por Jackson Fernando Rêgo Matos (*)
Passado 1 ano do plebiscito que marcou a historia contemporânea do Tapajós e 470 anos da primeira viagem que inaugura a historia moderna da Amazônia, a região é objeto de alguns projetos polêmicos e contraditórios, dentre os quais se pode destacar:
1) o asfaltamento da BR-163, que liga Santarém a Cuiabá, quase nunca concluído;
2) a instalação do entreposto para exportação de soja vindo do centro sul do Brasil e possível ferrovia, com um minúsculo bosque da Vera Paz para o povo;
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3) a eleição da região como área prioritária para de implementação do ecoturismo;
4) a luta pela criação do Estado do Tapajós, hoje com campanha de assinaturas para instalação na Câmara Federal em Brasília de projeto de lei de iniciativa popular (PLIP);
5) Construção de 7 barragens no rio Tapajós para instalação de hidrelétricas. Esses projetos irão atingir o coração da floresta Amazônica e influenciar na qualidade de vida de milhares de pessoas que vivem neste lugar recém descoberto pelo Acelera Brasil.
A cultura engloba tanto aspectos materiais como imateriais, se encarnando na realidade empírica da existência cotidiana, e na reprodução das relações sociais (Menezes,1996). Podemos apontar o Tapajós hoje, com seus problemas e atualidades como possível, lugar de encontro, diálogo e relação da modernidade com a tradição, sem que haja a desqualificação de uma pela outra.
Práticas compatíveis com essa perspectiva necessitam não ser cegas para a etno-história e para as manifestações que compõem o imaginário das populações locais. A formação cultural caboclo/ribeirinha da Amazônia e sua relação com o meio ambiente, são elementos vivos do tempo na região do Tapajós e trazem a luz da ciência, ações e formas relacionais que não podem ser desprezadas.
À luz do dia 11 de dezembro de 2012, quando o Tapajós completou o primeiro ano de um plebiscito que legitimou de fato uma vontade popular de transformação do mapa do Brasil e da Amazônia, faz-se mister refletir que a colonização da bacia amazônica continua com as mesma estratégia de saque e exploração, apenas transvertida com o ar da modernidade.
A mesma fé cega que não conseguiu abraçar a integridade do outro, continua em nome de desenvolvimento a todo e qualquer custo, com invenção de novas técnicas que engole a lei e dá cartas brancas ao capital exógeno, que chega oferecendo novos sonhos de luxo, mais desconsidera a própria alma e identidade deste lugar abençoada, chamado ainda Tapajós que quer continuar vivo.
Que nossa Senhora, padroeira dos santarenos, proteja sempre os sonhos de todos Tapajoaras e a M`boia continue protegendo o homens que faz o bem e devore réu que é mal, como na canção Kalundu da M´boia de Maria Lidia.
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* É professor doutor do IBEF/Ufopa e membro fundador do IHGTap.
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