Quando criança, cresci cercado por jornais e revistas em quadrinhos. Meu pai Israel Queiroz era repórter fotográfico de um jornal impresso que circulava na cidade de Santarém e municípios vizinhos.
Guardo na memória uma imagem minha, ainda criança, talvez com sete anos, sentado no chão de assoalho de nossa casa no bairro da Prainha, a minha volta, folhas de jornais espalhadas.
Ao final do mês, quando recebia o salário, meu pai comprava revistas em quadrinhos para mim e para ele. Lembro que cheguei a juntar uma pequena coleção, os títulos eram os mais variados: Turma da Mônica, Tio Patinhas, Chapolin Colorado entre outras. A revista favorita do meu pai era a do caubói Tex. Talvez ele não imaginasse, mas nascia ali um ávido leitor e um aprendiz de escritor.
Em dezembro de 1992, mudamos para Alenquer e, eventualmente, quando acontecia algo excepcional na cidade, os antigos amigos de trabalho do jornal ligavam para o meu pai em busca de fotos ou alguma informação sobre o fato ocorrido.
Foi assim quando o então prefeito Gilvandro Valente promoveu uma grande festa na reinauguração do prédio da Prefeitura de Alenquer em 1995 e contratou praticamente toda imprensa de Santarém para fazer a cobertura do evento e lá estava eu, acompanhado do meu pai e também do tio Edson Queiroz que havia sido enviado especialmente por um jornal de Santarém para registar em fotos o grande evento.
Em Alenquer, meu pai se tornou um colaborador eventual do jornal Gazeta de Santarém, fundado pelo jornalista Celivaldo Carneiro em 11 de junho de 1989.
Na Gazeta foram publicados alguns registros fotográficos feitos por meu pai, como por exemplo o trágico acidente que decepou a cabeça uma mulher na antiga pista do aeroporto, o sepultamento do candidato a prefeito Esbagaçado e o prédio da Câmara Municipal consumido por um incêndio criminoso do qual nunca se soube qual o mandante.
Certa vez, quando estávamos em Santarém, encontramos com o Celivaldo, falei para ele que gostava de escrever e de pronto ele disse para eu escrever uma reportagem sobre Alenquer e enviar para o jornal.
Quando retornamos para Alenquer, peguei a maquina fotográfica de meu pai e saí tirando fotos dos buracos da rua Lauro Sodré, a rua do comércio e principal artéria da cidade, preparei um texto relatando a situação precária da rua e a ineficiência do poder público em resolver o problema.
O texto foi salvo em um disquete (era isso que usávamos antigamente) as fotos foram enviadas em negativo ainda para serem reveladas (era assim antes dos celulares com câmeras). Tudo foi posto em um envelope e enviado no barco da linha, na manhã seguinte estaria em Santarém.
Foram dois dias de ansiedade esperando o jornal chegar, eu tinha 15 anos e não esperava que me dessem muito crédito. No dia 12 de março do ano 2000 o jornal Gazeta de Santarém chegava aos leitores em sua edição Nº 533 e, para minha surpresa, a página 9 continha uma matéria de página inteira com o título “Sistema viário precário em Alenquer”, logo abaixo o nome do autor: Wildson Queiroz.
Aquela reportagem de página inteira me pegou de surpresa, não imaginava que minha primeira matéria teria tanto espaço. Ainda na mesma página um texto menor de minha autoria sobre o início da reforma da igreja matriz de Santo Antônio.
A primeira reportagem abriu caminho para muitas outras, algumas dezenas foram publicadas na Gazeta que sempre teve uma linha jornalística muito crítica com textos bem elaborados e fundamentados em fatos.
Aprendi muito lendo a Gazeta. Sem contar que fiz dois grandes amigos, os irmãos Celivaldo e Jeso, este último abriu as postas também para o seu blog, o Blog do Jeso, sem dúvida um dos mais respeitados do Estado do Pará, onde também já fiz algumas publicações.
De lá até os dias de hoje já produzi mais uma centena de artigos, crônicas e reportagens, a maioria sobre Alenquer, fundei dois jornais; Alenquer Notícias e o Jornal de História, além de 18 livros com temáticas diversas, mas tudo isso só foi possível por conta da primeira reportagem e da oportunidade recebida.
Ao Celivaldo Carneiro, amigo do meu pai e de minha família, minha sincera gratidão.
— * É pedagogo, historiador e escritor. Reside em Alenquer.
— LEIA também de Wildson Queiroz: O adeus ao alenquerense João Ferreira
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