por Sidney Canto
Dia 15 de fevereiro de 1969
O prefeito Elinaldo Barbosa dos Santos é assassinado dentro do gabinete da Prefeitura Municipal (hoje Museu João Fona) pelo senhor Severino Frazão, ex-administrador do Mercado Municipal. Horas depois, o assassino foi morto a tiros pelo sargento da Polícia Militar do Estado Raimundo Hércules.
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Jeso, no mesmo 15.02.1969, eu então com meus 9 anos de idade, pouco antes do ocorrido, vi passar pela esquina da Tr Francisco Correa com a antiga Rua João Pessoa (ainda sem a Praça dos Pescadores), o Sr. Frazãoo (um homem forte e moreno) em direção a prefeitura municipal. Naquela época, no endereço citado, meu pai trabalhava na “Casa Martins” (de propriedadede de Joaquim Martins – que chegou a governar a cidade por alguns dias). Apesar da pouca idade e do tempo transcorrido, lembro claramento o rápido diálogo entre Frazão e meu pai, ocasião onde o primeiro disse claramente que iria acertar contas com o Elinaqldo Barbosa. Minutos depois tomamos conhecimento do trágico desfecho que culminou com dois assassinatos.
Caro Sidney, cheguei à prefeitura de Santarém cerca de 20 minutos após o assassinato do prefeito Elinaldo Barbosa. Era um sábado, ali pelas 10 horas da manhã.
Eu estava em Santarém depois de trancar minha matrícula na Universidade Católica de Pernambuco, a Unicap, em virtude das ameaças dos militares após a decretação do AI-5. Estava trabalhando como correspondente de O Liberal e também na Rádio Rural.
Quando entrei na antessala do gabinete, o corpo de Elinaldo estava no chão, de peito pra cima, braços abertos, camisa meio desabotoada mostrando o peito perfurado pelas balas. Os tiros deflagrados por Frazão foram dentro do gabinete, atingindo tgambém a parede atrás da mesa usada pelo prefeito. Mesmo atingido mortalmente, Elinaldo ainda conseguiu forças para levantar e sair do gabinete, indo cair da sala de espera, entre mesas e cadeiras.
Quando cheguei, o Frazão já tinha se refugiado na casa dos padres seculares, na rua ao lado direito da igreja de S. Sebastião. Estava na casa o Padre Daniel, que conversava com Frazão sobre a necessidade de negociar com a polícia, do lado de fora, para ele se entregar.
Ocorre que a guarnição da PM, naquele momento, era comandada por um oficial que era amigo de infância de Elinaldo, se não me engano, e estava possesso de ódio. Cerca de 40 minutos a uma hora depois de entrar na casa do padre, ficou acertado que Frazão se entregaria, saindo pela porta que dava para o quintal da casa do sacerdote. Eu estava na frente da casa, que estava cercada. Foi quando todos ouvimos um único disparo, que foi mortal para Frazão. A bala atingiu a região do umbigo, e o corpo dele ficou horas no chão, no quintal do religioso.
Foi um ato de extrema covardia daquele oficial, pois, por intermediação do padre, o oficial da PM tinha aceitado que Frazão iria se entregar. Ele já tinha, inclusive, entregue a arma do crime. Mas, na hora da saída, o oficial sacou a arma e o matou.
O episódio todo deveu-se às mudanças na política local, desde que Elias Pinto tinha sido eleito prefeito e depois retirado do cargo pelos vereadores e por tropa mandada de Belém pelo coronel Alacid Nunes, governador, resultando na morte de outras pessoas e no baleamento do brigadeiro Haroldo Veloso. Frazão era correligionário e amicíssimo de Elias Pinto e tinha sido posto em disponibilidade (uma meia demissão) por Elinaldo, que ocupou a prefeitura em meio a toda a confusão da cassação violenta de Elias.
Como administrador do mercado central da cidade, Frazão se sentia desprestigiado e, naquele sábado, foi ao gabinete ajustar contas com o prefeito Elinaldo, a quem acusava de havê-lo humilhado. Se houve conversa entre ambos dentro do gabinete, ninguém sabe, ou se sabe, até agora não falou. Geralmente aos sábados apenas o prefeito e poucas pessoas iam à prefeitura.
A morte de Elinaldo foi a gota d’água para o município de Santarém ser decretado como área de segurança nacional pelo governo militar, que mandou o capital Elmano de Moura Melo como interventor. Dessa forma, o crime de Frazão não foi um crime comum, mas um crime que se insere naquele quadro de anarquia que tomou conta da política de Santarém desde a eleição de Elias, no ano anterior. Para se ter uma idéia, após a retirada de Elias Pinto, foram prefeitos, em curto espaço de tempo, os vereadores João Menezes, Oti Santos, Fábio Lima e Elinaldo.
Estas informações eu as tenho de cabeça, não consultei as reportagens que publiquei no Liberal e na Rádio Rural, na época. Se alguém tem informações mais precisas, pode corrigir o que aqui escrevo.
Caro Dutra,
Fui convidado a participar de um Seminário sobre “IGREJA E DITADURA MILITAR”. Ainda não dei a resposta sobre se aceito ou não por conta dos meus afazeres pessoais (vou assumir um trabalho na região do Lago Grande do Curuai).
Mas agradeço por você contribuir com todas essas informações “de cabeça”. Inclusive sobre a intervenção do Padre Daniel (Americano) que, por conta da Ditadura, foi “embora” do Brasil.
Obrigado…
Pe. Sidney vc saberia informar por onde anda o Pe. Daniel e o outro que estiveram envolvidos nesse epsódio.
Muito se fala de um sermão/protesto que o Pe. realizou em uma missa na Igreja de São Sebastião como motivo da retirada deles de Santarém, isso ocorreu ainda em 68.
Mas logo após a participação involuntária deles no epsodio do assassinato de Frazão os mesmos foram convidados a se retirar às pressas de Santarém.
Por favor se tiver alguma informação, ficaria muito agradecido, meu email cidmil@hotmail.com
Caro Paulo,
Tenho como ver algo sobre esse assunto tão logo eu chegue em Santarém…
No momento, minhas fontes de consulta estão fora do meu alcance…
Fraterno abraço!
Porque “covardia do oficial” meu caro Manoel Dutra, se o tal do Severino Frazão planejou (premeditou) a morte de Elinaldo e, como já mencionado era ” grande amigo” do Sr. Elias Pinto, para o qual o Elinaldo em nada concorreu para sua cassação, vindo a substitui-lo na Prefeitura por aclamação unanime da Câmara de Vereadores. O Prefeito Elinaldo não estava “armado” quando foi alvejado pelo Frazão, este sim o único covarde desta História. Some-se a isto o fato de o Sr Frazão ser um atirador de elite da Policial Militar, reformado (Aposentado antes do tempo) por apresentar transtornos psiquiatricos, fato pelo qual Elinaldo iria substitui-lo na administração do mercado municipal. Procure os seus “escritos” da epoca ,pois a sua memória não anda tão boa assim,e corrija-se procurando saber para poder reportar os verdadeiros fatos da História.