O coveiro e o Galinha Preta – parte I

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albenor
Albenor, aos 17 anos, na banda do Colégio Dom Amando, em Santarém

por Apolinário (*)

Blog do Jeso | ApolinárioComeçou a acontecer quando Albenor, com apenas 17 anos, observava pela vidraça do Colégio Dom Amando um pedaço de uma folha de papel sendo levada pelo vento, que se expressava de todas as formas possíveis que um vento forte, veloz, turbulento, às vezes brando calmo e suave, tem em sua existência.

Foi possível relembrar todos os momentos em que ficou desde os 4 anos delirando e contemplando aeronaves, pássaros, insetos, pipas, cata-ventos, folhas secas e qualquer coisa que o vento em seus diversificados temperamentos pudesse tirar do solo e fazer voar.

O papel finalmente aterrissou, ficando colado à vidraça, dando uma pausa a essa fantasia exatamente quando a professora de Português, Edith Bemerguy, entrava em sala para dar sua inesquecível aula.

Albenor, exemplar aluno, com poucos deméritos e quase sempre no quadro de honra (regimento interno do colégio que pune o aluno quando sai das regras ou leva para o reino da glória o aluno bonzinho) totalmente carente, boa pinta, muito bem visto pelos amigos e gatinhas da época. Começava a se despedir do seu último ano de ensino médio e anunciar que iria viajar para São Paulo com intenção de fazer curso para piloto de avião.

Imaginava-se belo vestido naquela roupa de piloto, comandante dos bons tempos da Varig e Vasp, roupa toda branca, com medalhas e botons para todos os lados, boeing cheio de passageiros comandado por ele. E assim aconteceu: foi para São Paulo.

Com apoio do pai, senhor Luiz, comerciante, homem próspero que negociava para as bandas do garimpo, em meados de 1980, Albenor ficou um semestre na escola de aviação. Foi necessário ir a Itaituba para fazer estágio em pequenas aeronaves para completar as horas de voo necessárias e retornar a São Paulo fazer simulador e concluir o curso. Foi quando pegou a primeira aeronave, que pertencia a um pioneiro na área, conhecido como Pinto Louco, tratava-se de um Cessna, monomotor, de fabricação americana.

Com neste avião que Albenor cruzou fronteiras e garimpos, sobrevoava os céus dessa região garimpeira em plena febre do ouro. Cruzava as fronteiras de garimpos – Patrocínio, Abacate, São José, Moraes de Almeida, Jacareacanga, e foi achando mais divertido e mais rentável esse tipo de piloto, que não tem farda branca, não tem status de empresas, não é chamado de comandante, não tem medalhas, nem botons. Contudo, abriu uma possibilidade enorme para deixar de ser o Albenor dependente do pai e das vontades religiosas da mãe, que o pôs em seminário, onde se sentia humilhado, sendo colocado para cortar lenha e fazendo trabalho de escravo.

Sem esquecer o impacto que teve quando descobriu que aquele padre de aparência santificada, de semblante acessível da igreja, que benze as velhinhas, que faz os casamentos burgueses, celebra missa em inauguração nas lojas de bacanas, não é o mesmo com os noviços. Dentro do seminário, age como um verdadeiro carrasco, administrando trabalho forçado.

De certa forma, Albenor tem marcas em forma de feridas no coração por nunca ter tido dias fáceis, barato ou ofertado. Foi descobrindo segredos na região garimpeira que só quem olha tudo das alturas é capaz de descobrir, e foi se capitalizando, comprando propriedades.

Chegou a comprar sua primeira aeronave e logo entrou no ramo da venda de combustível. O sangue que circula nas veias dos corações das dragas do garimpo se chama óleo diesel e um universo de coisas assessoram os homens que igual minhoca se espalham pelas entranhas das matas virgens, rios, córregos e lagos.

Albenor fechou um grande contrato com a bandeira da Equador, passou a movimentar centenas e centenas de litros de óleo diesel por dia para garimpos, cooperativas, empresas e pessoas físicas.

Em pouco tempo, passou a ser considerado um homem muito bom de negócio, mas também, no meio das negociações, foi se deparando com situações complicadíssimas. Foi roubado, enganado, teve prejuízos por causa do amadorismo de profissionais da área, mas sempre de cabeça erguida resolveu seus problemas e aos poucos foi deixando de ser uma pessoa serena e calma, como proposta de defesa para não ver o que é seu sendo tomado por outros.

