
por Válber Pires (*)
Como sociólogo e professor de Ciência Política, minhas observações empíricas nesta campanha tem me proporcionado algumas lições políticas importantes.
Compartilho com vocês, na esperança de ajudar a aprofundar o debate sobre o fenômeno político evangélico.
1) Há uma avaliação equivocada da esquerda do fenômeno político evangélico;

2) Este equívoco é alimentado pelo que eu chamo de transtorno de superioridade intelectual e moral alimentado pelo academicismo e gabinetismo de grande parte de intelectuais progressistas;
3) Esse transtorno induz a uma postura de condenação, desprezo e enfrentamento deste fenômeno que está aí e vai continuar se fortalecendo como um campo político tipicamente da direita;
4) Em grande medida, este fenômeno nasceu da política de conciliação de classes e desmobilização política adotada pelo PT assim que se tornou poder;
5) As igrejas evangélicas passaram a ocupar um espaço e cumprir papel político antes exercido por PT, sindicatos e Igreja Católica: a organização e mobilização política de uma massa politicamente desmobilizada e desorganizada;
6) A diferença é que PT, sindicatos e Igreja Católica buscavam trabalhar a política com conteúdo histórico e científico;
7) As lideranças evangélicas trabalham com conteúdo fundamentalmente religioso, bíblico;
8) Não se trata de má-fé da maioria das lideranças, pastores e fiéis, mas de uma análise da história por meio de interpretações religiosas enviesadas e da submissão a uma cadeia de hierarquias interna;
9) A estrutura destas igrejas é altamente hierarquizada e explica, em grande medida, o comportamento político de rebanho dos seus membros;
10) Os grandes pastores tendem a ser lideranças fisiológicas: apoiaram o PT quando era governo, migraram para a direita quando o PT caiu em desgraça, apoiarão sempre quem estiver no poder;
11) Como todo ser humano e ser mortal, os interesses e necessidades fisiológicos explicam, em primeiro plano, as alianças políticas das lideranças;
12) Há, entretanto, uma preocupação honesta, sincera, com as questões sociais;
13) Ideias e discursos mais científicos, racionais sobre política, história e questões sociais são bem acolhidas e, até, requeridas pela maioria dos pastores e fiéis;
14) Não se trata, portanto, de uma massa de zumbis como muitos tentam passar, mas de uma massa de pessoas ávidas por ideias, conhecimento, por participar do debate e da construção política que encontram nas igrejas evangélicas esta possibilidade;
15) Deste modo, trata-se de um potencial político extraordinário que a esquerda está desperdiçando com sua postura arrogante e que a direita está aproveitando para se fortalecer;
16) É requerido e necessário para a democracia o equilíbrio político e ideológico no meio evangélico;
17) Para isso, uma estratégia inicial deve atuar em três frentes: uma de embate ideológico, com o fortalecimento do debate e a agregação de conhecimento histórico, científico, racional no meio evangélico; outra de militância, aproximação e engajamento prático no movimento evangélico; por fim, uma frente política, de fortalecimento de grandes lideranças comprometidas com causas progressistas no meio evangélico;
18) Se a esquerda se furtar a esta tarefa não pode se dizer vítima ou culpar outros sujeitos depois.
— * Válber Pires é professor universitário, doutor em Sociologia, com pós-doutorado em Socioeconomia e Sustentabilidade. Escreve regularmente neste blog.
LEIA também do sociólogo Válber Pires: As mentiras de Bolsonaro e a tal interpretação direitista da história.
caro professor leia os seguintes livros : os senjores da direita e os demonios descem do norte !!explica com maior profundidade teorica esse fenomeno que veio solidificar o atraso sociopolitico no brasil,,, gracas aos evanjegues….
Vejo apenas um aproveitamento de sua posição de líderes para se locupletarem nos cargos ocupados, o poder, status e dinheiro é só o que importam.