Prêmio Nobel da Literatura em 1998, José Saramago morreu hoje aos 87 anos, em Lanzarote.
É até hoje o único escritor de língua portuguesa a receber o Nobel.
Prêmio Nobel da Literatura em 1998, José Saramago morreu hoje aos 87 anos, em Lanzarote.
É até hoje o único escritor de língua portuguesa a receber o Nobel.
Parabéns ao Jota Ninos que dedicou, “sem pena”, sua brilhante poesia ao estupendo, com diz o Jeso, escritor José Saramago que se foi para ele, mas que ficou para nós através de sua obra e que um dia escreveu as seguintes frases: ” Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é so um dia mais”. Ou ainda, “O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas”.
Jorge Hamad
Ave, Saramago!
Dedico a ele, a poesia de minha autoria, vencedora do XIII Festival de Poesia, evento paralelo do 3º Salão do Livro (https://salaodolivro.wordpress.com/), prêmio que me foi dado ontem à noite:
apenados
jota ninos
a pena do juiz
que dança sobre a lisa superfície,
– pálida de medo –
é a mesma pena do condenado
cuja nódoa de sangue derramado
de um ser inanimado,
transmuta-se em toner de impressão,
transforma-se em artigos e jurisprudências.
a pena do juiz
que se esparrama sobre a plácida pista branca,
como que patinando no gelo da justiça,
é a mesma pena das mães em prantos
pelo filho que morreu
e pelo que vai viver
encarcerado…
a pena do juiz
não é feita de maiúsculas fontes
nem de hiatos e hipérboles
é a síntese da antítese de uma tese
não é poesia, nem prosa
não é feita de versos ou reversos
é apenas palavra após palavra
mas carrega a semântica
de um fim em si mesmo
a pena do juiz pode ser, ou não,
o reflexo de mentes abstratas,
semblantes cansados
de homens e mulheres do povo
no tribunal da consciência.
– a dona de casa lavou a roupa suja e pendurou sua conformação no varal, como sempre fez;
– o bancário somou os prós e contra e assinou em branco o cheque da razão;
– o estudante de biologia não se fascinou pelo direito e ainda prefere estudar o trypanossoma cruzis;
– a comerciária não vendeu a alma e nem perdeu a calma ao rabiscar seu talonário;
– o gari não jogou sujeira pra baixo do tapete e separou o joio da jóia;
– a assessora do político esqueceu o discurso demagogo e se fez cidadania;
– a professora deu a aula que ainda não havia dado e nem pensou no salário atrasado com gosto de giz.
na plateia, submersos em sono,
olhos esbugalhados têm sede de justiça
cada qual tem uma justiça
esquadrinhada no rosto
cada qual tem sua justiça
que é a mais perfeita de todos
cada qual tem sua verdade
que nem sempre é a do juiz ou do condenado
cada qual tem uma palavra a dizer
ou uma lágrima a chorar
cada qual é parte de um turbilhão
que não cabe no plenário
a pena do juiz
não contempla todas as justiças possíveis
a justiça dos advogados, dos promotores,
dos infratores, dos inocentes, dos indecentes, dos marginalizados, dos doentes, dos alienados
mas quem tem pena do juiz
que em seu ato solitário
há de converter seu relicário
em um ato feliz ou infeliz?
talvez ele mesmo não saiba
a dimensão de sua pena…
somos todos apenados
de uma forma ou de outra…
a pena do juiz não tem pena nem alento
não tem remorso, nem contentamento
a pena do juiz é fria, como a letra da lei
e se ajusta à flácida planície branca
trilhando levemente microporos
e sulcos invisíveis de uma folha em branco
onde nódoas de sangue
transformadas em toner de impressão
se formatam em verdade impune:
a lei é de todos para todos!
a lei é de poucos para nenhum!
Além de grande escritor, representante universal da cultura e lingua portuguesas, o que mais me impressionou em Saramago foi sua humanidade. Um ateu que não precisou de nenhuma religião para justificar o seu grande amor ao homem, a sua grande dor em ver a humanidade ficando cega, a violência, o preconceito e a covardia humana em buscar em um ser abstrato a justificativa para ser humano. Para ele bastava o homem enxergar-se como ser. Bastava ao homem buscar os valores éticos, o amor, a solidariedade entre irmãos.O que importa ao ser humano é sua vida compartilhada aqui e agora com todos, pois todos estamos juntos neste mundão caótico, mas se quisermos unidos um outro mundo é possível.
Jeso,
Foi-se um dos mestres. Passei e ainda passo horas degustando seu texto, primoroso, com personagens geniais. É como se morresse alguém que conhecia, tanto que li seus livros. Mas a vida é finita, não devemos lamentar. A obra deixada por ele é maior que sua morte. Sábio, lembro que em uma de suas falas, ao comentar a recente “onda” do twiter, que limita o número de caracteres escritos, ele sentenciou :”Daqui a pouco, ao homem só restará o grunhido”. Vá em paz e leve palavras e histórias para o infinito.
uma perda muito grande. Deu até vontade de chorar. Grande escritor. Minha sugestão de lietura: O Ano da Morte de Ricardo Reis. Muitas referencias a Portugal Salazarista, diálogos com Fernando Pessoa. Muito bom
Esta noticia entristece todos os que amam literatura, especialamente a literatura de língua portuguesa…
Saramago reafirmou a grandeza estética da nossa língua, já anunciada por Camões, em sua origem.
A perda de Saramago é realmente motivo de grande abalo para mim…
Concordo com vc., Francisca. Um estupendo escritor. Que seduz pelo estilo desconcertante. Que atrai pela pontuação estranha, que exige atenção redobrada. Que sabe nos envolver, leitores atrás de boas tramas. Encantei-me com O Evangelho Segundo Jesus Cristo, deliciei-me com Ensaio da Cegueira. E hoje sempre tenho um Saramago à minha espera em casa.