Ex-aluno do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Amazônia (PPGRNA) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Arlison Bezerra Castro, hoje técnico no Laboratório de Ecologia e Conservação do Instituto de Biodiversidade e Florestas (Ibef), é o autor principal de artigo publicado no último dia 5 de setembro no conceituado periódico científico Animal Conservation, sobre uma pesquisa dos efeitos da exploração madeireira de impacto reduzido na biodiversidade da Floresta Nacional do Tapajós, na região oeste do Pará.
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O artigo Influência da exploração madeireira de impacto reduzido em morcegos da Amazônia Central usando um desenho amostral de controle-impacto antes e depois apresenta os resultados de estudo realizado entre 2014 e 2015, na Flona Tapajós, que utilizou morcegos como organismos-modelos para avaliar o impacto da exploração madeireira.
“Estudos normalmente comparam a biodiversidade de áreas manejadas e não manejadas após a ocorrência do impacto. Aqui, em parceria com a Cooperativa Mista da Flona do Tapajós (Cooflona), tivemos a oportunidade de fazer o trabalho em duas áreas, uma que seria explorada (impacto) e outra que permaneceria inexplorada (controle)”, explica o professor da Ufopa Rodrigo Fadini, orientador do estudo, que também contou com a colaboração dos pesquisadores Paulo Estefano Bobrowiec, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Sônia Castro e Luís Reginaldo Rodrigues, ambos do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Amazônia (PPGRNA) da Ufopa.
A pesquisa teve por objetivo avaliar a resposta da fauna de morcegos às modificações causadas na floresta pelas atividades de exploração madeireira e foi realizada através da coleta de dados em campo.
“No estudo usamos os resultados para tirar conclusões sobre a capacidade da exploração madeireira de impacto reduzido em cumprir os objetivos de conservação, ao mesmo tempo que permite impactos mínimos na biodiversidade”, explica Arlison Castro no resumo do artigo.
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Durante 64 noites, foram capturados 706 morcegos, de 36 espécies e 24 gêneros.
“Os morcegos foram escolhidos porque são de fácil amostragem, possuem taxonomia bem resolvida e respondem rapidamente a diversos impactos ambientais. Além disso, são importantes na realização de diversos serviços ecológicos, como dispersão de sementes, polinização e controle de insetos”, afirma Rodrigo Fadini.
Os resultados mostraram que morcegos animalívoros, que se alimentam de insetos e de pequenos vertebrados, foram afetados pelo manejo de impacto reduzido, principalmente em áreas cuja copa da floresta foi mais atingida pelas atividades madeireiras.
“Testamos a relação entre a abertura do dossel da floresta e a assembleia de morcegos antes e depois da exploração madeireira”, afirma Arlison Castro.
Para Rodrigo Fadini, o estudo de fato revela que algumas guildas de morcegos podem ser afetadas pela exploração madeireira em curto prazo.
“A resposta dos morcegos depende da guilda alimentar à qual eles pertencem. Aqueles que consomem frutos e néctar aumentaram tanto na área manejada quanto na que permaneceu intacta. Já os morcegos que consomem insetos e pequenos vertebrados se reduziram tanto em abundância quanto em riqueza de espécies, afetando sua composição. Esses morcegos também foram afetados pela abertura do dossel após a exploração madeireira”, explica.
Amostragem e manejo: pesquisa
Para os cientistas, pesquisas futuras devem avaliar “se” e “quando” essas guildas retornarão ao estado pré-exploração.
Diante desse resultado, os pesquisadores concluíram que os empreendimentos de exploração madeireira, mesmo aqueles que promovem menores distúrbios à floresta, que é o caso da exploração realizada na Flona do Tapajós, precisam deixar algumas áreas preservadas dentro da Área de Manejo Florestal para permitir o retorno da fauna mais sensível após a exploração da floresta.
A pesquisa indica ainda que é necessário utilizar a amostragem antes do manejo para avaliar o real efeito da exploração florestal sobre as espécies da fauna; e que o desenho amostral proposto, com o estudo das áreas antes e depois do manejo, deveria ser usado como o método padrão para estudos de impacto do manejo sobre a biodiversidade em longo prazo.
O artigo, publicado no periódico Animal Conservation, pode ser encontrado em https://doi.org/10.1111/acv.12739.
Com informações da Ufopa
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