
Uma iniciativa conjunta implementada pela Ecam em parceria com a Conaq vem transformando a vida de centenas de quilombolas no Amapá. É o projeto Comunica Quilombo, que através de mentorias está fomentando ações de comunicação e publicidade voltadas à adesão à vacinação nos territórios na Amazônia.
A pandemia da covid-19 acabou intensificando vulnerabilidades de acesso à saúde e saneamento básico, historicamente já enfrentadas pelas comunidades quilombolas por todo país.
Nesse contexto, vários territórios relataram a demora na inclusão no Plano Nacional de Imunizações (NPI) e a ausência de uma comunicação específica para a realidade dos quilombos dificultou a adesão à vacina pelo público prioritário, conforme relatou a coordenadora da Conaq Amapá, Núbia Cristina.
“Só tivemos ações voltadas para as comunidades quilombolas a partir do cumprimento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 742, organizada pela Conaq Nacional e parceiros, que reconheceu o direito à implementação de medidas específicas para combate a Covid-19 e que garantiu também as doses da vacina e atenção básica nos momentos mais críticos”, explica Núbia.
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“Porém, ainda tivemos que lidar com fake news, divulgadas nas redes sociais, que acabaram deixando muitos quilombolas receosos quanto à vacinação. Inclusive, muitos grupos não tomaram a vacina por conta dessas notícias falsas. O projeto veio para tirar muitas dúvidas que ainda restavam sobre a importância da vacinação e sua aplicação”.
Comunicação diferenciada
Adotando uma comunicação de “quilombola para quilombola” voltada a disseminar informações sobre o acesso amplo, eficaz e com equidade à vacina contra a covid-19, bem como a sua aplicação segura e eficaz, o projeto estabeleceu um parâmetro de produção e divulgação de informações, diferenciado.
Para isso, quilombolas foram capacitados para produzir conteúdo, tendo recebido mentoria que abrangeu além da parte de redação criativa, noções de marketing e design, o que favoreceu para a construção de uma narrativa mais próxima das necessidades dos quilombos.
Com autonomia para criar, os mentorados desenvolveram um material rico e amplo sobre vacinação e outros assuntos, consolidando uma linguagem universal, que pode ser compartilhada também em espaços digitais, contemplando quilombolas de outros estados.
Grande ganho
João Salles, 50, remanescente da comunidade quilombola Lagoa dos Índios (Macapá-AP) é um dos três quilombolas que fazem parte das mentorias.
Ele que atua na Coordenação das Comunidades Quilombolas do Amapá (Conaq-AP) e há mais de 20 anos acompanha as demandas das comunidades do estado, prestando assistência social e buscando parcerias com órgãos públicos e demais instituições dedicadas em promover uma melhor qualidade de vida à população.
A liderança conta que o acesso à informação foi prejudicado durante a pandemia, por falta de um material direcionado às comunidades sobre como agir diante da covid-19.
“A gente ia para as comunidades e conversava com o povo, explicava para eles como tinha que fazer, porque uns diziam que a vacina não funcionava, que ia matar. Tinha muita gente que ficava com medo, e nós temíamos principalmente pelos nossos anciãos. O projeto foi um grande ganho, porque realmente as comunidades precisavam ser informadas sobre tudo o que está acontecendo”, ressalta Salles.

“Tem muita coisa que acontece na cidade que não chega lá [nos territórios quilombolas]. Então o projeto vai ajudar muito no desenvolvimento e no conhecimento das comunidades. O nosso objetivo nas mentorias é adquirir o que muitos quilombolas ainda não podem ter, por falta de acesso, e repassar para eles”.
Os materiais produzidos pelos próprios quilombolas estão sendo divulgados nas redes sociais da Ecam e da Conaq tanto nos perfis nacionais como do estado do Amapá. Além das peças digitais, o grupo produziu flyers e uma cartilha para comunicar o que os movimentos locais têm feito para mitigar os impactos da covid-19, assim como o papel de cada quilombola neste contexto. A cartilha tem previsão para ser divulgada nos próximos meses.
Sobre a NPI EXPAND
A USAID, a NPI EXPAND e a SITAWI Finanças do Bem se uniram para criar uma parceria para apoiar a Resposta à covid-19 na região amazônica brasileira por meio de parcerias estratégicas para alavancar soluções inovadoras e escaláveis para fortalecer a resposta rápida a emergências e ao combate à doença.
Entre 2020 e 2021, a primeira fase da iniciativa distribuiu mais de 23 mil cestas básicas e kits de higiene, capacitou mais de 500 agentes comunitários de saúde, doou mais de 1,4 milhão de máscaras feitas por costureiras locais e divulgou mensagens educativas de prevenção para mais de 875 mil pessoas na região.
Esta nova fase da está promovendo maior resiliência das comunidades amazônicas através do apoio amplo a vacinação contra a covid-19, campanhas de informação e combate à fake News, e apoiando os sistemas locais de saúde na região com equipamentos e insumos para detectar, prevenir e controlar a transmissão de covid-19, bem como realizar o acompanhamento de casos agudos de covid-19 e tratar as sequelas de síndrome pós-covid-19.”
Sobre a Ecam
A Ecam é uma organização que atua pela integração entre o desenvolvimento socioeconômico e o equilíbrio ambiental. Desde 2002, busca promover ações inovadoras, motivadas pelo interesse da sociedade e alinhadas à conservação do meio ambiente.
Atualmente, a Ecam possui projetos com diferentes setores da economia, nacional e internacional, que fazem parte de suas duas principais iniciativas: Ecam Projetos Sociais e Ecam Negócios Sociais.
Informações e texto da jornalista Dannie Oliveira
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