
Conheci o Aléssio em uma reunião tensa entre indígenas e madeireiros. Foi representar a Funai e intermediar o conflito.
Chegou tenso devido ter viajado até o local da reunião no avião alugado pelos madeireiros. Confessou, depois, o constrangimento e nervosismo da situação, mas era a única opção para chegar a tempo de evitar o pior.
Sua presença foi determinante e imprescindível para acalmar a situação em que, inusitadamente, no meio da floresta e longe de qualquer povoado, uma madeireira (depois apelidada de Barbi) ofereceu dinheiro para que os indígenas comprassem refrigerante, pão, requeijão e presunto para um lanche.
Constatei a feição de espanto do Aléssio ao ouvir a oferta deslocada da realidade e, claro, recusada pelos indígenas.
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Certa vez foi presenteado por um lindo filhote de cachorro. Horas depois presenciei Alessio “repassando” o presente para um menininho que se apaixonou pelo cachorrinho. “Ele será mais feliz com esse menino”, declarou Alessio. Situação que exemplifica o desapego que Alessio tinha das coisas deste mundo passageiro.

Aléssio foi um importante indigenista para os povos nativos do baixo Tapajós. Sempre disposto a contribuir nas situações de proteção territorial e preservação identitária, como todo bom humanista.
Era graduado em filosofia e sempre disposto a refletir profundamente as questões humanas, ambientais e culturais. Belemense e torcedor do Remo, claro!
Ultimamente, trabalhava animadamente e com muita disposição no setor da Funai dedicado à proteção de indígenas isolados.
Alessio Dantas faleceu ontem de complicações cardíacas, deixando filhos, muita saudades e sua, agora nossa, “xuxuzinho”.

∎ Gilberto Cesar Rodrigues é professor da Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará).
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Grande perda! Um humanista mesmo e de humor inigualável!