O assassinato de Jéssica e Mauro – III

Publicado em por em Artigos, Segurança Pública

por Apolinário (*)

Mauro ficou anestesiadamente pálido quando os micróbios perguntaram por Jéssica:

– E aí, playboy, cadê a gatinha?

Sem responder, Mauro apenas esboçou um riso negativo e ficou estático. Os micróbios logo se desinteressaram em ficar ali. Dois ou três deles alertaram o grupo da pressa que tinham de chegar a uma embarcação que estava ancorada na praia do Tauá, localizada ao lado esquerdo de quem sobe a serra. Eles tinham ido à praia apenas para pegar umas paradinhas para fumar que haviam deixado guardado em uma árvore na ponta da praia da Ilha do Amor.

Leia também:
O assassinato de Jéssica e Mauro – II.
O assassinato de Jéssica e Mauro – I.

Deviam voltar rápido, pois estavam sendo esperados no barco por algumas pessoas com quem iriam fazer uma comemoração (os malucos que haviam chegado de Floripa com uns brinquedos diferentes), por isso deixaram Mauro para trás e entraram mais à frente em direção ao destino programado.

Jéssica, que se encontrava um pouco fora do caminho onde pediu um momento para tirar o biquíni molhado que lhe incomodava e fazer xixi, voltou só de short e blusa para a beira da estrada junto a Mauro. Ambos andaram mais dez metros, continuando a viagem ao topo da serra. Jéssica pegou o celular e mandou uma mensagem para Wancley: “Tô subindo a serra!”.

Neste momento, uma galerinha interagia tudo de maneira particular; jovens mirrados, moradores da vila, que na maioria das vezes está por ali com os micróbios fumando, bebendo, filosofando e procurando coisas perdidas ou fáceis para se apropriarem, qualquer coisa que venha contribuir com a adrenalina, provocar sensações diferentes, mexer um pouco mais com as peças do sistema.

São garotos mal vistos na vila, rejeitados pelas garotas certinhas, aceitos somente pelas vampiras, questionados constantemente pelos caretas, religiosos, educadores e pelos próprios pais, que aos poucos foram sendo discriminados e rejeitados pela força moral catequisada dos borari. Acolhidos pelas drogas e pelos caminhos incertos e obscuros dos labirintos da vida.

– Que legal, moleque… essa parada é muito doida…

O homem é uma construção que não deu certo, porque Deus não desenhou antes de fazê-lo. Mas exige que o homem faça sozinho o seu próprio projeto de existir e ser. É aí que mora o perigo. Nem todos terão a noção de limite.
Assim, a galera dos meninos da vila pegou Jéssica e Mauro igual a dez gatos quando põem as garras em duas borboletas sem asa.

Um banquete de gritos, correria, pauladas, facadas, sexo, muita adrenalina, desejo, tesão e orgasmo. Foi muito bom e prazeroso para eles sentirem de perto o sangue quente de Jéssica e Mauro espirrar nas suas direções. O que neste momento era terror, assombração e morte para Jéssica e Mauro, para os garotos era apenas liberdade de expressão, uma resposta para algumas mágoas, amor e até, quem sabe, vontade de Deus. Quando o poder é pouco para decidir a sobrevivência de alguém, se decide a morte de outro.

Depois do ritual, a galera dos meninos da vila dos borari arrastou os corpos de Jéssica e Mauro um pouco mais para dentro do mato para que não fossem vistos com facilidade. Livraram-se das armas e foram lavar o sangue dos dois nas águas do rio Tapajós.

Por volta das vinte horas, Seu Luís e Luísa, tio e prima de Mauro, começaram a entrar em desespero. Os celulares estavam fora da área de serviço o tempo todo, a preocupação foi se ampliando a cada segundo que o tempo passava.

Segunda-feira, dia 22 de outubro, o grito de alerta foi dado. As buscas começaram. O subtenente Washington, do Corpo de Bombeiros, atuou diretamente nas buscas, procurando centímetro por centímetro das praias, lagos, trilhas e mata a dentro, até que na terça-feira, dia 23, aproximadamente às 13 horas, os corpos de Jéssica e Mauro foram encontrados na estrada da serra em adiantado estado de putrefação.

