
Quando no inicio do século XX os trabalhadores fizeram a revolução bolchevique e a idéia de governo do proletariado se espalhou por Europa, Américas e Ásia, o sonho de uma nova sociedade utópica tomou conta das mentes proletárias que iniciam um embate contra o capital, unidos pela célebre frase marxista “trabalhadores do mundo uni-vos”.
Criam a internacional socialista, organizando sindicatos na indústria e no campo, nos serviços e nas estruturas do Estado. Difundem informação e mobilizam os trabalhadores em torno de reivindicações por melhores condições de trabalho e remuneração, direito à saúde, educação, seguridade, férias. A greve é o seu principal instrumento de luta.
A grande utopia desses socialistas era um dia promover uma greve geral planetária que pudesse mostrar aos donos do capital e dos meios de produção que suas máquinas, bancos e serviços nada valeriam sem a força de trabalho do operariado.
O capital, de dinâmica veloz e conectado aos avanços tecnológicos, transformou esse sonho em pó. A indústria se automatizou e robotizou, o campo se mecanizou e hoje é movido a computador, o sistema financeiro e os serviços em geral são movidos pela revolução cibernética. Milhares de empregos foram transformados em produtos de liquidação para queima de estoque.
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Prevaleceu a lógica capitalista que impera desde o século XIX: menos investimento e mais lucro.
Na segunda metade do século XX, o mundo viu o capitalismo inventar uma forma de ganhar dinheiro sem precisar investir um centavo em atividade produtiva. Criou-se o grande cassino da especulação financeira, cujo bolsas de valores são a face mais visível e os bancos os grandes operadores.
A partir dos anos 80, de uma forma mais agressiva e explícita de acúmulo de capital, a nova versão do liberalismo, agora neoliberal, avançou sobre os direitos trabalhistas e aparelhos de Estado, impondo políticas privatizantes para se apoderar de serviços geridos pelo Estado e que se caracterizavam como conquistas dos trabalhadores como educação, saúde, mobilidade e bens essenciais como energia, água, saneamento, segurança.
O mantra do Estado mínimo é repetido como regra para o desenvolvimento, o pleno emprego e a prosperidade social dos trabalhadores.
O mais visionário dos sindicalistas do proletariado não conseguiria prever que o sonho de parar o sistema capitalista seria realizado por um simples vírus de nome Covid-19.
Enquanto nada se sabe sobre ele que possa neutralizá-lo, ele se expande pelo mundo. O vírus é isonômico, não reconhece e nem poupa ninguém. Nem Estados, nem corporações, nem bolsa de valores, investimentos e negócios de toda ordem.
Ele também não aceita desaforo, que o diga o primeiro ministro da Espanha, o prefeito de Madri, o primeiro ministro da Itália, o prefeito de Milão, o primeiro ministro da Inglaterra e o presidente da França, todos unânimes em não permitir medidas de contenção óbvias e já testadas, focados na atividade econômica e na queda de arrecadação.
O vírus parece detestar a palavra economia. Ele veio para nos dizer parem e repensem esse mundo louco que criaram. fiquem em casa refletindo, não sobre o valor, mas a importância da vida.
Colocou a economia mundial de ponta cabeça. Os oráculos do Estado mínimo sumiram. Estão às portas dos governos pedindo Estado máximo. Salvem nossos negócios, preservem nossos investimentos. Enquanto empresas perdem valor de mercado e na bolsa de valores, os prejuízos são estratosféricos.
Só os Estados podem emitir moeda e jogar salva-vidas para o sistema financeiro e grandes corporações como as petroleiras, mineradoras, complexos petroquímicos, industrias e grandes conglomerados do varejo.
Só eles podem conter o descontrole social e só eles podem absorver dívidas futuras para injetar dinheiro em larga escala nas atividades produtivas e infraestrutura. E, acima de tudo, só os Estados podem cuidar das populações no caso de pandemias.
O vírus veio para desnudar as falácias do sistema capitalista e revelar a face de embusteiros e charlatões, como Roberto Justus, o velho da Havan, Ratinho, bispo Macedo e Silas Malafaia, que minimizam a capacidade de contaminação e letalidade do vírus, estimulando a população a retornar ao trabalho, às escolas e às ruas.
O covid-19 está nos dizendo que não respeita a supremacia do indivíduo sobre o coletivo e que só há uma saída para enfrentá-lo: agir coletivamente. Ir para as ruas fazer manifestação pedindo o fim do confinamento social não significa coragem ou inteligência. Resumi-se apenas em estupidez.
Sem querer defender regimes como o da China, sociedades comunistas e socialistas agora tem um diferencial de grande valor, são povos que edificaram sua sociedade em valores coletivos.
O interesse coletivo é sempre mais importante que a propriedade ou o direito individual. Estão acostumados a agir coletivamente, é um comportamento cultural. O direito à saúde é um bem universal, assim como toda a ciência da saúde esta à serviço da população e não visando o mercado.
Esse vírus não fez estragos na China, não fará na Rússia e nem em alguns países do leste europeu. Cuba passará essa crise mandando médicos para diversos países em ajuda humanitária. Como já estão fazendo Rússia e China para Itália e França.
Países nórdicos não vivenciarão essa crise como os da Europa Ocidental. Tem organização social de inspiração socialista e por lá agem coletivamente. São conquistas democráticas da população.
O vírus é igualmente nocivo para todos. E não dialoga com a estupidez e a ignorância. Comprova que o acesso à saúde deve ser um direito universal e garantido pelos Estados nacionais.
