O renomado cientista político Adam Przeworski sustenta que dois modelos de desenvolvimento adotados pela esquerda se mostraram de grande eficiência: a social-democracia e o leninismo. A Venezuela, porém, não se enquadra em nenhuma dessas categorias. Em consequência, observa-se uma tendência preocupante de orientação do regime para o autoritarismo ou totalitarismo político.
Essa situação cria um dilema de trade-off para as esquerdas social-democratas latino americanas e a saída para esse dilema é complexa.
A análise da história tem de se orientar pelos fatos. E é fato que a Venezuela saiu de um modelo fracassado de capitalismo e mergulhou num modelo fracassado de socialismo. Em verdade, não há qualquer semelhança do modelo econômico e social do país vizinho com as práticas socialistas adotadas classicamente: estatização dos meios de produção, abolição da propriedade privada, planejamento econômico centralizado, igualitarismo social, sistema de bem-estar social, regime de partido único. Mas, no discurso, é assim que ele se autodenomina.
De todo modo, o obscurantismo da extrema direita e o romantismo das esquerdas radicais distorcem a compreensão do factual: o Regime Chavista venezuelano substituiu uma plutocracia de gerentes e burocratas de classe média com tendência autoritária e antissocial por uma plutocracia militar e sindical com tendência autoritária e antisocial.
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Os dois regimes, quando analisados à luz da história, demonstraram pouca eficiênia econômica, social, política e cultural para o país, pois sempre sobreviveu às custas de grandes sacrifícios aos direitos humanos.
No contexto latino-americano, onde Brasil, Bolívia, Chile e México têm orientado suas gestões pelo viés social-democrata, a situação venezuelana representa um desafio e um dilema geopolítico. Se, por um lado, a Venezuela pode ser percebida como uma fronteira e um muro contra o crescente extremismo fascista de direita na região, por outro lado, não se pode negligenciar tanto o sofrimento do povo venezuelano quanto a legitimidade das social-democracias latinas, que só podem prosperar em ambiente de democracia social e política efetiva.
O cenário criado pela Venezuela em relação ao dilema das esquerdas latino-americanas é complexo e multifacetado. Estamos diante do clássico dilema do trade-off em Ciência Política: qualquer uma das escolhas que a esquerda fizer neste momento terá ganhos de um lado e perdas de outro.
Para os governos social-democratas da América Latina, não é uma decisão simples o apoio ou afastamento da Venezuela. Apoiar, inevitavelmente, leva à imagem de conivência com o regime vizinho e à associação destes governos com o autoritarismo, o que pode afetar a legitimidade e os valores democráticos que eles próprios defendem e necessitam para se manter dentro do jogo político institucional.
Por outro lado, afastar-se da Venezuela significa perder uma importante e estratégica aliada na luta contra o avanço da extrema direita, assim como das arbitrariedades imperialistas norte-americanas.
Deste modo, a situação da Venezuela é o maior desafio geopolítico das esquerdas social democratas latino-americanas. Envolve habilidades para encontrar um equilíbrio entre manter seus princípios democráticos e gerenciar alianças geopolíticas complexas.
A solução para esse dilema não pode se orientar pelo clamor dos formadores de opinião para lá de comprometidos com interesses econômicos e geopolíticos hegemônicos, nem pelos clamores das massas de esquerda e direita.
Estes personagens, com ou sem consciência, defendem uma ruptura drástica com o regime chavista que pode arrastar a Venezuela para uma sangrenta guerra civil e tornar a pacífica América do Sul em mais um palco das disputas militares entre EUA x China-Rússia. E isso, sob todos os aspectos, é péssimo para o Brail.
O caminho para uma saída estratégica envolve o aumento das pressões e das negociações externas e internas com o regime chavista, a fim de promover uma distensão (processo gradual e seguro) política, uma conciliação com a justiça social e a democracia, a atribuição de garantias aos atores políticos de situação e oposição, assim como um equilíbrio sustentável com os interesses e pressões geopolíticas sobre a região.
Por isso, a decisão do governo brasileiro de não romper com o governo venezuelano e, ao mesmo tempo, manter o diálogo e a negociação com a oposição do país está correta. Porém, para ter eficácia, precisará que os dois atores políticos venezuelanos em conflito também queiram negociar, o que não tem sido uma prática comum ao longo da história daquele país.
Válber Pires, paraense, é doutor em sociologia. Escreve regularmente no JC. Leia também dele: Perigo: médicos brasileiros se declaram negacionistas e terraplanistas. E ainda: O poder evangélico nas investidas sobre os conselhos tutelares.
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Cuba, Venezuela, Nicarágua
Justamente aquela que enfrenta o Império EUA e sofre com as suas sanções criminosas.
O resto é bla… bla…bla…da esquerda do.quintal do Império
Sem Revolução