
As professoras Aldenize e Solange (Chapa 1) saíram vitoriosas nas eleições para a reitoria da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), confirmando a consolidação de um projeto político-acadêmico que se fortaleceu nos últimos anos.
O pleito não se limitou ao ato de uma escolha administrativa, mas representou um momento de reafirmação institucional, de disputa de visões sobre o papel da universidade pública na Amazônia e de avaliação concreta de gestões anteriores.
Faço aqui, ainda que de modo preliminar, algumas reflexões sobre esse processo. Antes, gostaria de destacar que, nas duas últimas eleições, não apoiei o grupo político de Aldenize. Contudo, os anos de sua gestão, em particular, provaram que ela é uma gestora competente e que preza pelo respeito às instâncias colegiadas, cultivando valores democráticos. Por essas razões, apoiei publicamente a chapa Aldenize-Solange, reconhecendo nela a maturidade política e administrativa necessária à continuidade do desenvolvimento institucional da Ufopa.
Com o resultado dessas eleições, pode-se afirmar que Aldenize consolidou o terceiro grupo político a dirigir a universidade.
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Esse processo resultou da reorganização das forças progressistas e da afirmação do caráter popular, interiorizado e territorializado da Ufopa. Isso foi um ganho político, pois não eram elementos dados na época em que foi vice do professor Hugo Diniz. Ela, portanto, conseguiu imprimir à sua gestão uma marca própria, ancorada na escuta, na valorização da diversidade e na convicção de que a universidade precisa dialogar com os territórios que a sustentam.
O primeiro ciclo de gestão de reitores, sob o reitor pró-tempore Seixas Lourenço, foi marcado por fortes tensões com a comunidade acadêmica. Sua gestão permaneceu amarrada a uma política centralizadora, com limitada participação da comunidade universitária. O segundo grupo, liderado pela professora Raimundinha, buscou reconstruir pontes e pacificar o ambiente institucional, mas sua gestão terminou sendo percebida como de poucos resultados efetivos, sobretudo nas áreas de infraestrutura e consolidação institucional da Ufopa.
Por fim, o grupo de Raimundinha terminou por se fragmentar e abrir espaços para novas dinâmicas na universidade. Foi nesse contexto que emergiu o terceiro grupo político, inicialmente com o professor Hugo e agora consolidado com Aldenize. Diferente de seus antecessores, essa vertente apresentou matizes significativas no campo da política. No entanto, pode-se dizer que Aldenize reconfigurou à sua maneira o grupo político que incialmente foi aglutinado em torno do professor Hugo.
Foi uma gestão que oportunizou o encontro de perspectivas para as pessoas que haviam se decepcionado com as gestões anteriores, ao mesmo tempo que incorporou novos atores que passaram a vivenciar a Ufopa pós-2016, período em que se inicia o novo ciclo de gestão na universidade.
Os resultados da eleição de 2025 confirmam essa trajetória. Entre os docentes, Aldenize e Solange conquistaram 66,46% dos votos, contra 33,54% de Edilan e Jarsen, uma vantagem expressiva que consolida sua figura de liderança.
Esse apoio ganha ainda mais relevância quando se considera que o corpo docente é um segmento heterogêneo, composto por núcleos e agrupamentos distintos, formados por diferentes campos do conhecimento, trajetórias acadêmicas e tradições políticas internas. Essa heterogeneidade costuma tornar o voto docente mais disperso. Assim, o expressivo resultado entre os professores indica que Aldenize e Solange conseguiram transcender clivagens históricas e reunir apoios entre grupos diversos, demonstrando capacidade de diálogo e de construção de consensos.
Entre os técnicos administrativos, a disputa foi mais equilibrada: 52,73% para Aldenize/Solange e 47,27% para Edilan/Jarsen. A pequena diferença expõe um setor dividido e mais sensível às questões trabalhistas e de valorização profissional.
Compreendo que parte desse problema decorre da desvalorização da carreira dos técnicos em educação – um problema estrutural da categoria – que ano após ano sentem na pele a desvalorização salarial, somada à intensa rotina de trabalho. Esse problema reverbera dentro da Ufopa e produz tensões que precisam ser melhor administradas pela gestão superior.
Ainda assim, a vitória da Chapa 1 nos diz algo: indica que houve diálogo e reconhecimento dos avanços obtidos em termos de condições de trabalho, estrutura administrativa e qualificação. O desafio, daqui em diante, é aprofundar políticas de formação e ampliar espaços de decisão compartilhada.
Já o segmento discente teve papel determinante. Com 63,56% dos votos, os estudantes demonstraram nítida adesão às propostas de Aldenize e Solange. Essa escolha pode ser entendida como resposta à manutenção e à ampliação de políticas de assistência estudantil, de permanência e interiorização multicampi. Em uma universidade localizada em região de forte vulnerabilidade social, tais políticas se traduzem em pertencimento e oportunidade, elementos que pesam fortemente na percepção discente.
O engajamento estudantil reforçou o caráter democrático do processo eleitoral e evidenciou a capacidade da Chapa 1 de dialogar com a juventude universitária. Ao articular discurso político e escuta sensível, Aldenize e Solange se mostraram atentas às novas demandas do corpo discente – por assistência estudantil, inclusão territorial (multicampi), sustentabilidade e protagonismo estudantil – consolidando uma base de apoio ampla.
Somando-se os três segmentos, observa-se uma vitória transversal e consistente. Aldenize e Solange conseguiram superar as clivagens típicas das eleições universitárias, construindo consensos entre docentes, técnicos e estudantes em torno de um projeto comum. Essa coesão é sintoma de maturidade política e de confiança institucional. Contudo, a amplitude do apoio traz consigo o desafio de manter a escuta ativa e incorporar críticas legítimas, evitando o risco da autossuficiência.
O desafio agora é transformar essa legitimidade nas urnas em energia política para enfrentar os desafios futuros (orçamentários, acadêmicos e sociais) que a Ufopa e a Amazônia colocam à esta altura de sua história.
∎ Felipe Bandeira é docente do curso de Gestão Ambiental – ICTA/Ufopa. Economista (Ufopa) e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp. Leia também dele no JC: Governo Lula, mercado e responsabilidade social e Lula venceu as eleições: o debate sobre o seu programa econômico. Além de Talvez essa história fale sobre você.
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