
Assisti à matéria do Fantástico do domingo passado, sobre as desigualdades sociais agravadas no último quinquênio no Brasil. É verdade, os 1% mais ricos do Brasil estão entre os mais ricos do planeta e, certamente, não fizeram fortunas só com heranças, inteligência e ‘espírito empreendedor’.
A História do Brasil está farta de mostrar que as fortunas são turbinadas por “benefícios sociais aos ricos” como a cobrança irrisória de tributos, sonegação sistemática de impostos, captura dos recursos orçamentários de obras, liberalidade no acesso às terras públicas e recursos minerais, privatizações de estatais à preços módicos, desvalorização da moeda nacional favorecendo setores nas exportações, esvaziamento de políticas sociais, pagamento de juros de dívidas públicas que favorecem aos banqueiros.
O Fantástico mostrou que houve, no início deste século uma guinada nas políticas de governo para diminuir desigualdades e favorecer aos mais pobres dando-lhes oportunidade de se alimentar melhor, universalizar o acesso à educação e a saúde. Houve mais, como o acesso à energia, ao trabalho, à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico.
Para a Globo, importa omitir que os anos governados pelo PT avançaram nas políticas sociais, algumas iniciadas no Governo de FHC. A emissora age na sua estratégia de guerra movida desde que o PT surgiu. A História também está aí para ser estudada. Ora, Globo é uma empresa de comunicação que serve aos interesses conservadores nacionais e dos Estados Unidos, desde sua fundação e a História também conta como isso aconteceu a partir de 1964.
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Mais recentemente, o antipetismo como fenômeno de massas resultou de uma campanha muito bem planejada e executada por muitas mãos, criando uma onda de descredibilização das principais lideranças petistas, levando um setor da sociedade a abominar o PT.
É notório que até hoje a maioria da população desconhece as revelações do jornalismo investigativo do Intercept Brasil, mostrando a parcialidade, as conduções jurídicas permeadas de interesses políticos e personalísticos da equipe da Lava-Jato e de várias acusações ao PT. A História dessa operação também já tem dados suficientes para ser contada diferente da versão da grande mídia nacional, que estigmatizou o PT como partido corrupto.
O PT tem muitos erros, como todos os partidos. Com quase quarenta anos coleciona erros e acertos. Um dos erros que me incomodam está presente na esquerda em geral, que se sente detentora única da condição de salvadora da humanidade. Vejo isso muito forte na postura do PT, do PSOL, e também bastante no passado dos Partidos Comunistas clássicos. Existem bons políticos também em partidos que não são de esquerda.
Estar no poder real levou partidos de esquerda no mundo a mudar bases programáticas ou ajustar seus rumos para governar. Governar, essa é a palavra-chave da política sobre a qual devemos nos deter.
Por que partidos fazem alianças para governar? Porque nenhum partido governa sozinho em nenhum país. Nem mesmo nos Estados Unidos, onde de acordo com a composição do Congresso, o partido da vez precisa do apoio das bancadas adversárias para aprovar projetos e tomar decisões não consensuais para o país. O presidente Lincoln mostrou isso didaticamente ao negociar e até comprar no sentido político de oferecer compensações aos adversários da Lei contra a escravidão, por um bem maior para a nação.
Governar é agregar os que apoiam e os que fazem política contra. É estabelecer objetivos que representem interesses públicos maiores que as pequenas disputas de espaços, partidos e interesses setoriais e conseguir apoios amplos às políticas de bem comum. Isso é governar em sistemas democráticos.
Trazendo a discussão para os municípios, toda prefeita ou prefeito, precisa de apoio na Câmara. O melhor é que seu partido e os aliados tenham maioria, pois assim é mais fácil avançar nos projetos.
Se a maioria da Câmara for da oposição, metade das energias do governo são para obter apoio às medidas a serem implementadas. Há oposições sem escrúpulos que engavetam projetos do Executivo, fazem chantagem, cobram espaços no governo e quantias no Orçamento Municipal, criam situações para impeachment e o fazem se não forem contentadas.
Mas, também há oposições que agem de forma ética, colocando o interesse público acima dos interesses imediatos de seus grupos e indivíduos e batalham para reverter suas desvantagens nas eleições. Não foi isso que vimos quando Dilma ganhou as eleições em 2014, no meio de uma turbulência econômica e política, em parte, fabricada pelos adversários e não foi isso que vimos no caso boliviano com Evo Morales. Não é isso que estamos vendo nos Estados Unidos, para vergonha da maioria da população daquele país, identificada com o modelo de democracia ocidental.
A política é, portanto, um campo de lutas constante, para onde miram todos os setores da sociedade organizada ou não organizada em busca da realização de seus interesses privados e públicos. É uma zona de guerra, com vários níveis de comando.
No nosso caso, a possibilidade do voto nos permite exercer um certo poder popular de escolher governantes e legislativos. Certo poder, porque sabemos que recursos e meios de comunicação não são igualitários na disputa.
Temos em Santarém a possibilidade de eleger como Prefeita Maria do Carmo, que lidera as pesquisas por uma biografia sobre a qual não tecerei comentários. Ela lidera uma coligação de vários partidos de diferentes origens que se unificaram em torno do Programa dela.
É importante que, junto com ela, seja eleita uma bancada de vereadoras e vereadores que apoiem seu programa e facilitem seu trabalho. Sem vetos como tenho visto, tentativas de angariar votos na esquerda colocando vetos ao PT.
Acho que o Psol, o PSB, o PCdoB, o PDT também precisam eleger vereadores porque assim, o campo afirmativo da política que defende os interesses populares será mais forte que os conservadores. Mas, não pode ser em oposição ao PT. Seria uma razão pequena demais. Estou em campanha pelo ex-petista e político popular admirável Edmilson Rodrigues (Psol), em Belém. Acho equívoco do PT não ter apoiado o Boulos desde o início, em São Paulo. Assim como equívoco do Psol não ter apoiado Benedita, no Rio de Janeiro.
O que importa agora é seguir a onda de reafirmação democrática e de direitos humanos que os eleitores norte-americanos cravaram nas urnas na semana passada, e derrotar os políticos ruins. Uma grande coalizão pela democracia deve prevalecer para iniciar um novo ciclo contra o fascismo que se animou nos últimos anos e contra os setores imediatistas e subservientes do capitalismo que sacrificam vidas, natureza e futuros por dinheiro.
Precisamos de pessoas ativas na defesa da justiça social, das políticas públicas includentes e de qualidade e de oportunidades novas de trabalho aos que mais precisam, principalmente, em meio à uma pandemia que afeta a todos.
Importante ver os programas das candidatas e candidatos e sua real disposição para representar a população por quatro anos, num espaço que exerce influência e pode afetar a vida da gente para melhor ou pior. Não é só ser bom de briga. É saber propor, agregar e convencer os pares para aprovar medidas.
O PT tem uma lista de excelentes candidatas e candidatos, com variadas inserções sociais, étnicas, raciais, geracionais e de gênero. Uma geração arrojada de candidatas\os emergentes, experientes e engajados em iniciativas pelo bem comum. Com bons candidatos de outros partidos, os vereadores do PT estão aptos para tornar a Câmara de Vereadores de Santarém, um espaço aberto às novas ideias e ao povo.
— * Raimunda Monteiro é professora da Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará), instituição que ela já dirigiu como reitora eleita.
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