O desafio da expansão do ensino superior e a necessidade de amplo apoio político

Publicado em por em Artigos, Ufopa

por Raimunda Monteiro (*)

raimundinhaNão há dúvidas de que a criação da UFOPA foi uma ousadia política do Governo Federal, em 2009, com um projeto que, em sete anos, trouxe para esta região 41 cursos de graduação, seis pós-graduações acadêmicas e três profissionais e um contingente de mais de 1 mil servidores, entre os quais cerca de 200 doutores.

Leia também – Ufopa está entre as 5 melhores universidades federais no país.

Na semana passada, o Conselho Superior (Consun) da UFOPA concluiu um processo em preparação há mais de um ano, para a implantação de cursos regulares nos municípios com mais 50 mil habitantes no Oeste do Pará.

Foi homologada a Resolução de criação de oito novos cursos e os planos de concurso docente para os Câmpi de Oriximiná (Ciências da Computação e Bacharelado em Biologia); Óbidos (Pedagogia); Alenquer (Administração); Monte Alegre (Engenharia de Aquicultura), Juruti (Engenharia de Minas e Agronomia) e Itaituba (Engenharia Civil).

Com esta decisão, a UFOPA, que completa sete anos em novembro de 2016, oficializa o início da expansão do ensino superior público para uma região que está integrada ao mundo pelo comércio, desde os primórdios da colonização européia nas Américas, mas em muito padece do isolamento e esquecimento em investimentos básicos na valorização de sua população.

O caráter multicâmpi da UFOPA foi concebido na lei de criação (LEI Nº 12.085, DE 5 DE NOVEMBRO DE 2009), que estabeleceu que os núcleos da UFPA de Oriximiná e Itaituba e as unidades da UFPA e UFRA de Santarém como pertencentes a nova Universidade.

O MEC incluiu a UFOPA na sua política multicâmpi, destinando os recursos humanos e financeiros, desde 2009, para que fosse implantada nos sete municípios acima citados. Pelo entendimento da administração Pro-tempore, os investimentos e a criação de cursos foram concentrados em Santarém.

Mesmo assim, Óbidos, Oriximiná e Juruti receberam investimentos para reformas e construção, respectativamente. Em todos os municípios, as prefeituras tiveram um papel de grande importância, cedendo terrenos, oferecendo escolas ou melhorando o entorno das localizações da nova universidade federal que se instala em seus municípios. Foi assim em Óbidos, Alenquer, Monte Alegre e Juruti. Em Santarém e Oriximiná, a UFOPA se instalou em áreas pertencentes à UFRA e à UFPA.

No caso de Santarém, ainda são muitas as necessidades de investimentos do município, particularmente em urbanização, transporte e segurança pública, para atingir as condições ideais de funcionamento de uma universidade do porte de importância que a UFOPA tem para o município e região.

Em todos os municípios, os terrenos destinados à universidade se localizam em áreas periféricas, por serem maiores e precisarem de espaço para instalações de laboratórios, quadras de esporte, áreas experimentais.

Com as atividades acadêmicas, essas áreas passam a ter grande fluxo de alunos, servidores e trabalhadores que interagem com a universidade e com a sociedade.

Surge a necessidade de asfaltar, iluminar e sinalizar as vias públicas; as empresas de ônibus têm que estender suas linhas até os portões das unidades de ensino e os órgãos de segurança devem deslocar seus serviços para proteger as pessoas que acessam esses espaços. Ou seja, uma universidade federal depende, além dos recursos para infra-estrutura física e de pessoal, de vários outros investimentos públicos do município e do Estado para complementar os ambientes de seu funcionamento.

Estamos em eleições municipais. É claro que os resultados das eleições influenciam positiva ou negativamente na consolidação da nossa universidade.

A consolidação da sede, em Santarém, ainda depende de muitos investimentos e muitos deles, justamente que cabem à prefeitura. Nos outros municípios, a implantação dos cursos também vai requerer investimentos municipais.

Além de melhorias no entorno de cada campus, será necessário o empenho político dos prefeitos e de todos os parlamentares da região, para garantir que os recursos destinados às obras não sejam suspensos, como já vemos anunciado na PLOA 2017, com previsão de redução de investimentos na ordem de 30%.

Por causa desse corte, fomos obrigados a reduzir as metas pactuadas de cinco para dois e de dois para um curso por município, com exceção de Juruti e Oriximiná, onde a UFOPA tem parcerias com as empresas.

A implantação dos novos cursos precisou de um planejamento e do debate com as autoridades, parceiros e sociedade local, que culminou com audiências públicas que reuniram mais de 1.500 pessoas, em abril de 2016, quando o país passava por uma transição política inesperada.

Mesmo assim, a administração da UFOPA, considerou que deveria seguir com a implantação dos cursos nos seis municípios. Concentrou o concurso aberto, na consolidação dos cursos da sede e no suprimento de vagas dos cursos da expansão.

Essa decisão prima pela necessidade de democratizar o acesso dos jovens que vivem nesses municípios ao ensino superior e suprir a demanda de formação profissional em áreas que são relevantes para o desenvolvimento dos municípios.

O curso de engenharia civil em Itaituba representa uma revolução na profissionalização deste polo que inclui cerca de 250 mil habitantes. Como explicar que a região que se torna o polo de logística portuária mais emergente do país, para onde convergem a construção da maior fronteira energética numa única bacia, de mais de 15 portos, uma ferrovia… não disponha de um único curso de engenharia oferecido por uma universidade pública?

Ou seja, o que estamos oferecendo é muito pouco e já chega muito atrasado em relação as exigências em oferta de mão-de-obra qualificada.