Em 1999, já tinha o melhor posto de combustível em Itaituba, na Rodovia Transamazônica, local bastante movimentado, pátio cheio de carros, carretas, com loja de conveniência, restaurante e a famosa Ilha Gelada, onde caminhoneiro pode chegar, tomar cerveja, refrigerante ou água bem gelada. Emprega dezenas de famílias em sua empresa – Petroville, e sempre abriu crédito para quem tem muito e quem tem pouco. Mas certo dia bateu em sua porta alguém que, mal intencionado, se apresentou como advogado procurador da cooperativa dos garimpeiros do Garimpo São José do Ouro Roxo.

Iniciou a conversa oferecendo vantagens, negociando tudo em nome da cooperativa, assumindo a parte burocrática dos negócios, assinando notas e ampliando margem de compra. Tratava-se do advogado Dinho, mais conhecido desde a infância como “Galinha Preta”. Começou a negociar no ano de 2000 e se estendeu a 2002, enriquecendo, tirando muitas vantagens do negócio. Recebia o dinheiro, os valores da cooperativa em ouro e não repassava para Albenor e ia empurrando a dívida com a barriga, que ate 2002 já era mais de dois milhões de reais.

Albenor sempre dizia: “Doutor, a dívida esta muito grande, vamos acertar, preciso também pagar meus fornecedores”. Galinha Preta tufava o papo e dizia simplesmente: “Calma, meu amigo, você vai receber tudo em ouro, e o dobro disso vou lhe adiantar para depois pegar em óleo. Vamos inverter o jogo, fique tranquilo”.

Obs: na segunda parte deste episódio, tudo como aconteceu a morte e o fim de “Galinha Preta” no poço.

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* Santareno, é artista plástico. Escreve regularmente neste blog.


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36 Responses to O coveiro e o Galinha Preta – parte I

  • Marcio e Aparecida, não troquem seus merecidos esforços de luta do seu dia. Aparecida querida vc está aposentando como secretaria do maior colégio de Santarém tenha orgulho, não leia bobagem
    querida. Marcio vc já é um grande advogado. Ocupem seus lugares.

    Beijos. Já tenho mais de 50.

    Que a Paz esteja no coração de todos vcs.

  • Olá seu Jeso Carneiro

    Fiquei muito triste quando li estas palavras do seu APOLINÁRIO, principalmente falando de minha mae a quem eu considero a pessoa mais importante na minha vida, depois de DEUS nesta terra, todos nós sabemos o que aconteceu a 10 anos no dia 27 de setembro, o meu IRMÃO DINHO não tem como se defender destas palavras do seu APOLINÁRIO pois está enterrado, mas gostaria que ele respeitasse a dor de minha mãe e parasse com essas história de coveiro e galinha preta, por que também se fosse criar uma história sobre sua vida daria um livro, não é seu Apolinário, e que livro, mas não gosta de me meter na vida dos outros, por que não sabemos o nosso dia de amanhã e este dia pertence ao nosso papai do céu, e a ele que entrego tudo que fizeram com meu irmão, sei que a justiça está próxima e ela será justa, faça-me o favor vá trabalhar ou já está trabalhando ganhando quanto para defender este ALBENOR, cuidado APOLINÁRIO tudo que fazemos neste terra temos a resposta lá do nosso DEUS. Por favor deixe meu irmão e minha família em paz. Quer ganhar ibope, faça algo que realmente seja digno.

    1. Prezada Sra. Maria Aparecida de Sousa lima, ninguém é mais responsável pelo o que aconteceu com o seu irmão do que ele mesmo, não estou inventando nada. Apenas estou contando o caso do jeito que aconteceu . Se a verdade não é do seu interesse é natural lhe causar dor…
      Fique a vontade se quiser escrever alguma coisa ao meu respeito.
      *Acho que dignidade também não é o seu forte*

