O desafio da sustentabilidade

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por Tiberio Alloggio (*)

O movimento ambientalista nasceu e se forjou na contraposição ao crescimento econômico bruto baseado no uso predatório dos recursos naturais, e em sua fase inicial caracterizou-se pela fé na preservação absoluta da natureza.

Sucessivamente, já no intuito de compatibilizar crescimento e preservação ambiental, veio a teoria do “desenvolvimento sustentável” como forma de preservar (manejando) os recursos naturais, assim de garanti-los também às gerações futuras.

Surgia então o paradigma da “sustentabilidade” cujo conceito, embora usado predominantemente pelos ambientalistas, tornou-se mais abrangente, por acrescentar ao direito aos recursos naturais, o acesso aos bens construídos e produzidos pela humanidade.

Embora que serviços básicos, como educação, saúde, infraestruturas etc., possam ser oferecidos gratuitamente pelos governos, para a obtenção dos demais bens e serviços é preciso ter renda. Por isso, o conceito de “sustentabilidade” inclui também o fim das desigualdades sociais, com melhor distribuição da renda para as gerações atuais e futuras.

Enfim, os primeiros passos se deram com a defesa intransigente do meio ambiente, mas ao longo do caminho descobriu-se que existem (ao menos) três outras dimensões de sustentabilidade: 1) a ambiental, 2) a econômica, 3) a social, que, quando consideradas isoladamente, se tornam insustentáveis.

Um exemplo disso pode ser observado no crescimento exponencial da frota de veículos. Se por um lado o acesso ao automóvel pode ser ambientalmente universalizado com a melhoria da renda e o uso de fontes alternativas de energia. Pelo outro, a universalização incharia a frota ao ponto de implodir a circulação e a mobilidade nas grandes cidades.

Não basta, portanto, considerar apenas a sustentabilidade ambiental. Temos que buscar o equilíbrio acrescentando a ela, a dimensão econômica e o social, Um conceito conhecido como “tripé da sustentabilidade”.

Um exemplo concreto de como lidar com esse tripé, está no descarte inadequado do óleo de cozinha usado, geralmente despejado diretamente na pia das cozinhas, que além de comprometer a rede de esgotos, contamina as águas. Um litro de óleo contamina milhares de litros de água.

Uma primeira abordagem ao problema veio através da reciclagem do óleo para a fabricação artesanal de sabão.

O mercado, ao perceber que o óleo de cozinha usado é mais rentável de outros produtos para produzir sabão, promoveu a coleta do óleo usando, entregando em troca material de limpeza.

Porém, a transformação do óleo em sabão (com adição da soda caustica) só resolve o problema da poluição da rede de esgotos, mas não o da contaminação das águas. Da mesma forma que agrega valor ao resíduo, que porem fica no bolso do empresário.

Um tripé desequilibrado pela predominância da dimensão econômica, ou seja, um bom negócio para os empreendedores, que usam a fachada ambiental para desenvolvê-lo.

Para alcançar o equilíbrio entre as três dimensões da sustentabilidade, o programa teria que ser duplamente sustentável, com agregação de valor e inclusão social.

Um programa desses já funciona experimentalmente, e é conhecido como Bióleo. O programa coleta o óleo de cozinha residual para destina-lo à produção de biodiesel. A coleta é feita por entidades sociais, que mobilizam a população e recolhem o óleo de casas, bares e restaurantes, gerando emprego e renda para financiar seus programas educacionais, culturais e/ou assistenciais.

Com a transformação do resíduo em biodiesel, além do entupimento dos esgotos, evita-se a contaminação das águas. Agregando em seus benefícios, também a redução de emissão de gases de efeito estufa, pelo fato do diesel vegetal poluir menos do derivado do petróleo.

Enfim, uma forma simples e inteligente de agregar valor a um resíduo, contribuindo para a sustentabilidade ambiental sem deixar de lado o desenvolvimento e a inclusão social.

É o “tri pé da sustentabilidade” funcionando.

A nossa sociedade precisa sair da pré-historia do “liberalismo” econômico-empresarial que quer explorar e lucrar com tudo, e daquele catecismo ambientalista que quer proibir tudo.

Precisamos de novos equilíbrios, novos “valores”, e novas formas de nos relacionarmos, entre nós, e com a natureza.

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* É sociólogo e reside em Santarém. Escreve regularmente neste blog.


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