Jeso Carneiro

Talvez essa história fale sobre você. Por Felipe Bandeira

Talvez essa história fale sobre você. Por Felipe Bandeira
“Essa história tão injusta me deixou mal o dia inteiro e remoeu meu estômago”

Lembro de uma história que li tempos atrás em que um menino pobre foi desencorajado de sonhar. Ele era filho de um peão e embora sua família não possuísse posses, sonhava em ser um grande montador.

Não fosse sua imaginação, ele seria apenas um espectador de uma realidade que em tudo lhe contrariava.  Determinado a recusar os “nãos” que a vida lhe dava, ele selava seu cavalinho imaginário e saía galopando pela campina. O seu cavalo era, na verdade, um cabo de vassoura que sua imaginação havia conferido grande formosidade e força.  

Ele passeava com seu cavalo imaginário de um canto ao outro, até que um menino rico, filho do dono da fazenda, incomodou-se com a situação.

– Pare com essa besteira! Faço uma aposta com você: vamos disputar uma corrida com nossos cavalos até aquela árvore e retornamos. Se você ganhar eu te dou o meu cavalo, que é de verdade, se eu ganhar, você me dá o seu, que é de mentira!

O menino pobre, atordoado, baixou a cabeça, olhou para o seu “cavalo de cabo de vassoura”, respirou fundo e, com determinação nos olhos, aceitou o desafio.

A árvore ficava a uns 200 metros dali. O menino rico montou no seu alazão e o menino pobre também: num gesto de coragem e determinação, passou a perna em cima do “cavalo cabo de vassoura”, olhou fixamente para a árvore e se colocou em ponto de partida.

Contaram até três e assim que deram largada o menino rico apeou seu cavalo com grande destreza, cruzou a árvore e rapidamente retornou para o ponto de partida.

Passado alguns minutos, lá vinha o menino pobre, suado, ofegante e correndo aos tropeços. Assim que chegou, o menino rico se aproximou, tomou o “cavalo cabo de vassoura” e o arremessou com toda força no chão.

– Você não tem mais esse cavalo, ele agora é meu! Vá embora e nunca mais volte aqui!

O menino pobre emudeceu, encheu os olhos d’água, baixou a cabeça e foi embora.

Passado algum tempo, nunca mais se ouviu falar daquele menino nas redondezas.

Lembro que fiquei atordoado depois de ler essa história, afinal, o que aconteceu com o menino depois desse episódio? Será que ele ainda andava de cavalo?

Ele não poderia desistir!

Quem aquele menino rico achava que era para tratar assim os outros?

Essa história tão injusta me deixou mal o dia inteiro e remoeu meu estômago até a noite.

Infelizmente, histórias como essas se repetem todos os dias. No final das contas, trata-se de uma sociedade que não nos deixa nem sonhar. O futuro e as perspectivas de ascensão social das classes mais necessitadas dependem de políticas públicas, de um governo comprometido com a redução da desigualdade e também com os sonhos das pessoas.

Só não sabe a força de um sonho quem nunca padeceu necessidade de um brinquedo, de comida ou de um abraço.

Por isso, no dia 30 de outubro, temos uma grande oportunidade de voltar a sorrir e ter uma sociedade mais justa e respeitosa.

Nós podemos fazer justiça pelo menino pobre dessa história e por tantos outros que padecem de fome. Para isso, basta apertar 13 e confirmar.

O amor vai vencer o ódio!  

Felipe Bandeira

Professor do curso de Administração da Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará) e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp (Universidade de Campinas). Escreve regularmente no JC.

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