  • Olhe, não conheço a família do Advogado Dinho, mas uma coisa eu tenho certeza, pois eu ja ouvi em roda de conversas, que desde que o Advogado morreu, a família NUNCA foi a imprensa e ficou atacando a pessoa do Individuo Albenor Moura e nem a sua família, NUNCA li nada e nunca vi nada a respeito de Albenor Moura, vindo de algum integrante daquela família e ate onde eu sei, espera ate hoje a Justiça nesse crime bárbaro!
    Meu caro, o fato é o seguinte, nada que se diga a favor do Assassino Albenor Moura, vai mudar o seu destino, a JUSTIÇA humana é falha, mas a JUSTIÇA de Deus é muito certa e justa!
    Se um dia quem sabe, alguem chegar a fazer o que este individuo chamado Albenor, fizer com alguém da sua família, ou ate mesmo contra o Senhor Seu Apolinario, quero só saber qual sera o titulo do seu conto: O caveiro e o Blogueiro? seria uma boa pedida!
    O fato é que BRINCAR com a dor de uma família inteira, não é honroso e nem é um ato digno de aplausos!
    Mantenha seu blog com a VERDADE!
    por mais que isso lhe custe ficar sem uns tracadinhos a mais na carteira.

      1. Caro Jeso!

        Apesar de não conhec-lo pessoalmente, mas conheço seu blog e sei que não será parcial, portanto, só peço que não deixe uma pessoa escrever coisas inveridicas, pois aquele não acompanhou em nenhum momento a história.

        Desde ja te agradeço

        Marcio

        1. Caro Márcio, o blog está aberto a você ou a qualquer outra pessoa para o devido contraponto sobre o caso.

    1. Caro Bruno!

      Vc esta certo. Nos da familia nunca procuramos outra solução para o caso a não ser através da Justiça!

      Vale lembrar que Apolinário pensa que quem foi assassinado foi um cachorro.

      Obreigado pelas palavras, mesmo não lhe conhecendo e é este apoio que precisamos de pessoas de boa indole dentro da sociedade Santarena.

      Marcio sousa

      1. nobre marcio , estou neste caso a oito anos , sei de coisas que voce nao sabe. So a dona eva sabia dos segredos do dinho e em seus ultimos dias nem mesmo pra ela ele contava mais … Tem coisas do homen que a familia so fica sabendo por ultimo. Quanto ao cachorro foi voce que pensou por mim .

  • Caro senhor Apolinário!

    Meu nome é Márcio e sou filho de “Dinho” que foi citado em seu texto expresso neste eminente blog.

    Não sei o seu grau de amizade com o individuo Albenor, mas esta muito estranho o tema e tal história, quando foi obtido mais um vitória da familia de Dinho, ao ser proferido decisão do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado, em que foi Desaforado o Jurí que tem como réu o senhor Albenor Moura do Município de Itaituba para a comarca de Santarém.

    Cabe ressaltar que foi desaforado o jurí pelo fato de aquele e seus advogados terem tentado comunicar-se com um dos jurados (foi filmado pelo reporter Amaral e entregue ao juiz) e com isso naquele dia foi dissolvido o conselho de sentença por quebra de incomunicabilidade.

    Nobre Apolinário, se o senhor começar a reelembrar o fato ocorrido em 2003 em que vitimou “Dinho” e teve como acusados os senhores Albenor Moura, Luiz Lobo – vulgo “Lobo”, Francisco Tavares – Vulgo “Amoroso” e Fabrizio, então passará a mudar de ideia e escrever a verdadeira história sobre o cidadão que o senhor tanto vem exaltando, pois tal individuo cometeu um barbarie ao torturar, cortar as mãos, degolar, desferir um tiro na nuca e queimar parte do corpo de “Dinho”.

    Vale destacar que o corpo ficou mais de 45 dias sem ser encontrado e com isso deixando a familia sofrendo e desvirtuada.

    Dinho, nasceu em Santarém, foi jogador dos principais clubes de futebol de tal cidade e desde sua adolescencia trabalhou licitamente com seus genitores (Adão e Eva)no ramo de farinha.

    Só para lembrá-lo que “Dinho” tem Mãe e Pai que são pessoas idosas, Esposa que é uma pessoa bastante debilitada desde que Dinho morreu e tem filhos, inclusive menor de idade e, o que esta expresso em seu texto que são coisas inveridicas estão deixando todos sofrendo,

    Diante disto, então por gentileza! Procure contar a verdade em um Blog tão respeitado da Pérola do Tapajós, pois caso continue difamando como fez ao atribuir o apelido para Dinho de “Galinha Preta” e ainda fazer difamações, então além de ser judicialmente ser processado pela familia, ainda poderá levar este meio de comunicação ao descredito.

    [Salmo de Davi] SENHOR, quem habitará no teu tabernáculo? Quem morará no teu santo monte?