Portanto, para além da parceria certa que teremos com o IFPA, a UFOPA vai precisar de prefeitos e parlamentares da região altamente comprometidos com a consolidação dos cursos que lançamos e com os outros que deverão vir, necessariamente, para se criar as bases de um desenvolvimento com valorização da força de trabalho e ampliação da empregabilidade com qualidade, da nossa população.

Implantar universidades no interior do país é um desafio e na Amazônia, maior ainda.

Não se trata apenas de começar, mas de manter e atendendo aos requisitos do sistema de avaliação do MEC que exige professores com titulação de pós-graduação avançada, infra-estruturas de acordo com os Projetos Políticos-Pedagógicos (PPCs) de cada curso, alunos bem avaliados no ENADE-Exame Nacional de Desempenho de Estudantes e atendimento à itens básicos de acessibilidade, entre outros.

Por isso, o planejamento da expansão merece o cuidado e estratégias diversificadas que deverão envolver a oferta de cursos presenciais e semi-presenciais, a mediação por tecnologias (a exemplo da UEA – Universidade Estadual do Amazonas e da Universidade Federal do Sul da Bahia) e a sazonalidade da oferta de cursos, de modo a lidar com a saturação de mercado.

Exige também ampliar investimentos em novas bases de pesquisa, equipadas e integradas em projetos regionais, nacionais e internacionais, que atraiam professores doutores a permanecer nos municípios distantes dos grandes centros. Assim como, implantar uma logística de telecomunicações e processamento de sinais que amplie a oferta e a qualidade da internet, para garantir a integração de fato, de grupos de pesquisa interiorizados na Amazônia com grupos e redes externas.

Sabemos que este é o ambiente ideal. Para ele caminhamos. Mas, no presente, são importantes igualmente o apoio das prefeituras para ter bons entornos e acesso às nossas unidades de ensino; da cooperação com as bases instaladas das Escolas de Trabalho e Produção; dos Institutos Federais e de instituições como Senai, Sebrae e tantos outros.

Com a expansão ainda que tímida pela longa defasagem, mas efetiva, a UFOPA inicia e fortalece a emergência de um novo capital dos municípios do Baixo Amazonas e Tapajós: o capital conhecimento e a capacidade de intervir afirmativamente no desenvolvimento de seus municípios e da região.

Com novos profissionais, a região será fortalecida em capacidade interna de gerenciar seus recursos naturais e orientar o desenvolvimento regional para um estágio superior de agregação de valor às suas riquezas.

Entre os fatores que influenciam na decisão de permanência ou não de um profissional concursado para uma universidade no interior do país e da Amazônia é qualidade dos serviços públicos, os preços de moradia e, principalmente, o saneamento básico.

Isto traz à tona a tona a necessidade do planejamento urbano. A presença da Universidade na região Oeste do Pará, também pressiona a demanda pela elevação da qualidade da gestão pública em todos os municípios e todos ganham com isso.

O ensino superior, assim como atividades industriais, pode ser alavancador de dinamização econômica, cultural e social.

– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

É doutora e reitora da Ufopa, além de professora de Teorias do Desenvolvimento-PCEDR\ICS-UFOPA.


Publicado por:

6 Responses to O desafio da expansão do ensino superior e a necessidade de amplo apoio político

  • O ensino superior necessita de uma reforma urgente. A Ufopa é um exemplo de clube de amigos, o corporativismo asfixia a instituição, a briga por holofotes dentro do campus é repulsiva! Professores que aparecem uma vez por mês para dar aula, passa o mês todo mandando monitor dar aula (entenda-se dar o recado de que tem material na xerox), concurso para professores totalmente subjetivo onde os amigos são selecionados, professores que pensam ser uma categoria única, onde a 8112 e código de ética do serviço público não os alcança, basta ler a nota da OAB onde os professores dizem “não somos obrigados a saber de leis”. Simples lastimável!

  • a ingratidão é revela a face mais nojenta da pessoa humana. Querer conta a história da UFOPA a partir de 2009 é um momento ingrato para simplesmente se tentar apagar da memória geral do que se fez antes. .

  • A leitura do texto foi envolvente pois demonstrou de forma bem abrangente a importância do ensino superior para a nossa região.
    Só fui me decepcionando à medida em que a Magnífica Reitora ia demonstrando o papel do prefeito e dos vereadores para que esse desafio se torne realidade.
    Beirou a utopia.
    Não pelo texto em si, o qual, repito, é de impressionar pelo conhecimento de causa, mas porque me vem à lembrança o nível de nossos políticos da região oeste, salvo uma ou outra exceção.
    Em Santarém, onde está sediada a UFOPA, nós não temos esse comprometimento.
    Mas vou continuar esperando que um dia a educação, em qualquer de seus níveis, ainda vire prioridade em nossa Região.

  • Ainda acho que precisamos de melhoras urgente na Educação Básica, tem muita gente se formando em “Nível Superior”, que não sabe escrever nada, pesquisar nada, manda os outros ou paga para fazer suas atividades acadêmicas e quando se forma não tem emprego por que não tem vagas e os governantes não estão nem aí pra nada e esses formandos viram um bando de inúteis custeados por nossos escorchantes impostos, no máximo vão virar camelôs e olhe lá.

    1. Temereis, concordo com vc sobre o reforço – e muito bem reforçado – da educação básica no país. Mas não se pode tirar o cobertor de outras áreas da educação, sob pena da ‘orquestra’ tocar desafinada, como ocorre hoje e como vc bem cita com relação aos ‘analfabetos funcionais’ que chegam até a universidade.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *