
Existem até músicas celebrando o luxo de um casaco de vison (mink, em inglês), um mamífero criado em cativeiro, por exemplo, em fazendas da Espanha. Estava checando o preço de um casaco da pele destes animais ao escrever esse texto, e encontrei que um pode custar mais de 100.000 reais. No entanto, o preço pode ser ainda mais alto – uma pandemia de um vírus normalmente encontrado em aves: o H5N1.
Recentemente, um artigo no famoso periódico científico Science1 alertou para o risco de pandemia a partir de episódios de infecções de visons pelo vírus influenza H5N1, que normalmente causa uma espécie de gripe em aves, mas que agora passou para mamíferos como o vison.
O vírus está sofrendo mutações e se adaptando cada vez mais para infectar mamíferos, o que é muito preocupante. Alerta-se que a contaminação de mamíferos na natureza pelo referido vírus é muito rara. Acontece esporadicamente quanto um mamífero solitário, como visons, no seu habitat natural, predam uma ave contaminada, o que seria um evento isolado.
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No entanto, quando os fazendeiros os agrupam em fazendas, esses mamíferos previamente solitários, quando contaminados, podem tornar-se ser um tremendo problema e um risco para saúde pública. Se forem contaminados, como aconteceu na Espanha, a chance de contaminar humanos é real, um perigo real e imediato.
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Em outubro de 2022, autoridades sanitárias sacrificaram 50.000 visons infectados com o vírus H5N1 de uma fazenda de visons na Galícia, Espanha. À época, nenhuma pessoa foi contaminada, mas foram colocadas em quarentena.
Sabe-se que pessoas raramente contraem esse tipo de influenza, apenas raramente ao se alimentarem ou entrarem em contato com aves contaminadas. No entanto, virologistas e infectologistas temem por uma pandemia de H5N1, pois esse vírus influenza de aves adquiriu mutações em genes que facilitam a transmissão de mamíferos para mamíferos, incluindo algumas em enzimas chamadas polimerases.

Nas américas central, do sul e do norte, vários mamíferos foram relatados infectados, incluindo ursos, raposas, furões, focas e mesmo golfinhos, provavelmente por terem se alimentado de aves infectadas.
O vírus H5N1 foi detectado em aves em 1996, sendo que em 1997 houve a chamada gripe do franco em Hong Kong, onde mortes foram relatadas. Desde essa época, espalhou-se rumores de uma possível epidemia, e mesmo pandemia.
Os especialistas alertam que o vírus se espalhou pelo mundo contaminando aves migratórias e, depois, alguns animais selvagens isolados. No entanto, apesar de, naturalmente, o contágio em humanos ser raro, a aglomeração de visons em fazendas, com alguns animais contaminados por serem alimentados de restos de aves, coloca um sério risco de contaminação humana.
O vírus infecta inicialmente o trato respiratório superior de aves, mas está sofrendo mutações que os permitem ser mais eficazes para contaminar o trato superior de mamíferos, o que já foi relatado, como mencionado acima. Mais uma vez uma mudança na natureza, pela nossa espécie, pode colocar um novo risco para a humanidade.
Em vários países, como Holanda e Espanha, já está se abolindo as criações de visões. Na Espanha, já confirmou-se visons contaminados por novas variantes do H5N1, mas adaptadas a mamíferos. A proximidade de pessoas desses animais contaminados nas fazendas é um perigo real de contaminação humana e de risco de uma nova pandemia.
Medidas têm que ser tomadas urgentemente, como a abolição da criação de visons. Uma vigilância permanente é necessária também para outros vírus que infectam animais selvagens. Os casacos de visons são muito caros, mas o preço que a humanidade pode pagar é ainda maior.

Referência
1 Kupferschmidt, Kai. ‘Incredibly concerning’: Bird flu outbreak at Spanish mink farm triggers pandemic fears. Science. Janeiro, 2023. https://www.science.org/content/article/incredibly-concerning-bird-flu-outbreak-spanish-mink-farm-triggers-pandemic-fears.
Professor associado IV do Instituto de Saúde Coletiva da UFOPA e do Programa de Doutorado em Biodiversidade e Biotecnologia da Rede BIONORTE
Pra quem não save o couro do animal é retirado ainda “vivo”.