Pousada
Um beijo em forma de passarinho
Pousou em minha janela, sozinho…
Como não abrir meu coração
Para esse passarinho se aninhar?
Meu coração não é gaiola
É apenas um aconchego
Um velho porto grego
À espera do navio passar…
Meu coração é ilha num oceano
De tantas Tróias vencidas
De tantas lendas perdidas
Que um dia irei contar…
Mas a ave que agora pousa
Me olha de frente, e ousa
Decantar seu canto livre
Como quem quer levitar…
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E o beijo ganha contornos
Recheados de adornos
Corpo lindo de mulher
Que me faz apaixonar…
Já não sou de mim um náufrago
Nem tampouco homem trôpego
Que o vinho deslizou
Em tantas noites sem luar…
Olho a olho de menino
Do olhar, meu desatino
Que pergunta: “Por que te amo tanto?”
Numa angústia sem parar…
E respondo a mim mesmo
Sem pestanejar a esmo
O que algum poeta já disse:
Amo por que não há como não amar…
Pois se não és a singeleza
Muito menos a pureza
Que ninguém pode querer
Nestes mares encontrar…
Mas és um pássaro ferido
Ofegante e combalido
Que precisa urgentemente
Num repouso descansar
E se te agrada o meu cantinho
Que te esquente o meu ninho
E te deixe reluzente
Pronta pra cicatrizar…
Já não espero os passaredos
Agora só vivo com medo
Desse lindo passarinho
De repente querer voar…
Porque o horizonte é lindo
E outras aves que vão indo
Sonham ter o passarinho
Com suas asas acompanhar
Mas meu coração não é cela
Como diria Gabriela
De tanto cravo e canela
Que me fez retemperar…
Meu coração é o seu ninho
Retirante passarinho
Que eu quero acolher
No meu jeito de amar…
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De Jota Ninos, poeta amazônico nascido em Belém e naturalizado tapajônico.
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