Enchente e efeito estufa na Amazônia

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Réplica do professor doutor Manuel Dutra ao post Amazônia, ciclos e catástrofes, da lavra de Caetano Scannavino:

Caro Caetano, aprecio as coisas que você escreve e aprecio mais a forma de suas concordâncias e discordâncias, embora você não tenha o perfil nem de membro dos clubes de mútuo elogio nem dos partidários do “soy contra” qualquer coisa. Se você tivesse optado pela carreira diplomática, o Itamaraty e o Brasil estariam bem servidos.

Ainda hoje eu estava pensando que algum estudo sério deveria resgatar as medidas históricas de cheias e vazantes, pois aqui no porto de Santarém elas foram modificadas abusivamente nas últimas décadas.

Quando leio que o Tapajós está a tantos ou a quantos metros ou centímetros acima ou abaixo do ano tal ou qual, pergunto-me quais os parâmetros dessas afirmações, pois durante muitos anos, quando eu morava em Santarém, nós reportávamos esses parâmetros com base numa régua instalada e mantida pela Secretaria de Agricultura do Pará no Trapiche velho, onde hoje está aquele centro turístico.

Por exemplo, naqueles tempos, quando no porto de Manaus a régua de lá marcasse 8 metros, isso poderia significar que o Rio Negro estava baixo. Se, ainda como mero exemplo, no porto de Santarém marcasse a mesma medida, poderia ser o contrário, o Tapajós estaria muito alto.

Então, precisamos encontrar uma forma científica e prática de fazer essas verificações, a fim de buscarmos uma coerência entre as medidas realizadas hoje com aquelas do passado. Digo isso porque você alude a cheias e vazantes de há 50 anos, como foi a 1953, tremendamente devastadora no Baixo Amazonas.

Indo bem mais longe, séculos passados, precisamos tirar a prova dos nove sobre a hipótese de que o povo tupaiú ou os tapajós, que aqui viviam, efetivamente utilizavam técnicas de conservação de alimentos, especialmente proteínas e derivados de mandioca. A mim parece que a hipótese é verdadeira e, se de fato for, estaria provado que a Amazônia não é nem nunca foi um permanente paraíso de fartura de que tanto se falou em certas épocas.

Se a conservação de alimentos foi uma prática comum no passado é porque havia períodos de escassez, muito provavelmente associados a períodos de grandes enchentes ou de grandes vazantes. Logo, raciocinar sobre apenas meio século será muito pouco, embora válido.

Para resumir, já que se trata de tema tão rico, refiro-me a um certo fetiche do catastrofismo, sobre o qual tenho um estudo interessante, com base em notícias de jornais dos USA.

A Amazônia parece que, nas últimas décadas, passou a ter as costas largas e a carregar o peso dos pecados do mundo. Jamais eu disse nem contradisse que as mudanças climáticas passem ao longe desta região, no entanto, analisar os fenômenos naturais, com seus reconhecidos ciclos, como tão somente derivados de coisas como o efeito estufa, por exemplo, parece-me um reducionismo contraproducente.

Um abraço, Manuel Dutra


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One Response to Enchente e efeito estufa na Amazônia

