Crônicas da vida real: “Monstros assassinos”

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por David Marinho (*)

Eram quatro horas da manhã, acordei com rugidos assustadores vindos da rua. O que seria aquilo? Não consegui mais dormir. Fui até a rua pensando ir à feira do Mercadão 2000, foi quando percebi que os ruídos eram de monstros, e um deles saiu do acostamento escuro, e veio rugindo em minha direção com aquele olho grande acesso sem piscar.

Dei um pulo para trás só a tempo de escapar do bote fatal, e o monstro passou rugindo bem próximo quase me pegando. Ainda senti o vento e o bafo venenoso expelido por ele. Fiquei com os cabelos em pé, desisti de ir à feira, voltei e me tranquei em casa.

Olhei pela fresta da janela, apavorado, e percebi que já não era só um monstro na rua, mas vários, todos rugindo, cada um em tom mais alto que o outro, moviam-se em círculos parecendo me provocar para ir até a rua e me trucidarem. Mas desistiram e fugiram todos na mesma direção, dando pinotes e roncos horripilantes.

moto

Amanheceu, liguei o rádio e ouvi a notícia de que nessa mesma noite alguns daqueles monstros tinham matado um ancião na avenida Curuá-Una, próximo ao Mercadinho da Prainha. Outro tinha esmagado um rapaz na avenida Cuiabá, esquina com a avenida Borges Leal e no dia anterior, mais um tinha invadido uma residência derrubando uma parede indo parar sobre a cama do casal, e colocado os moradores em polvorosa.

Fiquei estarrecido com essas notícias e pensei do que poderia ter acontecido comigo naquela madrugada, e o que será daqui pra frente com as pessoas que transitam distraidamente pelas ruas?

Soube que as autoridades estão preocupadas com os fatos ocorridos, pois esses monstros estão se proliferando como “praga de moscas” na cidade de Santarém e seus ataques com vítimas viraram rotinas, são tantos que se chocam diariamente contra os carros e entre eles mesmos se autodestruindo.

Em quase todos os cruzamentos da cidade, vemos vários deles, com suas patas redondas, chifres abertos e aquele olho aceso assustador no meio da testa, expelindo gases venenosos pela traseira, movimentando suas cabeças de um lado para outro em tom ameaçador, rugindo como querendo pisotear os pedestres incautos sobre as calçadas e passeios públicos.

Já não sabemos o que fazer. Idosos e crianças são suas principais vítimas, muitos já morreram e os que sobreviveram a seus ataques estão nos hospitais arrebentados ou ficaram mutilados.

Comenta-se que muitas vidas ainda serão ceifadas se as autoridades não tomarem sérias providências a fim de coibir os ataques desses monstros, que são de vários tamanhos e tipos, mas todos com investidas perigosas e mortais, inclusive sobre cães vadios que cruzam as ruas.

Um turista que estava em ronda pela cidade, escapou por pouco do ataque de um deles, disse que após o ataque, ia amarrar o tal monstro agressor, mas logo surgiram outros roncando ameaçadoramente, pois são unidos quando envolvidos em tragédias e sinistros. O turista com medo, desistiu e fugiu as pressas para salvar sua própria pele.

Depois de toda essa narrativa a um amigo, fui questionado sobre do que se tratava. Então lhe dei uma pista dizendo; que esse “monstro” é conhecido também como “passaporte para o inferno” ou “esquife motorizado” ou “desintera famílias” ou ainda “ópio dos idiotas” com algumas exceções. Pois quando um “idiota” monta num desses monstros, a adrenalina é ativada e ele se acha um “semideus” e desafia todas as leis da física e do bom senso…

Já identificaram o tal monstro? Pois é isso mesmo que você está pensando; a “motocicleta”. Que ultimamente está se transformando em um caso de “calamidade pública” em Santarém e no Brasil. Pois em cada esquina que cruzamos, é como participarmos de uma “roleta russa” no trânsito. O que nos leva a pragmatizar uma frase sobre o assunto para reflexão: “Quer se vingar do teu inimigo? Dá uma moto pra ele”!