    Aquele que anda sinceramente, e pratica a justiça, e fala a verdade no seu coração.

    Aquele que não difama com a sua língua, nem faz mal ao seu próximo, nem aceita nenhum opróbrio contra o seu próximo;

    A cujos olhos o réprobo é desprezado; mas honra os que temem ao SENHOR; aquele que jura com dano seu, e contudo não muda.

    Aquele que não dá o seu dinheiro com usura, nem recebe peitas contra o inocente. Quem faz isto nunca será abalado.
    Salmos 15:1-5

    Ass: Marcio Sousa

    1. caro marcio, sem essa de salmo biblico e lei para manipular a verdade do seu modo, a vida e uma corda bamba…

      1. Caro Apolinário!

        Não vou aqui ficar discutinho contigo, mas é estranho tu teres uma foto da adolescencia de Albenor e colocar em teu texto, portanto isso leva a crê que é um texto totalmente parcial.

        É bom salientar que a estratégia para fazer de Albenor uma pessoa bozinha não vai funcionar.

        Se não acreditas em Deus eu acredito e sei que ele é maior que tudo

  • blogueiros….contam a historia que a gente quizer, qndo damos uns trocadinhos! kkkkkkkkkkkkkk
    PATETICO

    1. a verdade nao tem dono e vai doer em auguem , sinto muito … Essa historia agora e publica , nada compra .

  • Ele é um bom narrador, sabe envolver e prender a atenção do leitor. Essa história eu já tinha escutado com outras palavras….

  • Patetico! Vai querer transformar um assassino q matou, tentou esquartejar e queimou um advogado em um heroi. A OAB deveria intervir pois o adbogado estava em serviço quando foi morto.

  • Percebo que o Apolinário sempre escreve sobre crimes que envolvem mortes.
    Pra ser sincero eu gosto como o Apolinário escreve.
    Sempre leio todo o texto dele com vontade de terminar.
    Como parece ser sobre crimes que o Apolinário gosta de escrever. E como sua ótica sobre casos policiais é sempre instigante, vou sugerir outras histórias:
    Em Santarém:
    * Crime de Benedito Guimarães quando delegado;
    * Os irmãos Ganzer e o incêndio na sede do STR;
    MAIS RECENTE
    * O suicidio daquele médico que agredia a esposa;
    * Assalto ao Banpará;

    Nacional
    * Morte de PC Farias;
    * Morte de Ulisses Guimarães;

    Internacional
    * Morte do papa João Paulo I;

    Se pudesse escrever sobre crimes sem morte, poderia escrever sobre o ex prefeito azarado que foi assaltado três vezes com todo o dinheiro da prefeitura e que hoje é procurador da Ufopa em Santarém: Bernadinho Ribeiro, cuja história mereceu um especial da Revista Veja:
    “Pragas urbanas: Desperdício, desvio e corrupção”. Na Edição 1851 . 28 de abril de 2004.
    veja.abril.com.br/280404/p_040.html
    ” Os 20 000 habitantes de Ponta de Pedras, cidade situada na exótica Ilha do Marajó, no Pará, tinham razões de sobra para entrar em estado de alerta cada vez que o prefeito viajava para Belém para sacar o dinheiro da prefeitura. Em abril de 2001, ele desembarcou na capital, sacou o dinheiro e foi assaltado. Foram-se 160 000 reais. Quatro meses mais tarde, o prefeito retornou a Belém, retirou o dinheiro e deu-se novo infortúnio: roubaram-lhe 120 000 reais. Passaram-se dois meses e ele voltou a Belém, ao banco e – suprema desgraça – ao assalto. Dessa vez, sumiram 80 000 reais. Em sete meses, o prefeito Bernardino Ribeiro, do PSDB, sofreu três assaltos. A cidade logo entendeu por que o prefeito não usava o posto bancário de Ponta de Pedras e fazia questão de manter a conta em Belém, a três horas de barco, e sacar tudo em dinheiro vivo. Em agosto de 2002, acusado de improbidade administrativa, ele perdeu o mandato. “Alguns funcionários da prefeitura ficaram até seis meses sem receber salário”, conta a vice-prefeita, Consuelo Castro, que sucedeu ao cassado – e nunca foi assaltada”.

    1. fico com a do papa joao paulo l morto por uma xicara de cha com veneno servido pelo proprio vaticano. as do bene sao fracas,na epoca a policia nao tinha outra saida

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