
Há lugares em Santarém que nos permite viajar, tornando-nos andarilhos sobre caminhos de terra ou ruas asfaltadas, seguindo por ruas e logradouros que mostram a movimentação das pessoas, no vai e vem de seus compromissos, em rotinas regadas de exaustão e persistência.
Muito além da mesmice na vida e dos lugares em que se frequenta, Santarém possui alguns bairros que chamam bastante a atenção, não somente pela aparência, mas pelos nomes de ruas, travessas e avenidas, que se distinguem dos nomes comuns que as pessoas são habituadas a ouvir em qualquer outra cidade brasileira.
Jardim Santarém, Floresta, Matinha e Alvorada são os bairros mais distintos da Pérola do Tapajós quando se trata de epíteto. Seus próprios nomes são bem sugestivos, que, ao nomearem as suas ruas, fortalecem a ideia do porquê de os bairros assim serem chamados. Lugares que ficam longe do centro e que, felizes, não têm a incômoda missão de adotar, pelo menos na grande maioria das ruas, certos nomes que para muita gente são pouco agradáveis.
O bairro Jardim Santarém é rodeado pela avenida Bartolomeu de Gusmão, nome do famoso “padre voador”, natural do estado de São Paulo, pela rua Afonso Pena, um ex-presidente natural de Minas Gerais, pela avenida Anysio Chaves, um potiguar de nascimento, mas que viveu em Santarém por 45 anos e que muito contribuiu para a imprensa local, e pela travessa Onze Horas, o nome de uma espécie de flor.
— ARTIGOS RELACIONADOS
No interior do bairro, quase todas as ruas são batizadas com nomes de flores. Com exceção de alguns metros da avenida Ismael Araújo e dos quarteirões finais da avenida Barão do Rio Branco, o bairro Jardim Santarém é inteiramente “florido” por vias como rua Angélica, rua Violeta, rua Girassol, rua Margarida, rua Orquídea, avenida Jasmim, entre outras flores desse jardim urbano.

O bairro ainda tem o privilégio de ter consigo o imenso Parque da Cidade e a praça das Flores, que ajudam no embelezamento de um lugar repleto dessa área onde há muitas vias com traços retos e poucas curvas.
Mas logo conhecemos o bairro Floresta. Mas não se engane, pois a vegetação lá nomeia também as ruas. Quem nunca caminhou por lá na travessa Muruci, na travessa Tachi, na rua Seringueira, na rua Japauá ou mesmo na avenida Pau-Brasil?
Para morar nessa “vegetação”, algumas “aves”, como a travessa Rouxinol, a rua Uirapuru ou até mesmo a rua Garça Azul ali estão para tornarem mais vivas e alegres aos seus cantos, em ruas onde grande maioria encontram-se esburacadas e repletas de mato, o que é comum para o bairro Floresta.
O lugar começa a fugir dessa “ideia florestal” nas últimas ruas, como as travessas Eurico Dutra, Carlos Chagas, Marechal Deodoro, Francisco Orellana, Princesa Isabel e até Machado de Assis, que já parte para personagens históricos, políticos e literários do Brasil.
Falando em pássaro, quem já visitou o belíssimo bairro Alvorada? A grande área do Santarenzinho tem a honra de mostrar ao mundo seu bairro com ruas que nos fazem voar e ter a sensação de que lá ainda é habitat de muitas aves, que tanto frequentavam aquele lugar.
Lá se pode caminhar pela rua João-de-barro, pela rua Curió, pela rua dos Sabiás, pela rua Tucano, pela rua Canário, pela rua Beija-flor e até pela travessa Paraíso. Não tem como não dizer que aquele lugar, cheio de pessoas trabalhadoras, seja um verdadeiro paraíso. Aliás, do Alvorada se vê um dos mais belos pores do sol de Santarém vistos a partir do chão.

Pouco tempo atrás, onde hoje é o bairro Salvação fazia parte do bairro Alvorada, o que justifica todas as ruas e avenida de lá serem também de pássaros!
Um ambiente conquistado pelo seu povo, mas que mantém imortalizados os nomes dos bichos que lá moravam e dos poucos que ainda se vê e se ouve cantar nas árvores das ruas ou plantas de quintais. Para complemento, tem em si alguns nomes de flores, como rua dos Cravos, e nome indígena, como rua Guarani.
Falando em nome indígena, e o bairro Matinha? Esse lugar é cortado pela BR-163, onde suas ruas vão se soltando e revelando os mais variados nomes indígenas por lá existentes.
Por lá se pode caminhar na rua Tupi, rua Iracema, travessa Caramuru, rua Naiara, rua Nambiquara, rua Tupã, rua Taquari, tua Tamoios, rua Itaiguara, rua Jaci, entre outros nomes que fazem desse lugar uma verdadeira diversidade indígena, fazendo as pessoas viajarem e conhecerem muito dos nativos brasileiros.
São nomes bonitos, curiosos e que fazem de Santarém um lugar especial e divertido para se caminhar e aprender, mesmo que a maioria dessas vias sejam corredores esburacados ou arenosos que conduzem águas de casas e que se tornam aparentemente pantanosos.
Bairros onde seus moradores têm orgulho do ambiente em que vivem, muitas vezes entre a calmaria das ruas pacatas e à intensidade das avenidas movimentadas e barulhentas.


❒ Silvan Cardoso é poeta, cronista e pedagogo nascido em Alenquer, no Pará. Escreve regularmente no JC. Leia também dele: Alenquer, 143 anos: quem come seu acari não quer mais sair daqui. E ainda: Canhoto, o dono do lanche que virou point em Alenquer; vídeo.
— O JC também está no Telegram. E temos ainda canal do WhatsAPP. Siga-nos e leia notícias, veja vídeos e muito mais.
Deixe um comentário