Demissão de general evita tornar Forças Armadas em milícia bolsonarista. Por Válber Pires

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Demissão de general evita tornar Forças Armadas em milícia bolsonarista. Por
General Júlio Arruda: demissão assinada por Lula neste sábado (22). Foto: Reprodução

Três elementos levaram o presidente Lula a assinar a demissão, neste sábado (21), do general Júlio César de Arruda do comando do Exército.

  • 1º – Se não o demitisse, demonstraria fraqueza
  • 2º – Se não o demitisse, aceitaria a insubordinação do general, que resistia em acatar algumas de suas ordens;
  • Se aceitasse a insubordinação de Arruda, fragilizaria a ala legalista das Forças Armadas (FA) como um todo. As consequências de manter Arruda no comando do Exército poderiam ser catastróficas para as próprias FA e para o Estado brasileiro.

No primeiro caso, o presidente estaria submetendo seu mandato à condição de mandato tutelado, porque o comandante-em-chefe das FA já não seria ele, mas o general Arruda. Isso significa que toda democracia brasileira estaria sendo tutelada pelos militares.

Pior, por militares bolsonaristas, que prestam contas e continência a Bolsonaro, isto é, no limite, seria o próprio Bolsonaro que continuaria contando com uma importante carta para interferir nos destinos da democracia Brasileira.

No segundo caso, estaria abrindo a porteira para todos os oficiais de alta patente não-legalistas – leia-se: militares políticos, bolsonaristas, ideológicos, não-profissionais – insubordinarem-se às suas ordens e às ordens de superiores com os quais não se alinham política e ideologicamente, isto é, às ordens de militares legalistas, profissionais.

Este seria um fato de extrema gravidade, porque poderia agravar a politização das FA, os conflitos entre militares no interior da caserna e o desmanche de importantes instituições militares, como a hierarquia, a neutralidade política, a lealdade e o espírito de corpo.

Por fim, no terceiro caso e associado aos dois fatores anteriores, o Exército daria um passo decisivo para deixar de ser uma instituição profissional, o que contaminaria, inevitavelmente, a Marinha e a Aeronáutica. Deste modo, no limite, as FA corriam um risco real de perder o caráter de instituições de Estado.

Mas, o que explica essa disposição de uma parte dos militares de colocar em risco o status das FA como instituições profissionais e de Estado?

Existe, sem dúvida, um culto à personalidade de Bolsonaro que explica a adesão de parte dos militares ao bolsonarismo. Contudo, este culto é forte, principalmente, entre militares de baixa patente.

No caso de militares de alta patente, estes passaram por uma sólida formação política, histórica, geopolítica, geoestratégica e psicológica para se blindar contra os cantos de sereia de personalidades carismáticas ou populistas.

Entre os militares bolsonaristas de alta patente, tudo indica que o que prevalecem são interesses econômicos e políticos. Cargos políticos se revestem de regalias e dividendos econômicos.

Mas, não apenas, parece haver uma disposição maior, por parte destes militares, em se associar a diversas modalidades de crimes, como corrupção, tráfico de drogas, tráfico de armas, milícias e crime organizado de modo geral.

O longo histórico de envolvimento de militares nestes crimes remonta à ditadura militar, permeia o nascimento e fortalecimento do Jogo do Bicho, o surgimento das milícias e envolve, até mesmo, grandes facções.

Lula e o novo general comandante do Exército, Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva

Para ficar, apenas, em exemplos ilustrativos: alguém lembra do bicheiro Capitão Guimarães, que deixou a carreira militar para se dedicar ao crime? E de Castor de Andrade, um dos maiores bicheiros e mafiosos de todos os tempos do Brasil, venerado pelos militares e com quem estes queriam “evitar problemas”?

E o desastrado Manoel da Silva Rodrigues, sargento da Aeronáutica, preso na Espanha com 37kg de cocaína que transportava no avião presidencial? E o largo histórico de relação da família Bolsonaro com milicianos, assassinos etcetera? E o coronel Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, pivô da demissão de Arruda, e que agora está sendo investigado por caixa paralelo?

Por essas e outras, estou convencido de que, com a demissão do general Arruda, o presidente Lula evitou, por hora, que o desejo de Bolsonaro de destruir as Forças Armadas Brasileiras se concretizasse. Evitou que estas se convertessem num braço estatal das milícias e de transformar o Brasil num Narco-Estado.

<strong>Válber Pires</strong>
Válber Pires

É professor universitário, doutor em Sociologia, com pós-doutorado em Socioeconomia e Sustentabilidade. Escreve regularmente no JC.

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One Response to Demissão de general evita tornar Forças Armadas em milícia bolsonarista. Por Válber Pires

  • Como disse aquele general ex ministro da saúde (que não entendia P.N. de saúde), agora um manda “LULA” e eles os come e dorme nos quartéis obedecem, simples assim.

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