  • “Santarém, a Veneza da Amazônia?”
    É triste imaginar que nossa Pérola do Tapajós, materializada na bela cidade de Santarém, venha pela sua posição geográfica e força da natureza que lhe foi tão generosa proporcionando tamanha beleza, vir nas próximas décadas perder esse dom natural. Santarém que tanto inspira poetas e compositores nas poesias e canções encantando turistas de várias partes do Brasil e do mundo pelo charme de sua Orla e praias, na figura romântica e bucólica da “donzela” disputada por dois grandes rios; Amazonas e Tapajós, possa ser vítima natural desse confronto de forças hídricas imensuráveis e arrasadoras.
    Olhando uma imagem de satélite da região dos lagos e várzeas, próximo à Santarém, verifica-se que o rio Tapajós até Itaituba é uma grande represa natural. Secções transversais de batimetria mostram sua calha primitiva em talvegue acentuado no centro da área hoje expandida, contido por uma frágil restinga na estrutura geológica de um “septo divisor” de águas, transversal ao seu curso (Ponta Negra). Já o seu antagonista rio Amazonas passa paralelo a essa restinga, formada pela sedimentação areno-argilo-siltosa transportadas pelos caudalosos fluxos dos próprios rios que com o encontro e equilíbrio de suas forças, há centenas de anos formaram essa porção de “teso de várzea”, uma espécie de delta, delimitado entre o canal do Arapixuna que funciona como um sangradouro do rio Amazonas para o Tapajós, e a nossa poética Ponta Negra que se projeta como uma “proteção natural” para a cidade de Santarém em seus níveis fluviométricos, como os “recifes” de quebra mar em algumas cidades litorâneas do Brasil.
    Com o material do fenômeno amazônico das “terras caídas”, transportado pelo rio Amazonas, geologicamente considerado um rio novo, esse material forma as também ditas “terras acrescidas” surgindo ilhas no meio do rio como a “Ilha do Meio” em frente à Santarém próxima à Ponta Negra. A formação sedimentar dessas ilhas bloqueia a passagem livre do rio Amazonas, elevando seu nível hidrológico histórico, forçando sua forte correnteza contra os barrancos laterais da margem direita do rio que aceleram o fenômeno de “terras caídas”. Provocando desmoronamentos acelerados como o ocorrido recentemente nas Comunidades de Aninduba e Urucurituba na região do Arapixuna, causando preocupação e prejuízos aos moradores daquela área. Tudo num processo cíclico dinâmico e irreversível.
    Se esse fenômeno continuar progressivamente nessa proporção, logo essa “restinga” (Ponta Negra), desaparecerá totalmente por desmoronamentos intermitentes pelo lado do rio Amazonas que passando sobre essa proteção rebaixada, e bloqueado no seu canal natural por novas ilhas, tenha seu fluxo alterado redirecionando seu grande volume de água ao encontro direto da Orla de Santarém e ao fluxo do rio Tapajós e Arapiuns, criando-se um represamento hídrico na soma dessas três forças convergentes e aglutinadas em suas desembocaduras, elevando os níveis dos três rios nesse “ponto chave” formando uma grande “baia” levando perigo a navegação, além de inundar várias comunidades de várzea e as primeiras ruas da Orla de Santarém, acredito até a Rua Silvério Siroutheau, transformando Santarém na “Veneza da Amazônia”. Que passaria a ser banhada pelo rio Amazonas e não mais o Tapajós…
    Hoje já enfrentamos a evolução desse problema, assim como o possível desaparecimento da paradisíaca praia da Ilha do Amor em Alter do Chão, que já sofre um rebaixamento de nível progressivo pelo pisoteio humano. Fato que certamente seria um desastre para o turismo local. Nessa dinâmica, o Amazonas pelo seu grande volume hídrico adentrará no Tapajós até as proximidades de Pindobal, e o majestoso “Encontro das Águas” seria transferido para este local e na confluência da foz do rio Arapiuns. Isso sem falar na construção das hidrelétricas previstas à montante do rio Tapajós, que só agravaria essa situação. Uma prova que o rio Amazonas já adentra no Tapajós, são resquícios acumulados de material argiloso em frente à praia de Ponta de Pedras, chamada de Ilha Ponta Grande. Formada com material carreado do rio Amazonas pelo canal do Arapixuna, que já foi bem maior inclusive com vegetação de porte, onde se criava gado bovino, e hoje praticamente desapareceu pela ação cíclica da natureza.
    Estudiosos do assunto e autoridades políticas, deveriam tomar medidas preventivas frente à possibilidade desse fenômeno desastroso. Elaborando desde já um estudo criterioso e científico com modelos reduzidos, para que medidas preventivas sejam tomadas ante esse eventual desastre natural. Evitando-se o pior ou pelo menos minimizando sua magnitude para a conservação da integridade físico-geográfica do patrimônio infraestrutural urbano, turístico e natural da cidade de Santarém e do nosso município.
    Uma das medidas a ser tomada. Seria a remoção imediata de algumas ilhas, visando à desobstrução da calha natural do rio Amazonas por meio de detonações ou dragagem no período de sua cheia, para que a força do fluxo de suas águas ajude nesse desmonte e carreamento do material removido. Antes que essas formações de ilhas se agigantem por sedimentação agregadora e a vegetação peculiar a esses biomas se prolifere, tornando-se impossível de serem removidas.

    David Marinho – Gestor Ambiental

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