A sociedade do carbono – I

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. O regime energético da globalização

por Tiberio Alloggio (*)

A nossa época é caracterizada pelo fenômeno histórico conhecido como globalização.

Os seus defensores consideram a globalização um passo necessário para o progresso econômico dos indivíduos em todos os lugares do planeta.

Os seus detratores a consideram o pior mecanismo de domínio já vivenciado pela humanidade. Um verdadeiro sistema imperial, no qual as grandes corporações detêm o domínio mundial de todos os recursos da sociedade e os usam para aprofundar a diferença entre ricos e pobres.

De um lado, as grandes corporações multinacionais, que com o apoio das nações ricas, pressionam os Estados Nacionais a modificar as Leis que limitam seus negócios e a livre circulação financeira.

De outro, os movimentos anti-globalização organizando grandes protestos para impor limites às corporações trans e multinacionais na exploração do trabalho, dos mercados, e do meio ambiente.

É a contradição que mais cresce no mundo, a mais visível, mas que atrás dela se escondem as forças que induzem ao processo de globalização. Inclusive a mais importante delas: o regime energético da sociedade moderna.

Nosso regime energético é regido pelos combustíveis fósseis (Petróleo, Carvão e Gás) e sem eles a globalização nem existiria. Foram os combustíveis fósseis que permitiram aos grandes monopólios econômicos de encurtar os caminhos entre as sociedades do mundo todo, criando um único mercado mundial que explora os recursos naturais e o trabalho humano.

Para todas as gerações que viveram e vivem essa época, a geopolítica tem sido sempre sinônimo do petróleo. E todos aqueles que conseguiram dominar o seu fluxo, puderam gozar de riquezas e privilégios ilimitados.

Por isso, esta preocupação obsessiva das multinacionais e dos países ricos, de controlar a qualquer custo as jazidas de combustíveis fosseis.

Todos aqueles (a grande maioria) que não conseguiram um acesso adequado ao “ouro negro” acabaram fatalmente engolidos pela vala da marginalização e da pobreza.

A enorme divida contraída pelos países pobres originou-se no custo da energia. Na busca pelo acesso ao “sonho do desenvolvimento” acabaram por entrar na roda do petróleo, enforcando-se ao ponto de não ter mais como pagar tamanha divida.

Se por um lado os combustíveis fosseis foram a força vital que tornou possível a globalização e as novas formas de organização social como a urbanização e o estilo de vida burgues. Pelo outro, aprofundaram a vala da desigualdade entre países ricos e pobres, sacramentando o monopólio e a centralização politico-econômica.

Hoje, não passam de dez as mega empresas (publicas e privadas) que determinam o fluxo da energia no mundo, contribuindo ativamente ao processo de centralização de todas as demais atividades econômicas, que só favorecem a viabilização de economias de grande escala.

Nos dias de hoje, menos de quinhentas empresas transnacionais controlam a maior parte das atividades econômicas mundial.

Um sistema concentrado que levou fatalmente a grande parte da população humana a se entrincheirar em grandes cidades e megalópolis, que utilizam enormes quantidades de energia e que diante do iminente esgotamento do petróleo se tornam estrategicamente insustentáveis.

Nesse sentido, podemos considerar a globalização como o estagio final da era dos combustíveis fosseis. Um período no qual, um número cada vez mais restrito de instituições politicas e empresariais, dominam (em todos os aspectos) o fluxo de energia e a vida politica econômica de toda a comunidade mundial.

Três forças estão convergindo colocando em xeque a sociedade humana.

1) O fim da abundância do petróleo e seu custo cada vez mais caro, excluindo do seu acesso à grande maioria do planeta.

2) Os riscos de uma escalada de guerras e conflitos para a disputa do que ainda sobra desses recursos.

3) O aquecimento global que coloca o futuro do mundo e da humanidade numa situação precária, e cujas perspectivas são totalmente incertas.

(continua…)

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* Sociólogo, reside em Santarém. Escreve regularmente neste blog.


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