
por Anísio Quincó (*)
Há muito que nos agrupamos em lugares chamados de cidades e, com isso, dificuldades de convivência entre suas populações fizeram surgir normas de ocupação desses locais.
Nestes tempos contemporâneos, de melhor uso dos nossos recursos naturais e humanização das cidades, nossos prédios tem sido uma resposta para essa mudança. A urbe e quem habita: completa harmonia.
E que tudo isso tem haver com Alter?! Absolutamente tudo, e um pouco mais.
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Com os holofotes voltados para a vila, nossas praias e nossa cultura, e o aumento da atividade turística, é natural que se suscite debates dos mais diversos temas, desde o ordenamento das embarcações ao longo da orla e, agora, quanto à altura das construções na região.
Um mesmo lugar tem várias facetas. O que para uns é só um lugar de passagem, para outros esse lugar é sua própria vida. E é por isso é tão importante planejar as cidades. E em Alter do Chão não poderia ser diferente: a queridinha dos santarenos agora ensaia uma carreira internacional.
A ‘Alter pra quem a habita’ vai muito além da famosa imagem da península de areia coroada pela Serra Piraoca. É o palco de suas vidas, de onde retira o sustento e faz parte da identidade do lugar. Já para o visitante, Alter é uma marca, pois ele compra o pacote ‘praia + cultura + floresta’.
Se se vive e se vende aspectos amazônicos, a cidade não deveria estar em consonância com esse conceito?
Um dos aspectos principais do projeto urbano é a harmonia dos edifícios, tecido urbano e espaços públicos, e o que tudo isso tudo produz como cidade.
Os edifícios não podem ser pensados como organismos autossuficientes, tampouco serem projetados sem pensar no todo. Por isso, as normas que regem a ocupação e aproveitamento de terrenos são importantíssimas para ditar as regras de conversa entre as construções e a cidade. O segredo de um projeto urbano de sucesso está em planejar essa simbiose.
O que mais preocupa na proposta de se construir com 19 metros de gabarito é como e onde será executado isso. Algumas vias da vila são estreitas, e o impacto de um edifício de 5 pavimentos (térreo + 4 pavimentos + reservatório superior de água) sobre um rua de 10 metros de largura, e com somente 5 metros de afastamento frontal, é assustador.
Para Alter do Chão, não há como decretar alturas sem fazer um estudo do que há ali, tampouco responder questionamentos básico. ‘Quais são as ‘cenas’ que queremos manter? Que tipo de construção se pode fazer? Por que não tomar a altura da Igreja de Nossa Sra. da Saúde como referência?’

Temos dois exemplos (dentre muitos) para embasar nossas decisões.
O primeiro, é de Balneário Camboriú, onde foram construídos prédios que criaram zonas de sombra na praia. Um fiasco.
O outro exemplo, já positivo, são que as cidades planejadas (seja contemporânea, seja antiga) sempre tem algum ponto em que respeitam alturas ou preservam cenas. No caso de Barcelona, os edifícios jamais podem ser mais altos que a montanha de Montjuïc. Nem o badalado Templo Sagrada Família de Gaudí.
Isso não quer dizer que Alter tenha que ter edifícios da altura da Serra Piraoca. Tem que se construir edifícios de qualidade à altura de Alter: apaixonantes e harmônicos.
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* É arquiteto, especialista em Projeto Urbano.
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Parabéns pelo texto. Palavras conscientes, que demonstram conhecimento e que suscitam a reflexão. Espero que sirvam para que os órgãos públicos e, principalmente, a população que ama e respeita Alter-do-Chão possam fazer algo antes do “leite derramado”. Do contrário, vai acontecer o mesmo caso envolvendo aquele prédio construído na Orla, que impede a visão do Mirante e com o fim da Praia da Vera Paz pelo Porto da Cargil.
Muito inteligente
Só poderia vir de uma mente brilhante
Muito bem, amigo…Devemos discutir isso tudo em profundidade e com muito bom senso. A saúde da cidade com áreas verdes, arquitetura adequada e vias que privilegiem os pedestres e ciclistas é a garantia de saúde física e mental de todos nós.