Jeso Carneiro

Lô Borges e o eterno som da esquina. Por Gracilene Amorim

Lô Borges e o eterno som da esquina. Por Gracilene Amorim
Lô Borges morreu no domingo: cantor e compositor. Fotos: reprodução

O Brasil se despede de Lô Borges — cantor, compositor e um dos criadores do Clube da Esquina — falecido no último dia 02/11/2025, em Belo Horizonte. Sua partida me toca profundamente porque não leva apenas um músico, mas um símbolo vivo de uma geração que fez da amizade, da simplicidade e da música uma forma de eternidade.

Recentemente, tive o privilégio de visitar a esquina das ruas Paraisópolis e Divinópolis (paraíso e divino), no bairro Santa Tereza, em BH, onde tudo começou, a convite da amiga mineira Valéria Bontempo.

Atualmente, ao subir a rua Paraisópolis, vê-se a construção de um espaço cultural e bar que leva o nome “Clube da Esquina” — dois ambientes que nos convidam a percorrer a história e a emoção daquele grupo de jovens que, entre as décadas de 1960 a 1980, revolucionaram a música brasileira.

As paredes internas são decoradas com as fotografias e desenhos de Milton Nascimento, Lô Borges, Flávio Venturini, Beto Guedes, Toninho Horta, Wagner Tiso, Fernando Brant, e tantos outros — rapazes ainda, talvez apenas brincando de fazer música, mas já abrindo caminhos para o futuro.

No espaço cultural, há um modesto museu dedicado ao movimento, entre discos de vinil, fotografias em preto e branco, camas e instrumentos que guardam o silêncio de outros tempos. E onde sentimos a vibração de uma juventude que sonhava sem saber o tamanho do que criava.

As músicas do Clube da Esquina e suas versões continuam vivas, resistem ao tempo, e ainda hoje nos transportam às nossas próprias lembranças de juventude, de amor, de amizades. Na voz desses grandes artistas, dentre eles Milton Nascimento, aprendi a amar o Clube da Esquina. E, agora, diante da notícia da morte de Lô Borges, sinto a tristeza inevitável de ver essa geração partir, pouco a pouco.

Milton Nascimento e Lô Borges

Sinto tanta tristeza, ao mesmo tempo que também sinto gratidão por tudo o que criaram e nos deixaram — melodias que acompanharam tantas histórias de vida, tantos momentos de amor, alegria, dor e de esperança.

Esses poetas nos ensinaram que a música se faz com o coração, sem pressa, sem vaidade, com a beleza da vida. Lô Borges— um dos corações do Clube da Esquina – nos deixou o som que nasceu na esquina de Paraíso e Divino, em Santa Tereza, lugar que tive o privilégio de conhecer, reitero aqui, com o coração apertadinho.

A esquina com o seu banquinho e a placa lembrando a importância daquele lugar para a música brasileira, memórias de um tempo de plenitude criativa.

A geração de Lô Borges vai se despedindo, mas sua música é imortal: “O Trem Azul”, “Paisagem da Janela”, “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”, entre tantas e tantas…

Talvez o Clube da Esquina tenha sido mais que um movimento: foi uma celebração da amizade, da liberdade e da poesia. E Lô Borges continuará vivo em cada acorde, em cada lembrança, em cada esquina em que a vida se abre em canção.


∎ Gracilene Maria Souza Amorim Pontes é advogada; reside em Santarém (PA).

∎ Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião do JC. A publicação deles obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros, prioritariamente, e de refletir as diversas tendências do pensamentos contemporâneo.

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