O delegado Silvio Birro não pode ficar em Santarém porque tinha agendado um compromisso em Manaus, e depois tinha que viajar ao Paraná a assuntos de sua capacitação policial. Mas a sua equipe de investigadores, que é a melhor do oeste do Pará, assumiu o caso e o delegado ficou dando assistência via telefone ou e-mail, sempre que havia possibilidade.

Birro não é subordinado à superintendência. Ele recebe ordens diretamente de Belém. Nessas circunstâncias, ficou certo que sua equipe faria as investigações, mas outros delegados ganhariam a mídia dos resultados na imprensa. Na verdade, Silvio Birro é um delegado que não se preocupa com mídia. Essa equipe só trabalha com casos graves. É a elite da Polícia Civil de Santarém.

Quando os investigadores viram os corpos no local do crime, tomaram nota de todos os acontecimentos e movimentos em volta da performance dos criminosos e da trajetória das vítimas, de onde saíram até o local onde foram mortos. Encontraram o celular de Jéssica desmontado, mas ainda assim dava para ler as últimas mensagens recebidas e efetuadas.

A última mensagem enviada por Jéssica foi para o celular de Wancley – “to subindo a serra” – por isso, ele teve o seu aparelho retido na delegacia por alguns dias. O caseiro de uma chácara que fica perto ao local do crime foi interrogado e disse não ter ouvido som de tiro na área. O lugar é bastante silencioso, se alguém tivesse atirado, ele teria ouvido o disparo.

A perícia diz que um ferimento na cabeça de Jéssica, que parece com um furo de arpão, é de tiro e, possivelmente, calibre 22, mas não acharam o projétil e nem fizeram raios-X, alegando que o corpo de Jéssica tinha mau cheiro. É natural, Jéssica já teria passado da fase de estar cheirosa e maquiada para fazer o exame, isso faz parte da vaidade do mundo dos vivos.

A imprensa santarena acatou a tese de que o crime era passional: marido ciumento teria mandado matar a mulher e o amante. Alguns diziam que se tratava acerto de contas por envolvimento de Jéssica com traficantes, acusaram-na de ser avião (pessoa que negocia a droga entre o traficante e o usuário). Alguns blogs mostraram a imagem dos corpos com os golpes e a nudez de Jéssica banhada em sangue, jogada no mato.

Os policiais da equipe de Silvio Birro chegaram à conclusão de que o crime era muito extravagante para ter sido feito por profissionais, que se tivesse arma de fogo, com a mesma extravagância com que cortaram e furaram, teriam dado mais tiros, inclusive em Mauro (a perícia não prova que houve tiro).

Jéssica e Mauro tinham o perfil físico que os assassinos queriam para se divertir. O crime foi por impulso de crueldade. Na vila, que preferia que o crime fosse passional, diziam: “O crime veio de fora, não temos nada a ver com isso!”. Agora sabem que o crime foi também pela falta de segurança e preocupação com o bem-estar dos visitantes.

Com a prisão e a confissão arrancada dos suspeitos, vai ficar muito mais difícil conviver com a ideia de que a própria vila está matando os seus visitantes…

Obs.: no próximo e último episódio deste caso, mais detalhes sobre as investigações, prisão e confissão dos acusados.

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* Santareno, é artista plástico e articulista deste blog.


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25 Responses to O assassinato de Jéssica e Mauro – III

  • Cara vai procurar o que fazer, você tem certeza de que ela era envolvida do drogas? Quer ser jornalista vai estudar e aprender que você não pode sair falando coisas da tua cabeça. Vê se para o falso jornalista

