
No filme Avatar, de James Cameron (2009), o diretor foi pessimista quanto à possiblidade de uma cura para a paralisia da medula espinal, o que faria paraplégicos e tetraplégicos andarem de novo.
No filme, a humanidade com grande avanço tecnológico, e capaz de viajar para outros planetas, usando avatares virtuais, mesmo em 2053, um fuzileiro paraplégico, Jake Sully, aceitou uma missão para um outro planeta para conseguir fundos para o seu tratamento.
No entanto, talvez não seja necessário esperar tanto tempo para que paraplégicos e tetraplégicos andem de novo. Alguns estudos recentes sugerem que a ciência mais uma vez trará a resposta, sempre a ciência, para este grande desafio da Neurociência e da Medicina.
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No Instituto Tecnológico Federal em Lausanne, na Suiça, Grégoire Courtine e seus colaboradores fizeram 9 pacientes humanos, previamente paraplégicos, andarem de novo, sem serem assistidos, após cinco meses de um programa de estimulação elétrica subdural na região lombar dos pacientes, além de exercícios e fisioterapia 1.
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Modelando a lesão em roedores, eles também descobriram uma população de neurônios que sobrevive após a lesão, como após um acidente automobilístico. Esses neurônios ficam inativos, mas podem contribuir para recuperação funcional se estimulados eletricamente. Os dados obtidos mostraram que uma população específica de neurônios da medula espinal, interneurônios excitatórios, eram responsáveis pela recuperação funcional 1.
Os resultados obtidos pareciam coisa de ficção científica. Os autores precisavam estabelecer população neural que sobrevive e precisaram fazer experimentos em camundongos para desvendar o mistério do grande resultado obtido nos nove pacientes humanos.
Eles induziram trauma experimental em camundongos, induzindo paraplegia. Depois, os autores colocaram os roedores paraplégicos em um programa de estimulação elétrica e também andavam em uma esteira adaptada para animais, para simular as abordagens fisioterápicas que os humanos tiveram.
Usando técnicas sofisticadas, os autores também determinaram os genes que eram expressos nas populações neuronais sobreviventes. Usando softwares especializados, eles determinaram os locais e quais populações neuronais eram mais importantes para o processo de recuperação neural.
Dr. Courtine e seu grupo fizeram então a descoberta fantástica. Descobriram a população de neurônios na medula espinal de camundongos, a qual era a principal responsável pela recuperação funcional e que faziam os camundongos andarem de novo. Eles expressavam os marcadores Vsx2 e Hoxa10.
Quando os autores suíços estimulavam essa população neuronal específica, os camundongos voltavam a andar, após a estimulação elétrica. Quando a mesma população neuronal era bloqueada, os animais não voltavam a andar. Isso mostra o imenso poder do método científico e da racionalidade.
Cientistas advertem que outras populações neuronais podem estar envolvidas e que a descoberta fantástica aqui comentada irá direcionar melhor a estimulação elétrica epidural humana. Como tudo em ciência, muitas perguntas ainda devem ser respondidas.
Existem efeitos colaterais que podem ocorrer após a terapia em humanos? Quanto tempo deve durar o efeito descrito? Dr Courtine fundou uma empresa em 2014, a ONWARD, e está desenvolvendo outros ensaios clínicos, em humanos, com essa magnífica terapia.
O futuro para que paraplégicos e tetraplégicos possam andar de novo parece muito promissor. Existem outras terapias promissoras que prometem a cura para a lesão da medula espinal, como a do Relé Neural 2 e das Moléculas Dançantes 3 , já comentadas neste portal.
James Cameron não tinha razão. Acho que não precisaremos esperar nem até 2053. Em 5 a 10 anos, a tão sonhada cura para a lesão da medula espinal deve surgir. E deve ser mais de uma abordagem.
Referências
- The neurons that restore walking after paralysis. Kathe C, Skinnider MA, Hutson TH, Regazzi N, Gautier M, Demesmaeker R, Komi S, Ceto S, James ND, Cho N, Baud L, Galan K, Matson KJE, Rowald A, Kim K, Wang R, Minassian K, Prior JO, Asboth L, Barraud Q, Lacour SP, Levine AJ, Wagner F, Bloch J, Squair JW, Courtine G. Nature. 2022 Nov 9. doi: 10.1038/s41586-022-05385-7.
- Restorative effects of human neural stem cell grafts on the primate spinal cord Rosenzweig ES, Brock JH, Lu P et al. Nat Med 2018; 24: 484-490. doi: 10.1038/nm.4502.
- Bioactive scaffolds with enhanced supramolecular motion promote recovery from spinal cord injury. Álvarez Z, Kolberg-Edelbrock AN, Sasselli IR, Ortega JA, Qiu R, Syrgiannis Z, Mirau PA, Chen F, Chin SM, Weigand S, Kiskinis E, Stupp SI.
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