Pira Oca se baseia na compreensão errada do Nheengatu, explica doutor da Ufopa

Publicado em por em Opinião, Santarém, Ufopa

Pira Oca se baseia na compreensão errada do Nheengatu, explica doutor da Ufopa
Ilha do Amor, em Alter do Chão. Ao fundo, a serra ícone do balneário

Do professor doutor em Ciências Sociais Florêncio Vaz, da Ufopa, sobre o debate em torno do nome da serra ícone de Alter do Chão: Piroca ou Pira Oca:

A resposta correta é piroca, sim. Os documentos mais antigos mostram que os nativos e moradores da região chamavam o local de Serra Piroca.

https://2.bp.blogspot.com/-OagM5Hw8jqU/XaBkfstoIwI/AAAAAAAAfXE/8v7stfNdkrstDx1O65Mnsw_0PVfzXqz7QCLcBGAsYHQ/s1600/Flor%25C3%25AAncio%2BVaz.png
Florêncio Vaz

Os moradores da região mais velhos sabem que falávamos e falamos Serra Piroca (assim como falávamos “boto vermelho”, e não boto cor de rosa, que virou moda depois de 1985, quando foi usado pelo francês Jacques Cousteau).

E faz todo sentido, pois no Tupi (e hoje no Nheengatu), a palavra significa pelado, careca. Após séculos em que os nativos usavam esta expressão, “Serra Piroca”, nos últimos anos em Alter e Santarém alguém começou a divulgar essa versão de “pira-oca”, como se estivesse mais fiel a uma suposta raiz etimológica, e isso logo ganhou a internet e as reportagens de TV.

Mas é um grande equívoco. Como poderia ser possível uma “casa dos peixes” (pira+oca) lá naquelas alturas? A tal da pira-oca é uma invenção recente e se baseia numa compreensão errada do Nheengatu. Mas, foi boa essa provocação, Jeso.


Publicado por:

3 Responses to Pira Oca se baseia na compreensão errada do Nheengatu, explica doutor da Ufopa

  • Parabéns ao professor Florêncio!
    Ele agiu cientificamente e fez o que muitos etimologistas deixam de fazer (geralmente por desconhecimento e falta de experiência, por serem diletantes): consultou documentos. Só a palavra em si não basta.
    Textos antigos, mesmo em ortografia complicada, com informações históricas, geográficas etc. fornecem elementos importantíssimos para chegarmos mais perto do significado original dos nomes. É isto que nos ajuda a compreender a origem de tantos nomes indígenas (e também africanos) que ocorrem no Brasil.

  • Depois que os milicos sem-noção (desculpe a redundância) destruíram a serra que era um monumento natural muito querido pelos Santarenos que a conheceram, só resta a estes mais velhos, debater qual a correta origem do nome da serra: pira-oca ou piroca; e mais tarde, só se ouvirá falar dela, quando alguém ainda cantar “bem juntinho àquela serra, que domina a minha terra, tem um pé de sapoti”.

  • Concordo, Serra Lírica, Serra pelada é não “casa do peixe”. Boto Vermelho e não Boto Cor de Rosa. Sairé e não Cairé, como o povo colonizado sempre dando razão para o colonizador.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *