O retrocesso na política de comunicação na era Nélio Aguiar, por Jota Ninos

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O retrocesso na política de comunicação na era Nélio Aguiar, por Jota Ninos, Nucleo de Comunicação da PMS
Integrantes da Vanguarda e Núcleo de Comunicação da PMS. Foto: Instagram

por Jota Ninos (*)

Existe uma máxima entre jornalistas mais experientes de que grande parte dos profissionais dessa área não só acham que são Deus: têm certeza!

Mesmo em tom de brincadeira, essa frase guarda em si o lado negro da Força do Jornalismo, pois muitas vezes o ego faz do jornalista um cego. Isso existe em qualquer local de trabalho, mas no jornalismo o glamour acaba corroendo ainda mais as relações interpessoais.

Dito isso, quem vive nos bastidores das redações ou nas assessorias de comunicação sabe do pesado jogo entre os “coleguinhas” para se impor diante de algum novo talento que surja. E o espelho do egocentrismo é consultado diuturnamente em busca do “existe jornalista melhor do que eu?”.

Já fui “foca” (como são chamados os novatos) de redação e cheguei a comandar equipes em redações e assessorias. Convivi de perto com essa arenga.

Talvez minha formação socialista tenha evitado que eu fosse afetado por este vírus. Sempre acreditei nos resultados coletivos e não nos individuais. Como chefe, já tive até que demitir jornalistas talentosos, mas que não conseguiam controlar a ânsia de se envolver com picuinhas, ao invés de provar seu talento.

Dessa experiência, sempre sonhei com o dia em que a comunicação pública tivesse um outro tratamento, com a criação de uma secretaria que fosse um instrumento de transparência dos governos e não de replicar o ego político em busca de novas eleições.

Mas os políticos de Santarém anda estão longe disso.

Não vi nenhum governo capaz de conduzir uma política de comunicação séria, para evitar a Fogueira de Vaidades entre secretários e assessores, entre jornalistas e publicitários/marketeiros e entre assessores e empresas de comunicação.

Alguns avanços ocorreram entre 2008 e 2016, mas desde o ano passado começou um total retrocesso no governo Nélio.

Sem sintonia e sem harmonia entre suas equipes de comunicação, começam a ser trocadas farpas e “plantadas” notinhas em colunas para “fritar” este ou aquele profissional, como denunciou em seu blog, o Jeso Carneiro. Por isso, resolvi fazer um pequeno retrospecto a partir de minha memória, das equipes de Ascom dos anos 1980 para cá.

Os primórdios

Até meados dos anos 1980, a comunicação pública em Santarém praticamente inexistia. Talvez até porque ainda não eram muitos os meios de comunicação.

Mas o “boom” do surgimento de emissoras de rádio e TV, além de semanários impressos, levou à contratação de comunicadores sem qualquer experiência acadêmica a aprenderem, na marra, o ofício nas redações.

E muita gente se forjou nesse fogo, buscando informações nas secretarias da prefeitura em seu antigo prédio, onde hoje funciona o Centro Cultural de Santarém. Enquanto isso, a comunicação oficial andava a passos de cágado.

O mérito pelo início de uma guinada nessa relação se deu através de um… comunicador! O então locutor esportivo e vereador peemedebista Oti Santos (1982-1986), ao assumir a presidência da Câmara Municipal, criou em 1985 o cargo de assessor de imprensa e contratou o jornalista (hoje consultor de Marketing) Dornélio Silva, que começou a produzir relises para as redações.

Naquele ano, Oti assumiu por alguns meses a prefeitura, quando Ronan Liberal foi defenestrado de seu cargo biônico, com o fim do regime militar, e resolveu repetir a experiência: chamou o experiente Eriberto Santos (já falecido), então chefe do departamento de jornalismo da Rádio Rural a assumir a Assessoria de Imprensa da prefeitura durante seu curto mandato, e depois com o prefeito-tampão, engenheiro Adelerme Cavalcante.

A simpatia e a experiência jornalística de Eriberto dava um novo tom na relação entre assessoria e jornalistas.

No final daquele ano, Santarém voltou a ter eleições para prefeito e o PMDB continuou mandando naquele início de Nova República, com a eleição de Ronaldo Campos. Eriberto se firmou no posto e começou a criar uma equipe para auxiliá-lo.

Mas Ronaldo era impetuoso e não admitia ser assessorado. Essa conduta acabou levando-o a passar a imagem de um ditador, inclusive ao ameaçar pelo menos um repórter em seu local de trabalho.

Só que em 1988, Ronan, agora aliado de Ronaldo, voltou a comandar a prefeitura e trouxe um primo jornalista para cuidar da Assessoria de Imprensa.

Atuando como porta-voz, Adamor Liberal mais desagregou do que criou pontes, chegando a ameaçar repórteres de processo. Com isso, a imagem do prefeito não conseguiu se estabilizar perante a imprensa local.

Estruturação

No governo Ruy Corrêa (1993-1996), começou uma maior profissionalização desta e de outras funções.

Ruy trouxe para assumir o Planejamento o ex-vereador Alexandre Von, que arrumou a casa. Como empresário da comunicação (Grupo TV Santarém/Rádio Tropical), Ruy fez com que a Comunicação ganhasse uma divisão (Divicom, ligada à recém-criada SEMG – Secretaria de Governo) que tinha jornalistas e publicitários trabalhando juntos. O ex-gerente da Rádio Rural, Eduardo dos Anjos, levava sua experiência para dar uma boa condução aos trabalhos.

Nesse governo, começou também a participação de agências de publicidade que cuidavam da imagem da prefeitura. Mas apesar disso, o grande “pecado” de Ruy foi não conseguir um acordo financeiro com o principal grupo de comunicação (Tapajós/Globo), por conta da rivalidade das famílias Corrêa e Pereira, sendo execrado por 4 anos nas emissoras do grupo.

A chegada de Lira Maia (PFL) ao poder em 1997, com o vice Alexandre Von e o jornalista Sérgio Henn na Administração (Semad), dava indícios que a comunicação ganharia um espaço respeitável.

A primeira providência foi tirar a Divicom (que passou a se chamar DMC – Divisão de Marketing e Comunicação) da SEMG e passá-la para a Semad.

Eu e Sérgio, que já havíamos trabalhado na Rádio Rural, fizemos uma dobradinha.

Dois ex-petistas assessorando um governo do PFL era estranho e não demorou muito pra fazer água. Foi quando aprendi que a comunicação pública precisa ter um profissional que seja, também, ideologicamente sintonizado com o grande chefe.

Depois de dez meses, a relação se desgastou e acabei atravessando a rua para assumir a Ascom da Câmara, onde consegui melhores resultados.

A comunicação de um governo de viés populista é baseado na cooptação da imprensa como um todo, diminuindo o papel de sua assessoria de comunicação. Lira Maia abriu os cofres e todas as empresas tiveram acesso a verbas publicitárias.

A política de comunicação como gerador de transparência pública virou puro marketing. E Maia sempre foi competente no seu marketing pessoal, deixando a equipe do jornalista Ednaldo Rodrigues apenas com a produção de relises.

E isso durou por oito anos, já que ele foi o primeiro beneficiário do instituto da reeleição criada na Era FHC.

Em 2005, uma nova filosofia parecia chegar à prefeitura através da petista Maria do Carmo. Mas no primeiro governo, ela se limitou a manter a mesma forma de atuar com a imprensa, tendo à frente a experiente jornalista e advogada Nelma Bentes, que com seu carisma conseguia diminuir algumas tensões.

A grande guinada petista foi no segundo governo, quando Maria transformou a Divisão em Coordenadoria, primeiro passo para se tornar uma Secretaria com maior autonomia.

A sintonia entre a Coordenadoria e a agência de publicidade (Vanguarda) gerou bons frutos, mas não o suficiente para eleger sua sucessora.

Em 2013, Alexandre Von (PSDB) chega ao poder e mantém a Coordenadoria criada por Maria. Consegue mesclar uma geração de jovens jornalistas saídos dos primeiros cursos locais com jornalistas tarimbados como Oswaldo de Andrade e, com destaque para Sampaio Brelaz (que já assessorara Von quando este presidiu a Câmara Municipal entre 1989 e 1990), que fazia a diferença onde outros deixavam furos na necessária ponte com as redações.

A agência Griffo, de Belém, teve quase nenhuma ingerência na Comunicação, até porque Von pouco investiu em marketing, o que acabou sendo um de seus calcanhares de Aquiles…

Apesar de ter Maia como aliado, Von patinou e fez um governo insosso.

A comunicação teve muito trabalho e chegou a esbarrar na falta de experiência de um jovem assessor que, com truculência trocou farpas públicas com uma jornalista por publicar notícia negativa aos olhos do governo. O episódio manchou ainda mais um governo que tentava estabelecer canais mais transparentes de comunicação, mas mal conseguia uma boa relação com as redações.

Retrocesso

A vitória de Nélio Aguiar, um político ainda mais insosso, porém mais pragmático que Von, trouxe um começo de bravatas sobre transparência, mas a primeira atitude foi acabar com a Coordenadoria de Comunicação!

Entupiu a folha com assessores de comunicação, e teria empregado (pelo que se sabe à boca pequena) até pessoas da agência (Vanguarda, de novo)! Sem contar a polêmica contratação de blogueiros para fazer o anteparo nas redes sociais.

Apesar da inexperiência para o cargo, a ex-gerente do portal G1, do grupo Globo, Karla Lima, tem tentado manter uma produção razoável de relises, já que é o que resta a uma desmotivada Ascom.

Sem a antiga autonomia, começa a enfrentrar em conflito com alguns comunicadores da agência, surgindo daí um processo de fritura do cargo em notinhas “plantadas” em jornais e blogs.

Nélio ainda não disse para o que veio como administrador, e deveria evitar ter problemas na área da Comunicação para não afundar ainda mais seu insípido governo na Fogueira das Vaidades.

A simples troca de pessoas em sua Ascom não resolverá seu problema. O que tem que mudar é a filosofia de sua comunicação pública, que não consegue acompanhar o ritmo acelerado de um ano emblemático e crucial de eleições.

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* É jornalista e servidor público do Judiciário.

Leia também de Jota Ninos:
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8 Responses to O retrocesso na política de comunicação na era Nélio Aguiar, por Jota Ninos

  • Caro Jota, em meu nome e em nome de toda nossa família, agradeço a referência ao nome do nosso querido e inesquecível Eriberto, Ariba ou tio Bebeto para nós. Agradecemos muito mais, ao mesmo tempo que louvamos a sua sensibilidade, ao captar uma das inúmeras qualidades de nosso Ariba, qual seja, a simpatia. Ele era a mais perfeita definição de simpatia e qualquer lugar ou qualquer festa, principalmente as festas em família, tinha um gosto especial após sua chegada. Para mim, a simpatia e alegria de viver era o “jeito Eriberto de ser”. Dr. Emir Bemerguy, em seu “Diário de um convertido”, disse que “estrelas são buracos que Deus faz no céu para que vejamos quanta luz há do lado de lá”. Desde 25 de janeiro de 2013 as noites estreladas ficaram mais brilhantes. Mais uma vez obrigado e receba, deste “descerebrado”, que fica mais rico a cada vez que discordamos, o sempre carinhoso e respeitoso abraço AZULINO.

  • ALO NELIO AS VV QUEREM $$$$$$$DA LOGO NELIO ASSIM A TVT VAI BATER MENOS NOS SEUS JORNAIS REPETITIVOS E FRACOS$$$$DA LOGO NELIO$$$$DA LOGO NELIO!!!!!!!

  • Excelente texto. Mas não é só na comunicação que está havendo um retrocesso, em todas as áreas a gestão está nas mãos de incompetentes e ditadores.

  • PENSEM E REPENSEM.
    Só vejo uma característica para o gestor se sujeitar aos caprichos da VANGUARDA, ele ser um refém intelectual.
    Pois ao que me consta essa agencia ganhou para fazer a sua campanha e segundo a prestação de contas dele, ganhou muito bem R$$$$.
    Aí vêm o inicio de governo acontece a licitação e quantas concorrentes apareceram será? quantas? só ela, não tem outra agencia na cidade, no estado, no Brasil com capacidade ou com interesse nessa conta que chega a mais de 2 mi anual.
    quanto ela ganha? 10 salários, 20 salários, 30, 40, 50 cinquennnnta salários por mês para deixar aqui um, ou dois representantes.
    Mas o bom é que o contrato acabou e está em curso uma nova licitação, se a mesma ganhar e se só aparecer ela aí é de se desconfiar que algo ela tem de muito importante para o Prefeito aceitar sua permanência e intromissão no seu governo, vamos aguardar esse processo

  • Esperamos que seja no mínimo uma (a)pessoa com formação pois estão cogitando o nome da senhora Keliane Tomé que nem formação tem, ai será o total retrocesso da comunicação da prefeitura.

  • NINOS
    O NÉLIO VAI SE ARREPENDER DE TÁ DEIXANDO VANGUARDA SE INTROMETER EM TUDO NO SEU GOVERNO E ENFRAQUECER ASCOM
    NUNCA VI UMA COISA DESSAS EM NENHUM GOVERNO. MAS QUE FRAQUEZA É ESSA? VANGUARDA QUER DÁ CARTAS EM TUDO. DOMINAR. É UMA VERGONHA
    TODO GOVERNO TEM SUA ASCOM E QUALQUER INTERFERÊNCIA DE FORA É PRA ACRESCENTAR.
    A VANGUARDA JÁ FEZ SUA TAREFA: ELEGER NÉLIO. MAS TODA TERRA SABE QUE O PIOR GOVERNO DE SANTARÉM VON FEZ ESSA PROEZA

  • Que engraçado J Ninos na época que a Vanguarda trabalhou pro PT aqui na PMS vc não questionava nada !!

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