1694: origem da aldeia dos Surubiús, hoje, cidade de Alenquer. Por Wildson Queiroz

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1694: origem da aldeia dos Surubiús, hoje, cidade de Alenquer. Por Wildson Queiroz
Alenquer ontem, às margens do rio Surubiú. Foto: reprodução

O município de Alenquer, suas delimitações geográficas, história e cultura, teve início há bastante tempo quando políticos, religiosos e colonos portugueses iniciaram o processo de exploração e ocupação do gigantesco território do Vale Amazônico, que a abriga um dos maiores rios do mundo e também uma imensa floresta rica em biodiversidade.

O trabalho de exploração rio acima teve início a partir da ocupação da foz do rio Pará, em 12 de janeiro de 1616 e da construção do Forte do Presépio, que deu origem a cidade de Belém, garantindo assim a expansão do império ibérico (portugueses e espanhóis) nas Américas.

 Com a consolidação da presença portuguesa em Belém, aconteceram as expedições de reconhecimento e ocupação do território; Pedro Teixeira e outros exploradores realizaram inúmeras viagens por terra e água, desbravando caminhos e estabelecendo contato com os povos nativos.

 Nesse ínterim, entram em cena os padres jesuítas, responsáveis pelo trabalho de catequização e conversão religiosa dos povos nativos. A região a ser conquistada era enorme e o trabalho dos missionários exigia bastante ajuda.

A partir de 1693, chegam na Amazônia brasileira vários grupos missionários que ficaram encarregados de consolidar a presença portuguesa nas aldeias indígenas, impondo além da religião, os costumes e hábitos europeus.

Por determinação da Carta Régia de 19 de março de 1693, os Capuchos da Piedade ficaram responsáveis por todas as terras e aldeamentos junto da Fortaleza de Gurupá e as terras que ficavam para cima do aldeamento de Urubucoara (atual município de Almeirim), compreendendo os rios Xingu, Trombetas e Gueribi.

Na região que hoje conhecemos como Baixo Amazonas, os Capuchos assumiram os trabalhos em diversos aldeamentos, entre eles, os de Curuá-Manema, – atual Curuá – (índios Tauiponás, Nambocoaras e Abarés), localizado às margens do rio Curuá. Próximo a este aldeamento, também no rio Curuá, estava a missão de Surubiú – atual Alenquer – (índios Abarés, Apamas, Orossans e Manaos). Tanto a aldeia de Curuá-Manema quanto a do Surubiú já recebiam atendimento espiritual dos jesuítas antes da chegada dos Capuchos.

Nas aldeias do Curuá-manema e Surubiú, localizadas no rio Curuá, a presença constante e o trabalho efetivo dos missionários Capuchos da Piedade teve início no ano de 1694, conforme atestam pesquisadores sobre o tema.

João Santos, pesquisador da história da igreja na Amazônia, em artigo publicado na Revista do Centenário de Alenquer, em 1981, afirma:

O trabalho dos missionários na aldeia de Surubiú teve início no ano de 1694.

Waldomiro Vasconcelos, padre alenquerense e pesquisador da história da igreja e da Amazônia, informa:

Provavelmente, 13 de junho de 1694, é quase certo ser a data mais exata do início do núcleo catequético dos Padres Franciscanos, na bela região do rio Curuá-Manema – a gênese do atual território ximango.

Áurea Nina, historiadora e antropóloga alenquerense, em artigo publicado na Revista de Santo Antônio, afirma:

Para a historiografia tradicional, a idade de Alenquer começa a ser contada computada, a partir do século XVII, com a chegada do colonizador português, por volta de 1694.

Waldinor Batista, memorialista e pesquisador da história de Alenquer, afirma:

A missão religiosa que deu origem ao município de Alenquer teve origem em 1694 com a chegada do veleiro de três panos que trouxe o jesuíta Frei Francisco Vilar.

Raimunda Brilhante, professora e pesquisadora da história de Alenquer, em seu livro Recordações Históricas assevera:

Portanto, a missão dos Surubiús teve início com Frei Francisco Vilar em 1694.

O autor que subscreve este texto, com base em outras leituras, também concorda que o ano de 1694 tenha marcado o início efetivo dos trabalhos missionários nas aldeias de Curuá-manema e Surubiú, hoje município de Alenquer.

Com base nos elementos listados acima, penso que nós, alenquerenses, devemos seguir a mesma estratégia utilizada no município de Manaus, onde eles adotaram o ano de construção do Forte da Barra do São José (1669), como referência e mantiveram a comemoração na data de elevação a categoria de cidade, e assim, passemos a comemorar não apenas o aniversário de elevação de Alenquer a categoria de cidade, ocorrido em 1881, mas também a data de fundação, considerando o ano de 1694 como a gênese deste processo histórico.

Portanto, como ainda não existe um consenso quando ao dia exato, sugiro que o 10 de junho seja mantido, assim, no mesmo dia, passamos a comemorar a data de fundação e de elevação a categoria de cidade mantendo a tradição dos festejos no mês de junho.

Fontes:

Brilhante, Raimunda. Alenquer, Recordações históricas. Alenquer. 2019.

Queiroz, Wildson. Cronologia Histórica do Município de Alenquer.

Matos, Frederik Luizi. Os “Frades Del Rei” nos sertões amazônicos: Os Capuchos da Piedade na Amazônia colonial (1693 -1759). Tese de Mestrado. UFPA. Belém, 2014.

Revista Programa de Santo Antônio. Alenquer, 2000.

Revista Programa de Santo Antônio. Alenquer, 2015.

Santos, João. Elementos para a história da igreja em Alenquer. Revista do Centenário de Alenquer, 1981.

Vasconcelos, Waldomiro. Marambiré. A conquista espiritual dos Barés. P.29. 2025


Wildson Queiroz é pedagogo, historiador e professor. Membro do IHGTap (Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós), ex-secretário municipal de Cultura de Alenquer (PA), onde reside. É também fundador e atual presidente da Academia Alenquerense de Letras. Escreve regularmente no portal JC. Leia também dele: Por que Helder Barbalho transita no eixo Rio-São Paulo. E ainda: Os papagaios de Renato Sussuarana.

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