
Todos os dias eu caminho observando as belas paisagens santarenas. Realmente Santarém possui uma natureza privilegiada e isso me impele a fazer o que chamo de Simbiose Neural, o aumento da neuroplasticidade cerebral pelo contato com a natureza. Está comprovado cientificamente que o chamado exercício verde diminui sintomas de depressão, ansiedade, Burnout e outras desordens afetivas. Um remédio para a mente.
O local onde fica nossa cidade, que possui a mais bela praia do Brasil, Alter do Chão, desbancando Fernando de Noronha, já foi um Meca Amazônica, uma espécie de Jerusalém indígena, um grande e complexo centro religioso onde indígenas de diversas tribos vinham adorar seus deuses. Isso foi confirmado por estudos arqueológicos realizados entre 2006 e 2015 liderados pela arqueóloga Denise Cavalcante Gomes, do Museu Nacional da UFRJ.
Esse estudo revelou que antes da chegada dos portugueses, no século XVI, nossa região era habitada por uma sociedade complexa formada por milhares de indígenas.
A pesquisadora afirmou que “(…) Pode-se construir um quadro de uma sociedade pré-colonial, situada em meio à floresta amazônica, densamente povoada, com grandes aldeias, de alcance regional, mas descentralizada, com atividade cerimonial vibrante, bem como a presença de chefes e xamãs como figuras de prestígio e poder” (…)”.
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Emociono-me ao pensar nesses povos e em suas vidas, suas cerimônias, seus rituais, antes da chegada dos portugueses. Penso no quanto foram impactados pela vinda dos europeus e aos poucos dizimados e, basicamente, nada resta deles. A emoção ainda é mais forte ao pensar em que a outrora “meca indígena”, tornou-se uma bela e grande cidade, cheia de ciência, pesquisa e inovação, onde a universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) é o alicerce acadêmico de tudo isso.
A Ufopa é um elo central de ciência, de pesquisa e de transformação impactante na sociedade. O que se faz na Ufopa impacta a sociedade, sua principal financiadora. Fico ainda mais feliz que, ao diminuir as desigualdades de gênero, principalmente no que concerne à participação das mulheres em cargos de chefia no Brasil, a Ufopa é regida por duas mulheres, as professoras Aldenize e Solange, que têm o compromisso e a força para transformar a Amazônia.
A representatividade feminina em cargos de chefia vem aumentando, mas os desafios ainda são gigantescos. As mulheres que ocupam cargos acadêmicos de expressão ainda são minoria e enfrentam desafios enraizados na sociedade, como machismo, preconceito, desconfiança sobre sua capacidade de gestão, assédio moral e sexual.
Muitas mulheres em cargos de chefia são pressionadas, inclusive a se vestirem de uma certa forma para serem respeitadas, o que reflete o machismo estrutural das nossas instituições.
A Ufopa é vanguarda em vários aspectos, incluindo em ter em sua atual gestão duas mulheres. É inegável o avanço propiciado pela atual gestão, modernizando a infraestrutura da instituição e levando prédios próprios a vários campi do interior.
O acolhimento ao servidor também foi considerado em várias ações realizadas pela Diretoria de Saúde e Qualidade de Vida (DSQV), organizando os exames médicos periódicos dos servidores, inclusive já realizado em 2025, a campanha janeiro branco chamando a atenção para o importante tema da saúde mental, além do programa Atitude e Saúde, da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEP), entre várias outras ações.
No ensino, salas de aulas foram modernizadas e vários programas de acolhimento aos estudantes, como a implementação da bolsa permanência que é fundamental para uma vida digna aos estudantes de baixa renda. Eu mesmo tive vários alunos advindos de comunidades ribeirinhas e quilombolas que dependem dessa bolsa e fico imaginando se esse programa não existisse.
Um marco histórico na Ufopa foi a aprovação do novo curso de medicina em parceria com o governo federal, um sonho de longa data e cuja realização trará novos profissionais médicos que irão ajudar a melhorar o nosso sistema de saúde, tão combalido e precário.
A gestão atual da Ufopa também avançou na pesquisa e inovação. Como professor da instituição, fundei a startup Neuroprotect em 2021, com endereço fiscal na própria Ufopa, que, em colaboração com a Ufopa/UFPA, Centro de Inovação e Ensaio Pré-Clínico (CIENP)/EMBRAPii estamos prestes a enviar para a Anvisa um relatório solicitando testes em humanos do primeiro neuroprotetor natural do mundo derivado do gergelim Amazônico, além de um nutracêutico em colaboração com pesquisadores da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).
Testes em modelos de Alzheimer também estão sendo realizados em colaboração com pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego (USCD), o que mostra evolução do processo de internacionalização da Ufopa.
No campo da inovação, a atual gestão implementou a incubadora de empresas InTap, que realizou um edital recente, em colaboração com o Sebrae, agraciando vários jovens empreendedores e seus produtos inovadores que irão transformar e beneficiar a sociedade do oeste do Pará e a Amazônia como um todo.
Além disso, a unidade Embrapii da Ufopa, a G-Bioforest, está transformando a Amazônia, financiando projetos inovadores de alunos e professores, com um elo forte entre conhecimento tradicional e ciência, fortalecendo a bioeconomia. Tudo isso com muita captação de recursos de emendas parlamentares e de convênios com o governo federal, além de outros convênios.
A força das mulheres é inigualável e o poder de transformação das mesmas, sua energia, força e desempenho estão mudando o mundo.
Vamos deixar as mulheres transformarem a Amazônia!

⚀ Walace Gomes Leal é neurocientista e professor do Instituto de Saúde Coletiva da Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará); do Programa de Pós-Graduação em Neurociências e Biologia Celular (UFPA); do Programa de Pós-Graduação em Fisiologia e Bioquímica (UFPA). E da Rede Bionorte (Ufopa). Escreve regularmente no JC.
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Caro professor, Walace Leal, que as mulheres transformem a Amazônia, porém, que esse papel transformador seja dado às mulheres competentes e, sobretudo, àquelas que respeitam a diversidade e os povos tradicionais desta região.