
Em uma decisão unânime e contundente, o TCM (Tribunal de Contas dos Municípios) do Pará emitiu parecer prévio pela reprovação das contas de governo da Prefeitura de Oriximiná, no Baixo Amazonas, referentes ao exercício financeiro de 2024.
A gestão, sob responsabilidade do prefeito reeleito José Willian Siqueira da Fonseca, o Delegado Fonseca (Republicanos), foi alvo de severas sanções devido a irregularidades classificadas como “graves e materialmente relevantes” pela corte de contas paraense.
∎ Leia também: TCM rejeita contas de 2023 do prefeito Delegado Fonseca, de Oriximiná, por série de irregularidades.
A decisão, oficializada nesta semana (dia 23) e relatada pelo conselheiro Daniel Lavareda, aponta um cenário de descontrole administrativo e fiscal, culminando na determinação de ressarcimento milionário ao erário e multas pesadas ao prefeito.
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O “rombo” dos contratos: R$ 5 milhões a devolver
O ponto mais crítico da auditoria recai sobre a execução de despesas sem amparo contratual. O tribunal determinou que o prefeito Delegado Fonseca devolva, com recursos próprios, a quantia de R$ 5.017.192,06 aos cofres municipais.
Segundo o relatório técnico do TCM, esse montante refere-se a pagamentos realizados decorrentes de empenhos feitos após o término da vigência dos contratos ou sem a devida formalização e publicação dos instrumentos contratuais obrigatórios. Para a corte, tal prática viola frontalmente a Lei de Licitações (Lei nº 14.133/2021) e o artigo 37 da Constituição Federal.
Educação e Previdência: Falhas constitucionais
Além do dano financeiro direto, a gestão de Fonseca falhou em dois pilares constitucionais sensíveis: Educação e Previdência Social.
- Mínimo da Educação não atingido: O TCM constatou que a prefeitura descumpriu o limite mínimo de aplicação de recursos na Manutenção e Desenvolvimento do Ensino, exigido pelo artigo 212 da Constituição Federal. Além disso, houve falha na aplicação dos recursos da complementação da União (VAAT) em despesas de capital,.
- Apropriação indébita Previdenciária: Em uma infração gravíssima, a auditoria identificou a ausência de repasse ao INSS das contribuições previdenciárias que foram descontadas dos servidores e prestadores de serviço. O montante retido e não repassado soma mais de R$ 1,8 milhão (sendo R$ 592.296,93 de servidores e R$ 1.236.614,18 de terceiros). Essa prática configura ofensa aos princípios da responsabilidade fiscal e regularidade da gestão.
Chuva de multas e “revelia”
A decisão do TCM aplicou um conjunto extenso de multas ao prefeito, totalizando 6.775 Unidades de Padrão Fiscal do Estado do Pará (UPF-PA). Considerando o valor de referência da unidade fiscal no estado para 2025 (R$ 4,8013), o valor total das multas ultrapassa a casa dos R$ 32 mil.
As penalidades foram aplicadas por diversas infrações:
- 1.500 UPF-PA: Pelo não repasse das contribuições ao INSS.
- 1.200 UPF-PA: Por falhas na transparência de licitações e despesas sem contrato.
- 1.000 UPF-PA: Pelo descumprimento do mínimo constitucional na Educação.
- 600 UPF-PA: Pela revelia, ou seja, o gestor deixou de atender às notificações e não apresentou defesa durante a fase citatória do processo.
- Outras multas foram aplicadas por atrasos no envio de balanços (700 UPF), restos a pagar sem fundos suficientes (400 UPF), erros contábeis (375 UPF) e abertura de créditos suplementares acima do limite legal (350 UPF).
Desdobramentos e risco de improbidade
O parecer prévio segue agora para a Câmara de Vereadores de Oriximiná, que terá 90 dias para julgar as contas do prefeito. Para derrubar a recomendação técnica do TCM pela reprovação, o prefeito precisará de dois terços dos votos dos vereadores – 10 votos, considerando que a Casa tem 15 cadeiras.
Entretanto, a situação jurídica de Delegado Fonseca pode se agravar. O TCM determinou o envio imediato dos autos ao Ministério Público do Pará (MPPA) após o trânsito em julgado.
O objetivo é a apuração de atos de improbidade administrativa, conforme prevê a Lei nº 8.429/1992, devido às graves violações detectadas, especialmente a retenção de verbas previdenciárias e os gastos sem contrato.
A prefeitura também foi notificada a adotar medidas administrativas e judiciais para garantir a execução das multas e a restituição milionária devida pelo prefeito ao erário municipal.
Analogia
Para entender a gravidade do caso, imagine que você contrata um administrador para cuidar das finanças da sua família. Ao final do ano, descobre-se que ele gastou R$ 5 milhões em reformas na casa sem nenhum contrato assinado com os pedreiros (o que impede saber se o preço era justo), deixou de pagar a mensalidade da escola dos filhos (obrigatória por lei) e, pior, descontou o INSS da empregada doméstica mas embolsou o dinheiro em vez de pagar a Previdência Social.
O TCM agiu como uma auditoria externa que, ao ver isso, não só recomendou a demissão desse administrador, como exigiu que ele devolvesse o dinheiro gasto sem contrato e pagasse multas pesadas por ter colocado a segurança financeira da família em risco.
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