Este texto, apesar do tom crítico forte, tem como objetivo, sensibilizar e conscientizar os usuários de motocicletas, para que se dêem conta de que pilotar esse veículo exige antes de tudo habilidade, atenção redobrada, respeito aos pedestres, e total observância as leis do trânsito.

O motociclista tem que andar 101% correto e praticar a direção defensiva. Pois não há margem para erros, do contrário, o desfecho será fatal! Tanto pra si, como para inocentes transeuntes que nada têm a ver com as loucuras de alguns “motoqueiros” irresponsáveis.

Tratando-se de motocicleta, podemos afirmar que é um veículo leve, econômico e rápido, porém: “Se não souber usar, alguém vai lamentar”! Seus pais, irmãos, parentes e amigos… Que Deus proteja a todos, no nosso louco trânsito.

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* Santareno, é projetista e gestor ambiental. Escreve regularmente neste blog.


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9 Responses to Crônicas da vida real: “Monstros assassinos”

    1. Realmente Mário. É bom que se faça essa distinção. Os “motoqueiros” são uns verdadeiros “piratas” do asfalto, praticam muitos “atos inseguros” no trânsito levando riscos a todos, e deveriam ser penalizado exemplarmente pelas autoridades, mas infelizmente essa situação só se agrava… Os “motociclistas” usam suas motos no trabalho, ou a passeios, mas com responsabilidade.

  • Texto que valeu a pena ser lido, não só pela qualidade da escrita, mas e principalmente pelo conteúdo sério, pertinente e que precisa ser discutido e enfrentado por todos, ainda mais por nós “motociclista” (eu só na garupa) que temos o prazer da liberdade e do encontro que esse meio de transporte proporciona.

    Edna Marzzitelli

    1. Obrigado Edna pelo entendimento, tentei realmente dar essa conotação em forma de um recado meio duro, mas bem intencionado. Pois ficamos até tristes de vermos tantas desgraças no trânsito de Santarém e o sofrimento desses inconseqüentes e principalmente de seus familiares.
      Lembro-me que os “padres” sempre se utilizaram das antiga “lambretas” e depois motos e nem por isso se envolviam em acidentes, pois praticavam o motociclismo. É a falta de maturidade e responsabilidade desses condutores jovens alienados que complicam as coisas…

  • Quando tais “monstros” passam pela direita, esquerda, invadem a pista sem aguardar, imagino a necessidade de um personagem do Charles Bronson baixar dos altos para eliminar 99% deles.

    1. E olha que eles se autodestróem todos os dias, mas parece que nascem mais ainda. Surgem de todos os lados, dos buracos talvez… Alguns deles acham que duas rodas é muito e resolvem andar apenas em uma!

  • David Marinho
    Acidente não acontece é provocado.
    A situação é triste. Fato sério.
    São bilhões de Reais por ano que gastos em acidentes com remédios, hospitais, recuperação podem ser evitados. Podem melhorar em muito nosso sistema de saúde.
    É Fato:
    A maior parte do gasto com a saúde com acidentes pode ser evitado e direcionado para caso realmente de prevenção ao cidadão.

    1. Dr. João Guilherme.

      Concordo plenamente com você. A estimativa é de 98% que os acidentes poderiam ser evitados, apenas 2% são inerentes aos fenômenos da natureza, portando, fora do controle das pessoas.
      É grande o gasto de dinheiro público no tratamento de acidentados, muita das vezes irresponsáveis no trânsito; benefícios previdenciários aos mutilados e portadores de seqüelas desses acidentes, e o pior; os leitos de UTI,s ocupados por inconseqüentes, em detrimento dos doentes patológicos que morrem nos corredores dos hospitais pela grande demenda das emergências nas UTI,s com acidentados do trânsito, que poderia ser evitado. Apenas com um pouco mais de responsabilidade na direção de veículos e principalmente motos…

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