Heróis sem voz: minha admiração e respeito. Por Helvecio Santos

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Heróis sem voz: minha admiração e respeito. Por Helvecio Santos

Por decisão do governador do Pará, dizendo que o fazia “para que tudo seja esclarecido da forma mais rápida e transparente possível”, o delegado que conduzia a investigação sobre o incêndio ocorrido no final do ano passado na floresta no entorno de Alter do Chão, próximo à cidade de Santarém, foi substituído.

Por sua rígida disciplina funcional, o delgado substituído não deu um “ai” e mudo, sumiu da mídia.

Helvecio Santos (*)

Mesmo sendo substituto “O diretor da Delegacia Especializada em Meio Ambiente”, fica claro que essa decisão do governador desprestigia a Polícia Civil, a não ser que o substituto fosse um PhD em investigações sobre incêndios em florestas tropicais.

A substituição, por óbvio, se reveste de gesto político.

Depois dessa decisão, o massacrante noticiário jornalístico diário perdeu status de “capa de jornal” e também sumiu da mídia.

Por essa e por outras, tanto do governador quanto da população, considero os policiais uns verdadeiros heróis e aqui me refiro a policiais civis  e a policiais militares.

Penso que juntamente com os professores, são os pilares que sustentam uma sociedade. Enquanto o policial dá a segurança necessária para que vivamos em paz ou pelo menos tenta dar essa segurança, o professor transmite o conhecimento necessário e ninguém, absolutamente ninguém chega a juiz, médico, engenheiro etc, sem passar pela régua de um professor.

 

E por que digo que o policial é um herói?

Óbvio que este assunto daria um livro, mas aqui sintetizarei o que penso sobre esta afirmação.

Primeiramente é bom lembrar que a segurança deveria ser uma política de estado, mas é levada como política de governo e, como tal, precisa agradar os políticos. Quanto à população, se o policial não age, é omisso. Se age, na maioria das vezes, é acusado do uso de força desmedida.

Quem o aplaude? Ninguém!

O perigo é sua área de atuação e quando todos buscam abrigo ou fogem do local, o policial faz exatamente o contrário. Enfrenta o perigo com sacrifício da sua própria vida, esteja ou não em serviço.

Não descansa, está sempre atento, seja no trabalho ou no lazer, com os amigos ou familiares, pois o policial é sempre um inimigo dos marginais e alvo constante destes, esteja onde estiver.    

O policial é policial 24 horas por dia!

Não importa o dia, seja feriado ou não, não importa a hora, seja de manhã, à tarde, à boca da noite ou de madrugada, quando o patrimônio particular, a integridade física, o patrimônio coletivo estão em perigo, quem é chamado? O policial, claro!

Como o policial é policial em qualquer hora e em qualquer lugar, o seu lazer, o seu descanso, a sua paz, são oferecidos em sacrifício pela paz e tranquilidade de todos, e qualquer lesão a esses bens, lá está o herói na busca da autoria.

Se necessário, eles auxiliam e às vezes até fazem parto em viaturas ou vias públicas. Também participam espontaneamente de campanhas de doação de sangue e de campanhas beneficentes na época do Natal ou em qualquer época do ano e ainda conseguem fôlego para, no futebol, com os amigos, serem dos mais participativos.

Fazem tudo isso e muito mais que eu poderia dizer, com a péssima remuneração que recebem, com viaturas e equipamentos sucateados, com pouco ou nenhum conforto no local de trabalho, com armas que emperram nos momentos mais difíceis e munição que não inspira confiança.

E aqui eu pergunto: é heroísmo ou sacerdócio?

Óbvio, desvios de conduta há, mas nossa polícia é como qualquer polícia do mundo e em todas elas há banda podre, praga com maior ou menor incidência, mas sempre há.     

É bom lembrar que nossos policiais são originários de uma sociedade onde também há padres marginais, pastores marginais, políticos marginais, empresários marginais, onde os pais ensinam os filhos a levarem vantagem em tudo, onde técnico de futebol virou professor, onde o professor virou tio e tio é o que permite tudo etc etc etc.

Se quisermos uma polícia melhor devemos trabalhar para sermos uma sociedade melhor. É o único caminho!

 

Assim, antes de reclamar dos nossos policiais e jogar a culpa das nossas mazelas sobre seus ombros, cabe a pergunta: quem se habilita a ser alvo constante de bandidos em qualquer hora e em qualquer lugar? Quem se habilita a se arriscar tanto e ser pouco considerado pela sociedade que deveria tratá-los com respeito e tê-los como referência? Quem se habilita a receber tão pouco em troca do muito que dão?

Desnecessariamente o governador mostrou autoridade e gestos como esse em nada engrandecem a corporação. Ao contrário, só incentivam o povo a continuar olhando o policial com alheamento e descrédito.

Um gesto político dentro de um processo puramente administrativo. Só não vê quem não quer!

À vista disso às vezes me pergunto: que força sobrenatural leva o policial a tanta dedicação frente a tamanho descaso?

Só encontro uma resposta: ser policial é mais do que isso. Ser policial é um sacerdócio.

Também, esperar o quê, num país onde participante do programa televisivo BBB é tido como herói?

Mas sou otimista!

Espero viver o bastante para ver uma sociedade onde policiais sejam respeitados, vistos  como referência e reverenciados como verdadeiros HERÓIS, o que é muito pouco por tanto que fazem em prol da sociedade.

HERÓIS SEM VOZ, recebam minha admiração e respeito!

P.S.: com estes escritos homenageio esses HERÓIS SEM VOZ e seus familiares.  


— * É advogado e economista santareno. Reside no Rio de Janeiro, de onde escreve regularmente neste blog.

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8 Responses to Heróis sem voz: minha admiração e respeito. Por Helvecio Santos

  • Esses policiais são eficientes, ainda mais quando a vítima é um deles . Por outro lado, deixa a vítima ser pobre, sem influência.

  • Parabéns Dr Helvecio! Os policiais são os verdadeiros heróis. É ainda tem lutar contra quem deveria apoiar. Faço das suas palavras a minha.

  • E olha que na cidade onde o Helvécio mora, o Rio de Janeiro, há muitos exemplos desabonadores da conduta de policiais: assassinato de juíza, morte de crianças, relação promíscua com o crime organizado e milícias… Mas isso são notícias que se vê na mídia. Vai ver que nem é verdade…

    Eu, de minha parte, nunca soube de algum policial que tenha tentado extorquir o cidadão ou que tenha praticado abuso de autoridade. Nem ouvi de pessoas, com as quais convivo ou conheço, casos de má conduta de policiais…

  • Parabéns e obrigado pelas suas sábias palavras de reconhecimento.
    Meus respeitos é admiração.

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