Nos alerta sobre a importância de valores como solidariedade, responsabilidade social, empatia e coletividade. Valores humanistas que ao longo dos últimos 40 anos foram sendo esquecidos por sociedades cada dia mais consumistas, individualistas, onde ser bem sucedido se traduz em acumular bens e capital.
Ele é didático e dará uma lição exemplar em dois estúpidos e insensíveis governantes, Donald Trump e Jair Bolsonaro.
Trump tentou de todas as formas manter as atividades econômicas de seu país na sua plenitude e ainda ironizou a pandemia tratando-a como uma gripe, além de agredir os chineses chamando o covid-19 de “vírus chinês”.
Teve que descer do alto de sua empáfia e arrogância e ir aos meios de comunicação pedir aos norte-americanos para que fiquem em casa, numa tentativa de neutralizar o protagonismo dos governadores que não foram atrás de suas recomendações sinistras.
Decretou sua não eleição que avança na proporção dos mortos e infectados em seu país. O vírus será particularmente agressivo nos principais colégios eleitorais americanos.
Populações com baixa informação são facilmente manipuláveis se amedrontadas por noticias falsas que instrumentalizam a religião, a moral e a segurança – seja econômica ou de mobilidade. Mas isso nada significa diante do medo da morte. E Donald Trump e seu boneco de ventríloquo Jair Bolsonaro tiraram a morte para dançar.
Bolsonaro, dentre as tantas declarações absurdas que já fez, após seu último passeio para contrariar seu ministro da Saúde, disse que o cidadão precisa enfrentar o vírus como homem e não se acovardar. Ele materializou o vírus e propôs uma briga de rua entre a população e o vírus, que além de desconhecido é invisível.
Bolsonaro se recusa a assumir a Presidência. Como um ser desconectado da realidade, continua falando para uma claquete de lunáticos. Alimenta seu ego sendo reverenciado como mito por uma legião de patéticos. Ele é apenas um homem estúpido, rude, que cultua a ignorância, armas e a desinformação. Já é um caso médico desde que foi excluído do Exercito.
Num dia ele informa que conversou com o ministro chinês e declara que está tudo bem e nada abalará a amizade e negócios entre os dois países, isso após absurda agressão feita por seu filho à China. Dois dias depois vem a público e agride o governo e o povo chinês.
Ataca governadores depois promove reunião com eles. Após a reunião, Bolsonaro e governadores convocam a imprensa e afirmam ter realizado excelente reunião, que dissipou mal entendidos e definiu soluções. No dia seguinte, Bolsonaro faz pronunciamento fazendo ataque virulento aos governadores.
Envia medidas provisórias ao Congresso que sabe conter propostas inconstitucionais. Quando o Congresso ou o STF vetam, Bolsonaro faz as suas lives insuflando seu séquito de seguidores, dizendo que esta tentando mudar o Brasil, mas que Congresso e Supremo estão dificultando.
O gabinete do ódio inunda whatsapp, youtube e twitter com postagens atacando reputações e tachando Congresso e STF de traidores da pátria.
Faz pronunciamento junto com o ministro da Saúde anunciando medidas de confinamento como prevenção ao covid-19. No dia seguinte, comparece à manifestação que pede a volta do AI-5 e a extinção do Congresso e do STF. Manifestação que ele convocou e estimulou ao longo de duas semanas.
Demonstra todos os dias sua incapacidade para governar um país complexo e de múltiplas realidades como o Brasil. Suas atitudes revelam que ele só acredita e só quer ser presidente em um tipo de regime: a ditadura. Seu gabinete do ódio promove permanentemente estado de tensão entre os poderes. Parece apostar em uma ruptura institucional.
Bolsonaro é fruto do descrédito na política, e não cabe aqui falar como começou e nem dos operadores fazendo reverberar o hino da hipocrisia nacional chamado “Combate à Corrupção”. É fruto também de uma realidade falseada por fake news difundidas via redes sociais.
Prestou um único serviço à nação: nos revelou uma espécie de gente, que como ele, alimenta idéias nazistas, odeiam a ciência e o conhecimento, cultuam a ignorância, desconhecem o que é arte e cultura são extremamente egoístas e ego centrados, não revelam o mínimo vestígio de solidariedade para com os despossuídos de recursos e oportunidades.
E esse será o maior problema do país quando essa aberração política chamada Bolsonaro for afastado do poder, que espero seja pelo voto, para que não vire vitima dos políticos corruptos, dos comunistas e do Poder Judiciário traidor da nação. Nem mártir, nem herói, apenas um equívoco cometido por parte do povo brasileiro.
Muitos, alimentados por sentimentos antipetistas, estão refletindo que urna e raiva não é uma equação perfeita. Para uns tem a psicologia, a outros a psiquiatria. Mas faltará camisa de força para viúvas e viúvos enlouquecidos, quando o pesadelo passar.
Sei que não serei ouvido, mas recomendo que desliguem por três dias o whatsap, twitter e youtube, observem o mundo ao redor, ouçam os noticiários com olhos e ouvidos atentos e escutem os que pensam diferente. Saindo dessa rede que dissemina mentiras em nome de Deus, da moral e da honestidade. Bolsonaro não é isso. Ele usa Deus, é amoral e nunca foi honesto. E caminha a passos largos para o lixo da História.
* Paulo Cidmil, santareno, é diretor de Produção Artística e ativista cultural. Escreve regularmente neste blog.
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