Acidente Vascular Cerebral (AVC): grave problema de saúde pública mundial. Por Walace Leal

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Acidente Vascular Cerebral: grande problema de saúde pública mundial. Por Walace Leal

Ontem (29), foi o Dia Mundial de Prevenção e Combate ao acidente vascular encefálico, ou como é mais conhecido, acidente vascular cerebral (AVC), um grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo. Estima-se que, durante a vida, uma em cada seis pessoas terá algum tipo de AVC.

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No Brasil, cerca de 100.000 pessoas têm um novo AVC anualmente; são 800.000 pessoas por ano nos Estados Unidos (EUA) e 1.5 milhões na China. Metade das pessoas pode morrer, enquanto que a outra metade pode ficar com sequelas permanentes tendo suas vidas esfaceladas do ponto de vista neurológico, familiar e profissional. Inúmeras pessoas com sequelas pós-AVC dependem de cuidado rigoroso e grande aporte financeiro do poder público.

Os fatores de risco para desenvolver um AVC podem ser classificados em modificáveis e não modificáveis. Por exemplo, a idade avançada, ser do sexo masculino e ter história familiar de incidências de AVC são fatores não modificáveis, ou seja, nada se pode fazer a respeito.

O risco de uma pessoa idosa desenvolver um AVC é maior do que pessoas jovens, apesar destes últimos também serem acometidos. Homens têm mais AVCs que mulheres e quem tem história de AVC na família possui um risco maior de ter um AVC.

São fatores de risco modificáveis: a hipertensão arterial (pressão alta), fibrilação atrial (o coração contrai de forma desordenada), sedentarismo, altos níveis de colesterol (gordura) no sangue, tabagismo (o fumo), ser diabético, além de outros fatores. Isso significa que uma mudança nos hábitos da vida pode diminuir o risco de desenvolver um AVC.

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Portanto, uma pessoa com hipertensão deve controlá-la adequadamente. O sedentarismo deve ser substituído por exercícios físicos regulares, como caminhar diariamente 40 minutos em ambientes naturais. Esse hábito, além de diminuir o risco de AVC, impacta positivamente na saúde mental, como mostrei em outros artigos. Deve-se evitar o fumo e o uso excessivo de bebidas alcoólicas. A alimentação deve ser saudável, com diminuição de dieta calórica, rica em gordura e carboidratos. Deve haver substituição por uma dieta mais saudável, rica em frutas e vegetais, peixe e carne grelhada.

O AVC é um problema em vasos sanguíneos do cérebro, principalmente artérias. Ele pode ser dividido em isquêmico, quando o vaso é obstruído por um trombo (uma massa estacionária) ou hemorrágico, quando o vaso rompe. O AVC isquêmico é o mais comum, perfazendo mais de 80% dos casos.

Os sintomas de um AVC são súbitos e dependem do local do cérebro que é afetado. No AVC, o sintoma ocorre no lado oposto ao hemisfério cerebral afetado, o seja, se o mesmo ocorrer no lado direto do cérebro, o lado esquerdo do corpo será afetado. Esses sintomas podem incluir cefaleia (dor de cabeça), paralisia muscular, dormência, confusão mental, problemas na fala (disartria), e sintomas mais complexos como esquecer o significado de um objeto, como um copo (agnosia), perder a capacidade de realizar atos motores usuais como abotoar a camisa (apraxia), ou problemas na fala ou linguagem (afasias).

O termo AVC refere-se a sintomas que persistem por 24 horas ou mais. Se um paciente apresenta sintomas que persistem por poucas horas, diz-se que o indivíduo teve um acidente isquêmico transitório (AIT), o que, aliás, é um importante fator de risco para desenvolver um AVC.

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As terapias para AVC são limitadas. Pacientes diagnosticados com AVC isquêmico que chegam ao hospital em até 4 a 6 horas após o surgimento dos sintomas podem ser tratados com um trombolítico intravenoso (ALTEPLASE) para dissolver o trombo e restaurar o fluxo sanguíneo. Infelizmente, o trombolítico é poucos usado por ter uma janela terapêutica estreita. A grande maioria dos pacientes chega várias horas e mesmo dias após o início dos sintomas de AVC. Esse é o caso dos nossos ribeirinhos. O uso tardio do trombolítico para AVC isquêmico pode induzir um evento grave: o rompimento do vaso sanguíneo (transformação hemorrágica).

Após um AVC isquêmico ou hemorrágico, se não houve morte, o indivíduo pode desenvolver sequelas parciais ou permanentes após a expansão da lesão inicial e ou aumento da morte de neurônios.

Uma outra abordagem para o AVC isquêmico, não disponível no nosso município e, mesmo no nosso estado, é a trombectomia, onde o neurocirurgião remove o trombo cirurgicamente nas primeiras horas após o AVC. Essa abordagem já foi aprovada em humanos, mas necessita de uma unidade de atendimento ao paciente com AVC altamente equipada e médicos altamente treinados. Essas sequelas motoras e sensoriais podem ser diminuídas com abordagens fisioterápicas adequadas.

Uma terapia ideal para tratar o AVC é o uso de um neuroprotetor, uma substância que, ao ser ingerida ou injetada no paciente, diminui a expansão da lesão no cérebro, contribuindo para a diminuição das sequelas neurológicas. Inexistem neuroprotetores disponíveis no mercado para uso em humanos, com exceção do limitado trombolítico. Há mais de dez anos pesquiso o desenvolvimento de um neuroprotetor natural derivado da flora amazônica.

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 Em estudos realizados no meu laboratório no Instituto de Ciências Biológicas da UFPA, agora no Instituto de Saúde Coletiva (ISCO) da Ufopa, encontramos pelos menos três neuroprotetores naturais derivados da flora Amazônica. Após AVC isquêmico experimental em ratos, mostramos que estes neuroprotetores naturais diminuem a lesão e as sequelas neurológicas em ratos adultos.

Desenvolvemos a Startup Neuroprotect, que foi selecionada no Startup Pará, Inova Amazônia (SEBRAE) e Programa Emerge Amazônia, que negocia atualmente com empresas farmacêuticas, como a Aché, para realização de estudos clínicos em humanos das ações de um Fitoterápico Neuroprotetor derivado de produtos da flora amazônica, ou seja, a cura pode vir da rica biodiversidade amazônica. Os testes clínicos irão iniciar em 2022.

O AVC é um grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo. Devemos diminuir os fatores de risco com hábitos saudáveis como a prática de exercícios físicos, dieta balanceada, e controle de hipertensão e diabetes. O poder público deve investir em unidades de atendimento ao AVC altamente equipadas, permitindo o uso de procedimentos modernos como a trombectomia para o AVC isquêmico, o tipo mais comum de AVC.

As pesquisas, como mencionado, também nos trazem esperança. A Ufopa é protagonista nestas pesquisas, podendo ser a primeira universidade do mundo a desenvolver um fitoterápico neuroprotetor derivado da flora amazônica em um dos seus laboratórios. A sociedade do oeste do Pará merece.

<strong>Walace Gomes Leal</strong>
Walace Gomes Leal

Neurocientista, professor Associado do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). E ainda professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde e da Rede Bionorte. Escreve regularmente no BJ.


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