
Tive o privilégio de assistir ao Festival Teluperê, realizado em 29 de novembro, na cidade de Almeirim (PA), quando as Cobras Norato e Caninana disputaram com arte, beleza e talento o título de campeã. Vencido pela Norato.
Evento que em sua terceira edição já é prenúncio de um futuro grandioso, não por sua estrutura, ainda precária, mas pelo excepcional material humano que realiza o espetáculo. O povo de Almeirim, me parece, ter uma predisposição para a arte.
É comovente como as cidades amazônicas vem preservando, através do folclore, histórias e lendas que habitam no imaginário de suas populações. Realizando grandiosos espetáculos que espelham sua percepção e relação com a natureza amazônica. Confirma o folclore como elemento determinante de afirmação Identitária e revela o apego do povo a sua terra, a seus costumes e tradições.
∎ Leia também de Paulo Cidmil: O folclore como afirmação identitária.
O Festival Teluperê nasce grande e logo se tornará um dos maiores eventos folclóricos da Amazônia. Se houver determinação do poder público em investir no seu desenvolvimento, viabilizando estrutura para o espetáculo e estimulando o fortalecimento das agremiações Caninana e Norato.
A população aderiu ao evento, comparecendo um grande público, participando de forma entusiasmada. Louvável também foi o respeito mútuo entre as agremiações e torcidas o que fez do festival uma agradável e mágica programação cultural.
Em um breve encontro do vice-prefeito Bruno Brilhante com o grupo de jurados, do qual fiz parte, ele nos fez um relato de como surgiu o festival, das expectativas da gestão atual, inserindo o festival em um projeto mais amplo de desenvolvimento, em sintonia com o ecoturismo e a bioeconômia pois uma das bases econômicas de Almeirim é o extrativismo e o Município abriga em seu território grandes reservas florestais.
Sem dúvida o Teluperê será importante ferramenta para divulgar o município e dar maior visibilidade no âmbito regional, expressando sua relevância cultural, fazendo movimentar a economia, gerando empregos, qualificando profissionais. Mas o momento atual é de investimento, especialmente na produção do espetáculo. Capacidade artística, componentes qualificados e garra as agremiações tem.
É preciso recursos para investir nas alegorias, criando uma base estrutural que possa ser reutilizada por três, quatro anos e recursos para um bom acabamento e maior volume das mesmas. É preciso investir nas indumentárias dos componentes e não apenas nas dos destaques. É preciso maior divulgação do Festival.
É frustrante para os artistas, desenvolverem um projeto, e ao final, ver que sua criação, por falta de recursos, de improviso em improviso, foi transformada em alguma outra coisa bem diferente do que haviam planejado.
É preciso melhorar o espaço para as apresentações, com um piso de melhor qualidade, onde evoluem os componentes. Pavimentar a área de concentração, as alegorias ficam em chão de areia, o que compromete seu deslocamento e pode causar danos as rodas, ocasionando travamentos que podem resultar em acidentes. Fazer melhorias nas arquibancadas. E em um futuro próximo, construir uma arena multiuso à altura da produção cultural de Almerim.
Fui convidado para fazer parte do júri e avaliar o desempenho das agremiações Caninana e Norato, e, muito me honrou a escolha para presidir o júri. Mas na condição de diretor de produção com alguma experiência em eventos dessa natureza, não pude deixar de observar as dificuldades que as mesmas enfrentaram para realizar seu espetáculo. Peço aqui desculpas pela intromissão.
Como jurado, é um pouco constrangedor participar de um júri onde há julgador que avalia por conveniência, tira um pontinho ou dois de cada agremiação e transfere a responsabilidade de definir o resultado para os outros jurados. Fazer parte de um júri não é fazer política de boa vizinha e nem subir em cima do muro. É usar os critérios do regulamento, ter conhecimento sobre arte, folclore e cultura popular.
O Festival Teluperê é um embate onde há cinco quesitos coletivos e sete individuais em disputa. É inadmissível, um jurado, ao julgar quesitos individuais, distribuir 14 (quatorze) dez. Isso só deveria ocorrer em uma excepcionalidade, problema de saúde como um mal súbito, com o jurado já em seu posto de julgador. O dez viria por força de regulamento.
Por melhor que sejam os artistas e suas performances, e no caso, todos os quatorze artistas são muito talentosos, há questões como coreografia, indumentária, comunicação, que os diferenciam, em uma avaliação comparativa, pode ocorrer e ocorrem perda de pontos.
Dar a mesma pontuação a todos os itens (inclusive concordo que a maioria é merecedora de um dez), é desrespeitar as agremiações, os artistas, a coordenação do Festival e o público, que não é trouxa e também faz seu julgamento.
Sugiro que a comissão repense o regulamento e deixo como sugestão que a banca de jurados não seja dividida em itens individuais e coletivos. Que todos os jurados avaliem todos os quesitos e que o empate, caso ocorra, seja resolvido pelos quesitos em disputa, previamente sorteados.
Outra sugestão é que as agremiações apresentem uma composição representativa da agremiação e tema do ano, para ser avaliada conjuntamente com a empolgação das torcidas, como um novo item de conjunto. Também poderiam explorar outros ritmos regionais. O vizinho Amapá é uma rica fonte de ritmos ancestrais.
Almerim tem localização excelente, por via fluvial está a 302km de Santarém, 425km de Macapá e a pouco mais de 530km de Belém. São cidades aonde todos os envolvidos com o Teluperê poderão intercambiar experiências produtivas e enriquecedoras para o evento.
Torço que políticos com sensibilidade e apreço à cultura, nesse ano eleitoral, destinem ao Teluperê emendas parlamentares em valores substanciais capazes de melhorar a infraestrutura da Arena e oferecer melhores condições materiais as agremiações, para a grandeza do espetáculo.
O êxito do Festival é incontestável, a beleza do espetáculo é contagiante, a cidade abraçou o projeto e a cada ano a paixão pelas agremiações se ampliará regionalmente.
Sou grato pelo convite e acolhida a mim concedida pela coordenação e equipe organizadora do festival.
⚀ Paulo Cidmil (*) é diretor de produção artística e ativista cultural. Santareno, escreve regularmente no portal JC. Ele está no YouTube e no Instagram. Siga-o nessas plataformas! Leia também dele: Após a vitória envergonhada, Zé enfrenta a hidra de 7 cabeças. E ainda: Protagonismo amazônida.
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