Mala leve e coração vazio

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De Helvecio Santos, advogado e economista santareno residente no Rio de Janeiro, pelo contato do blog:

Ontem li no blog da Garapeira sobre a “passagem” do meu amigo Renato Agnelo Loureiro no domingo, 18/09. Embora seja o episódio final de nossas vidas, sem querer analisar o aspecto espiritual, não nos acostumamos com o fato.

Renato foi meu colega de Dom Amando, no ginásio, na década de 60 e desde então mantinha vínculos que se renovavam a cada ida à terrinha e tinha como fio de ligação minha ida à Garapeira. Era um ritual! Chegava, óculos escuros, sentava sob um benjaminzeiro e lá vinha o Renato. Lentamente se aproximava e olhava, olhava, olhava.

Por trás dos óculos estava a ponto de explodir de riso, o que acontecia quando ele se certificava que era eu. Invariavelmente, como um cavalheiro, brindava-me com lembranças a cada ida a Santarém. Coisas que só para nós tinham valor. Eram fotografias de uma Santarém que hoje só reside em nossa memória ou fotografias de nosso tempo de Dom Amando. Estas últimas não me entregava sem fazer um teste de memória sobre os fotografados. Ao final entregava-me a foto com o nome de todos, escritos no verso.

Lia todos os meus artigos e gostava de comentá-los o que também me dava imenso prazer. Embora ficasse a dever, procurava retribuir o cavalheirismo. Na última ida, levei uma camisa igual à que vestia quando o encontrei e ele prontamente experimentou e, verificando que não errara o número, perguntou como conseguira a proeza.

Respondi-lhe que meus abraços eram dados com a alma e esta tinha uma fita métrica para os amigos. Ele riu e disse que gostaria de ser novamente medido. Este ano pretendia levar uma camisa AZUL que expressasse o sentimento que me invade. Infelizmente minha mala irá mais leve e meu coração com um espaço vazio.

Quando da “passagem” do meu querido pai, o amigo Padre Valdir Serra disse que “Quando uma pessoa querida se vai, devemos redistribuir esse amor pois se assim não fizermos, ele cairá no vazio e se configurará numa perda”. Entre 15/12 e 06/01 estarei novamente na terrinha. Meus amigos terão abraços mais fortes!

Nesta pequena mensagem presto homenagem a uma pessoa sensível e que tinha duas qualidades raríssimas nos dias de hoje: sabia ouvir e dava atenção a todos que dele se aproximavam. Deus devia estar precisando de um ouvidor geral. No livro do Dr.Emir Bemerguy, “Diário de um convertido”, li que “as estrelas são buracos que Deus faz no céu para vermos quanta luz há do lado de lá”. Cismo que quando a primavera se firmar e este tempo nublado passar, terei noites mais luminosas no Rio de Janeiro.

Obrigado amigo, pela belíssima amizade e se Deus permitir n’outra encarnação quero ser seu colega de Dom Amando. Segura na mão de Deus e vai….ela te sustentará. Tchau!


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6 Responses to Mala leve e coração vazio

  • Seu Helvecio,

    Obrigado pela lembrança e parabéns pela mensagem bonita que vc nos transmitiu em rápidas palavras.

    Desde que conheci o seu Renato, logo me despertou o sentimento de admiração e respeito, pela sua seriedade, sinceridade, deu despreendimento, sua humildade e sua rara inteligência popular de homem que está sempre bem informado e que desenvolve sua interpretação coerente com os fatos…

    Seria uma covardia muito grande de minha parte trair toda a confiança que em mim depositou… Me acolheu com muito bom coração no seio de sua família e, como sogro, foi um pai…

    Só tenho a agradecer a Deus pelos poucos, mas bons momentos em que estivemos juntos!

    Sei que ele foi bem recebido no Céu e está nos cuidados do Pai. Obrigado Senhor por tudo!!!!

  • Venho aqui agradecer a todos que por ocasião da “passagem ” do papai nos confortaram , consolaram e em cada abraço apertado que me davam transmitiam energias positivas e sinceridade , aos que conheceram Sr. Renato e tiveram a dádiva de dividir a sua amizade , em todos os momentos bons e ruins , sabem que meu pai tinha um enorme coração , tão grande ,tão grande que numa tarde de domingo subitamente parou de bater , partiu sem despedida , sem dor, sem alarde , apenas deitou e foi levado pelo Criador. Foram 39 anos ao seu lado , vivenciando a caridade e amor ao próximo , as alegrias , as tristezas , as intensidades de suas emoções, ouvindo seus conselhos e observando suas experiências , admirando sua inteligência , sua sinceridade e renúncias em prol do outro , ensinou os filhos a importância de ter cárater e proceder corretamente , deixando um grande exemplo de pai e companheiro . Foi , é e será pra sempre meu melhor amigo , tenho certeza do nosso reencontro em uma “outra morada ” como ele mesmo dizia , e pai … eu to morrendo saudade ! Obrigada Helvécio pelo lindo texto ! obrigada Giovana , pela sua atenção conosco , pelo apoio nas horas dificeis , ao Barra , obrigada por externar sua amizade e lembrar mais essa do papai. Fiquem com Deus !

  • Meu Caro Jeso,
    O Sr Renato Agnelo Loureiro era amigo de meu saudoso Pai, Germano Valle. E quero ressaltar se você me permitir, em deixar registrado que uma das virtudes do Seu Renato era colocar-se a serviço do próximo. Nós sabemos o quanto era humano e praticava a caridade não fazendo nenhum tipo de discriminação entre as pessoas. Pra você ter uma idéia era a única pessoa aqui do Centro que conseguia dar banho no morador de rua João que perambula pela Praça da Matriz.. Com certeza e sem sombras de dúvidas foi recebido de braços abertos pelo Pai Eterno na morada celeste.

  • Caro Helvécio, saudações azulinas!

    Digno e verdadeiro o seu comentário!

    Digo isto, porque também, em menor lapso temporal, desfrutei da amabilidade e sinceridade do Renato, a quem certa vez denominei, de viva voz, como a enciclopédia ambulante da Terra da Felicidade, face as oportunas análises com que me presenteava, acerca dos acontecimentos antigos e atuais da Terra Querida! Para externar a grandeza da empatia que me ligava ao Renato, relato aqui que, certa feita, também no Senadinho, em um rasgo de papel solicitado ao balconista da Garapeira, e que guardo como um troféu, ele escreveu, ipsis litteris: ” Barra, o teu melhor amigo é o cara que sabe o pior a teu respeito, e continua achando que não tens erros, pecados e vícios, e continua gostando de ti”
    Grande Renato, obrigado pela oportunidade do comentário e que Deus o receba na Mansão dos Justos.

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