  • PARABÉNS APOLINÁRIO
    Certamente se você não colocasse este crime no foco das discussões dos últimos dias ele seria esquecido. No mundo inteiro o que faz a polícia e por sequencia a justiça funcionarem é o poder da imprensa, e principalmente pessoas corajosas como você Apolo – a maioria dos militantes da imprensa são medrosos e são apenas informantes comuns da notícia, mas nesses casos de grave perturbação a ordem pública e social, só os corajosos, gente destemida que nem você é quem faz a diferença.
    Outra coisa, dentro da Polícia e como qualquer instituição, seja privada ou não, a vaidade entre colegas é algo comum, digo isso se tratando do Delegado Sílvio Birro, pois estive acompanhando de perto esse episódio de Alter do Chão, e sei que os méritos do desdobramento final, com certeza, foi do Delegado Sílvio Birro e sua equipe que nem é subordinado a esta Superintendência, mas o que a gente viu na tevê foram outras pessoas nos holofotes da mídia se vangloriando pelo sucesso das prisões dos ratos de praia de Alter do Chão.
    Tem uma outra coisa, que quero questionar também com você: olhando os que foram presos, dá para perceber que havia um líder maior, um ou dois, ou três, que comandava essa tal ‘Facção Alter’ e para mim não é gente da Vila e muito menos de Santarém. Para mim essa molecada estava sendo comandada por gente de fora que já se mandou e dificilmente vão alcançá-los.
    O que você acha disso?

    Aguardo sua resposta: Um abraço – Nelson Vinencci

    1. Caro Nelson, a cena do crime mostra claramente que as vítimas foram escolhidas pelo sorteio do acaso. Qualquer casal que naquele momento passasse por ali e a mulher tivesse a mesma formosura de Jéssica seria a vítima (se fosse um casal de gringos, loirinhos de olhos azuis, isso mudaria, pelo complexo de inferioridade do povo da vila). Com certeza não existe um mandante ciumento.

      Quanto à vaidade da polícia e a incompatibilidade de gênio entre seus servidores, isso é normal. Na Polícia Civil de Santarém sempre houve esse tipo de coisa, mas o delegado Silvio Birro é uma exceção: é honesto e não faz jogo sujo. Na opinião dele, só existe o tiro se houver a bala, o que se torna problema pra quem está na mídia do caso, como plantar essa arma para defender a tese da perícia que não tem a bala, que não fez o raio-x, que não tem nada?

      Nelson, você vai entender melhor esse mundo de polícia e bandido quando o blog do Jeso publicar a história do assassinato do seu irmão, contada por mim.

      Ah! uma pergunta, Nelson: o delegado Silvio Birro esteve neste caso (morte de seu irmão), foi a Oriximiná para dar início às investigações e solicitou a exumação do cadáver. Por que sua família não permitiu que fosse feita?

  • O homem é produto do seu proprio meio, logo, quem poderia imaginar que na vila de alter do chão,aonde acontece o saire, o borari, a disputa dos botos, um dos melhores carnavais do Para, comece a dar lugar a criminalidade, sendo que tais criminosos são legitimos filhos da propria comunidade.Esses como disse oApolinario, só foram descobertos pelo faro apurado da policia, que quando quer faz.Cuidado quando for em Alter do Chão.

  • Nessa “Terceira Versão” do mesmo conto o Apolinário insiste na teoria do crime de dentro. É aí dispara com essa frase a efeito: …. “vai ficar muito mais difícil conviver com a ideia de que a própria vila está matando os seus visitante”.

    Ou seja: a própria Alter do Chão estaria matando seus visitantes. Nesse caso, uma ganguesinha de “sádicos e torturadores”, alguns deles menores de idade.

    Pelo jeito Apolinário tem algum interesse em descartar a possibilidade que o crime possa ter sido “encomendado”. E que a “ganguesinha” só foi a mão de obra.

    Vamos torcer que a Policia não entre nessa….. Que possa pegar sim os “graúdos” que encomendaram esse crime.

    Tiberio Alloggio

  • Esse cara tá surtando, coloca nomes de pessoas reais,identificando-as, em um conto de ficição policial.Apolinário, vá pintar seus quadros que você lucrará mais.Agora, ficar querendo dar uma de escritor, você não tem cacoete para isso.

  • Esses moleques se morassem em país desenvolvido ficariam eternamente na prisão já aqui no subdesenvolvimento daqui a pouco sairão. São todos psicopatas de marca maior os requintes de crueldade demonstram isso.
    Não é culpa de ninguém nasceram assim doentes mentais frios.
    Uma vez vi uma entrevista com uma psiquiatra que dizia que 1% na média da população é psicopata, já nasce assim, se temos 300 mil habitantes na média são 3000 psicopatas capazes de qualquer coisa para conseguir seus objetivos, essa é a realidade. Infelizmente. E na política tem um bocado.
    Matam sem compaixão, só que indiretamente, como nos postos de saúde, desviando recursos financeiros. É pesado, mas é a realidade que precisa ser esclarecida para a população.

