 10 de outubro de 1942 e se encontra sepultado – e eternizado – em sua querida Pérola do Tapajós.

❒ Silvan Cardoso é poeta, cronista e pedagogo nascido em Alenquer, no Pará. Escreve regularmente no JC. Leia também dele: Alenquer, 143 anos: quem come seu acari não quer mais sair daqui. E ainda: Canhoto, o dono do lanche que virou point em Alenquer; vídeo.
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É oportuno destacar que Felisbelo Sussuarana já se referia a Santarém como a “Pérola de Ofir”, no seu belo poema TAPAJÔNIA, datado de 1917, que foi musicado por meu avô paterno Maestro José Agostinho da Fonseca (1886-1945), adiante transcrito:
TAPAJÔNIA
(Valsa)
Letra: Felisbelo Sussuarana
Música: José Agostinho da Fonseca (Santarém-PA, 1917)
I Parte
És uma flor gentil
Que ao coração me inspira amor!
Tu és do meu Brasil
Oh! sim,
A graça mais louçã,
A vênus adorada,
A lúcida alvorada,
Estrela vesperal;
Flor da manhã
Do meu ideal jardim
És meu São Graal, enfim!
II Parte
Teu amor
Feliz me faz viver;
Por esse filtro encantador
Eu serei
Como um rei!
Que divinal satisfação!
Oh! que prazer, meu bem,
Do teu olhar me vem
Do teu olhar de luzes d’amplidão!
Se o sofrer
Me vem ferir,
Pungir,
O teu sorriso lirial
Vem tolher
O sofrer!
É um divino querubim
E um belo altar de luz
De flores e marfim
No peito levantei
No qual eu te porei
Ao lado de Jesus!
I Parte
Só por te amar feliz
Contente vou vivendo, a rir;
E para te adorar eu fiz,
Ó pérola de ofir,
Do peito um templo santo,
Um tempo sacrossanto
De amor e de perdão!
E no missal
Do teu divino olhar
Hei de rezar,
Então!
III Parte
És a flor mimosa
És como escada formosa
Feita por Jesus,
De luz
Que ao céu conduz.
Sorvo o teu perfume
De néctar
E de luar,
Doce licor.
Oh! doce primor
Que nos faz extasiar!
I Parte
És uma flor gentil
Que ao coração me inspira amor!
Tu és do meu Brasil
Oh! sim,
A graça mais louçã,
A vênus adorada,
A lúcida alvorada,
Estrela vesperal;
Flor da manhã
Do meu ideal jardim
És meu São Graal, enfim!
…
Nota: “Ofir é o nome de uma terra lendária da Bíblia, famosa pela sua riqueza em ouro, prata, pedras preciosas e madeira de sândalo. A localização exata de Ofir é incerta, mas era uma fonte importante de riquezas para o Rei Salomão, que enviava expedições marítimas para obter esses bens valiosos. O ‘ouro de Ofir’ tornou-se uma expressão para designar algo muito puro e precioso”. (Google).
Desse modo, faz 108 anos (e não apenas 90 anos) que o poeta Felisbelo Sussuarana se referia à nossa querida Santarém como a PÉROLA, no seu notável poema “Tapajônia”, que tem música de meu avô paterno, Maestro José Agostinho da Fonseca, conforme faço expressa citação no meu artigo “PÉROLA DO TAPAJÓS – FELISBELO SUSSUARANA”, publicado no site Uruá-Tapera, em 1º de maio de 2023:
https://uruatapera.com/perola-do-tapajos-felisbelo-sussuarana/
Abraços a todos,
Vicente José Malheiros da Fonseca, santareno, Desembargador do Trabalho TRT-8, aposentado; Professor; Compositor; residente em Belém (PA); membro da Academia de Letras e Artes de Santarém, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Academia Paraense de Música, da Academia de Música do Brasil e outros entidades congêneres.
PÉROLA DO TAPAJÓS – FELISBELO SUSSUARANA
(Vicente Malheiros da Fonseca)
Quando se pergunta a razão pela qual a cidade de Santarém é conhecida como a Pérola do Tapajós é quase inevitável que a resposta esteja no lindo poema de Felisbelo Sussuarana, musicado por Wilson Fonseca, em parceria com Pedro Santos, no ano de 1935, adiante transcrito.
Artigo publicado no site Uruá-Tapera, em 1º de maio de 2023:
https://uruatapera.com/perola-do-tapajos-felisbelo-sussuarana/
Vicente Malheiros da Fonseca, santareno, residente em Belém (PA).
Parabéns pelo belíssimo texto.
Que matéria linda!
Que texto lindo! Perfeito!