“Moléculas dançantes” fazem camundongos paraplégicos andarem de novo. Por Walace Leal

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Moléculas dançantes fazem ratos paraplégicos andarem de novo. Por Walace Leal
A nova terapia injetável forma nanofibras com dois sinais bioativos diferentes (verde e laranja) que se comunicam com as células para iniciar o reparo da medula espinhal lesada. Ilustração: Mark Seniw/Universidade Northwestern

Um sonho de mais de 100 anos pode estar perto de ser realizado, qual seja, o de fazer uma pessoa paraplégica ou tetraplégica andar de novo, pelo menos pessoas com lesões recentes. Pesquisadores da Universidade Northwestern em, Chicago, Estados Unidos, usaram uma abordagem da nanomedicina e fizeram camundongos paraplégicos andarem de novo quatro semanas após indução experimental de paraplegia, cortando uma parte da medula espinhal desses roedores.

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Um artigo científico publicado há poucos dias no periódico Science está chamando a atenção do mundo. O pesquisador Samuel Stupp e seu grupo restauraram o movimento de camundongos previamente paraplégicos, transplantando um gel contendo peptídeos, unidades formadoras das proteínas, sob a forma de nanofibras orgânicas milhares de vezes mais finas que um fio de cabelo.

Os camundongos ficaram paraplégicos após transecção parcial de suas medulas espinhais. 24 horas após a lesão, os pesquisadores transplantaram o gel contendo as nanofibras orgânicas, uma abordagem da namomedicina.

Samuel Stupp

Engenheiro biomédico, Dr Stupp há muitos anos trabalha com as chamadas supramoléculas, uma abordagem da namomedicina que pode fazer moléculas adquirem uma capacidade maior de movimento se ligando mais facilmente a receptores no local da lesão.

Os receptores são proteínas presentes nas membranas, inclusive de neurônios. Eles se movimentam o tempo todo e o encontro físico entre os mesmos e moléculas terapêuticas e probabilístico. Mutações específicas em peptídeos os fizeram ter mais movimentos aleatórios (moléculas dançantes), facilitando a recuperação.

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No estudo em questão,  o gel com as nanofibras preencheu totalmente a região da lesão na medula espinhal, atraindo novos vasos sanguíneos e axônios que fizeram sinapses e restauraram consideravelmente a perda funcional. Essa abordagem traz a esperança que se possa impedir que uma pessoa que tenha um acidente automobilístico, ou outra tipo de lesão, possa desenvolver paraplegia ou tetraplegia após o trauma raquimedular.

 Os pesquisadores americanos vão pedir autorização da Food and Drug Administration (FDA),  a Anvisa dos EUA, para testar a abordagem em humanos em 2022. Essa abordagem soma-se a já promissora terapia com o “relé neuronal” do neurocientista Paul Lu e do Neurologista/Neurocientista Mark Tuszysnki da Universidade da Califórnia em San Diego, já discutida neste blog.

Leitura Sugerida:

1. Bioactive scaffolds with enhanced supramolecular motion promote recovery from spinal cord injury. Álvarez Z, Kolberg-Edelbrock AN, Sasselli IR, Ortega JA, Qiu R, Syrgiannis Z, Mirau PA, Chen F, Chin SM, Weigand S, Kiskinis E, Stupp SI.

Science. 2021 Nov 12;374(6569):848-856. doi: 10.1126/science.abh3602.

2. Gomes-Leal, 2021. Paraplégicos e tetraplégicos podem andar de novo? A esperança do relé neuronal. https://www.jesocarneiro.com.br/opiniao/paraplegicos-e-tetraplegicos-podem-andar-de-novo-a-esperanca-do-rele-neuronal.html

<strong>Walace Gomes Leal</strong>
Walace Gomes Leal

Professor Associado do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). E ainda professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde e da Rede Bionorte. Escreve regularmente no BJ.


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