  • esse cara mesmo não tem o que fazer do gastar seus pobres neurônios em criticar e confundir uma caso tão sério como esse, não esqueça meu querido que existem familias que sofrem pela perda do casal, pais e mães com corações partidos. pare de querer ficar aparecendo via sofrimento alheio, deixe que a policia faça sue papel. e outra trate de cuidar de suas pendências na vida que com certeza não devem ser poucas

  • Esse Apolinário não serviria nem pra contar historias infantis para meus filhos… kkkkk
    Me divirto com as publicações! Cade a credibilidade desse Blogueiro?

  • Primeiro o Apolidoido aponta uma coisa, no segundo capitulo aponta outra e coloca a culpa no hippies imundos que vivem em alter, e por fim, depois do caso ser elucidado e apresentado a população santarena, o Forrest Gump: O Contador de Histórias, muda sua “historinha” e aponta para um gangue de micróbios!! Paciência meu caro, crie uma historia unica e não 3 versões diferentes, tomando como base o que a imprensa fala. Assim ate eu…

  • Apolinário vc está certo, o que nós precisamos e de mais segurança, policia eficiente, e não esses come e dorme de alter do chão, já não basta o preço exorbitante cobrado pelos barraqueiros, eu hem nem pensar.

  • RIDICULOOOO!!!! ATÉ QUANDO VOCES VÃO CONTINUAR COM ESSA PALHAÇADA???? MAIS RESPEITO COM A FAMILIA!!!!! PELO MENOS COLOCASSE NOMES FICTICIOS, MAS NÃO, FICA FAZENDO “HISTORINHA” DE CASO SERIO!!!!!!!

  • O Apolinário não deve conhecer o trabalho da polícia civl, pois a equipe de expediente da seccional, comandada pelo investigador Hélio, resolve 50% dos casos investigados aqui, e não é por isso que vamos dizer que eles são os caras, até porque as informações muitas vezes partem de colegas que trabalham nos plantões, vale ressaltar então que não é a equipe A, ou B, e sim o time da PC que é forte, é umk conjunto de informações que faz a coisa andar, é claro que a equipe do DPC Silvio é muitíssima competente, assim como os demais, e não foram só as equipes do Silvio, do Hélio ou a da superintendência (Charles), que se empenharam nesta investigação, mas também policiais de outras cidades do oeste, assim como os de alter do chão, então a prisão dos “micróbios” como diz o Apolinário, não foi vitória para A ou B, e sim da sociedade, que é merecedora de viver em paz neste paraíso chamado Santarém.

  • Todos são elite: A revista Veja(ediçaõ outubro 2011, não recordo o dia) elegeu a Polícia Civil em Santarém como a mais preparada do País devido ao alto nível de seus Investigadores. No caso dos crime de HOMICÌDIO, a elucidação gira em torno de 98% dos casos, estando a frente da média dos EUA( Estados Unidos da América). Além disso, o Investigador Anderson Almeida, representou a Polícia Civil do Pará para ganhar prêmio Internacional em Curitiba onde recebeu uma condecoração concedida pelo F.B.I ( Polícia Federal Norte Americana) pelo fato da PCPA está dentro dos moldes de investigação e análise da cena de crime ao perfil do criminoso( site de busca para maiores detalhes sobre a matéria) onde concorreu com todas a Polícias Civis do Brasil. Por esses e outros motivos, a população santarena está bem servida de Investgadores competentes e dedicados.

  • A polícia civil vai dizer sabe o que sobre esse outros assassinatos na vila de alter-do-chao a setima melhor praia do BRASIL:

    isso é apenas um caso isolado!!!!

  • Olá Jeso, agora eu fiiquei sem entender nada. Esse Sr. de nome Apolinário de um lado mostra uma versão, por outro, mostra outra versão. E agora, quem poderá me explicar o inexplicável?

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