por Paulo Cidmil (*)
A página em branco é mais desafiadora que estar perdido em terra desconhecida. Onde não falam sua língua, estranham seus costumes e gestos e não há a mínima manifestação para tentar entendê-lo.
É como redescobrir a fala, reinventar a língua, interpretar uma profusão de pensamentos, buscando clareza para entender o que se passa no seu interior.
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Partir em uma aventura por territórios inimigos na tentativa de apaziguá-los. Torná-los íntimos do que desconheciam.
Escrever é uma incessante busca por cumplicidade. Uma manifestação que pode iniciar no olho, no ouvido, no instinto, nos odores e sabores, no que chamamos de consciência ou nas emoções que nos fazem experimentar sensações novas e desconhecidas.
O papel nos desafia a organizar um turbilhão de informação em fluxo contínuo na mente, para contar uma história verdadeira ou inventada, mas que para ter êxito precisa ser acreditada.
Caminha-se o mesmo caminho cem vezes; trocando palavras, refazendo vírgulas, inventando pontos, alinhavando sonhos, alimentando desejos. A incansável procura pela palavra exata, o caminho mais simples e curto para chegar ao destino que não foi traçado quando se parte.
A página em branco nos observa pedindo que lhe fale o que ainda não ouviu contar. Aguarda o sopro de palavras que lhe dará vida, lhe imprimirá sentido, lhe emprestará valor perene ou que a preservará através dos tempos.
Escrever é algo sem importância, exceto para aqueles que amam uma página em branco, onde tatuam seus pensamentos, refletem seus sentimentos e deixam as pegadas de sua existência, por um incontido desejo de compartilhar.
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* É diretor de Produção Artística e Ativista Cultural. Às vezes escritor, às vezes poeta.
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