por Helvecio Santos
O início do Campeonato Paraense de Futebol, edição 2016, se aproxima e lá está estampado no uniforme dos clubes santarenos em local de destaque, Prefeitura de Santarém, contrapartida da verba que estes receberam do Executivo Municipal.
Leia também do autor – Os minhocas.
Sou radicalmente contra o repasse de recursos da prefeitura aos clubes, opinião que já manifestei na época do governo da Dra. Maria do Carmo através do Blog do Jeso e do Gazeta de Santarém, e torno a fazê-lo agora, pelos mesmos meios.
Em minha defesa, duas razões básicas!
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Uma é por não haver condição de fiscalizar a forma como esses recursos, públicos, ressalto, estão sendo gastos. A duas é porque não acredito que a prefeitura esteja nadando em dinheiro, podendo gastar em algo que considero superficial e que só irá inflar o ego dos governantes.
Alegar que é uma ajuda ao esporte não é uma alegação válida, eis que o campeonato dura, no máximo, três meses e os times são formados por “aves de arribação”, que ao final do certame vão pousar noutro apuizeiro, ficando na cidade somente o uniforme, a sede fechada, 2 ou 3 atletas locais e um caminhão de ações trabalhistas.
Logo, esse repasse de verbas não ajuda em nada o desenvolvimento do esporte na região. Beira mais a uma “bolsa esporte”, cópia de tantas “bolsas”, tão em moda nestes tempos.
Dar dinheiro público a clubes de futebol, classifico como populismo provinciano e expõe uma simplória visão administrativa.
Melhor utilidade teria, por exemplo, se a prefeitura gastasse os recursos comprando exemplares para a biblioteca pública.
Mas se o repasse é modismo obrigatório e, já que “inês é morta” e a “vaca já foi pro brejo”, pois o dinheiro já mora em outra freguesia, sugiro que se gaste um pouco mais e se dê um sentido útil aos recursos, sugestão que também fiz na época do governo da Dra. Maria do Carmo.
Vou continuar insistindo. Quem sabe, um dia me darão ouvidos? Afinal, “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”.
A prefeitura poderia aproveitar o gancho para livrar a cidade de latinhas e garrafas pet, pragas de norte a sul do Brasil e, de quebra, ainda criaria um sentimento de cuidar da cidade.
A coisa funcionaria assim:
1) A Prefeitura disponibilizaria postos de coleta de garrafas pet e latinhas de alumínio, onde uma determinada quantidade do material seria trocada por ingressos dos jogos onde os times santarenos fossem mandantes.
2) Simultaneamente faria publicidade nas mídias incentivando a troca e fomentando a disputa entre as torcidas dos três times para ver quem mais trocaria e mais daria renda a seu time.
No cômputo final teríamos mais gente no estádio e uma cidade mais limpa.
Como antes mostrei preocupação com a fiscalização no uso dos recursos, alguém irá perguntar como os responsáveis pelos postos de troca seriam fiscalizados. Minha sugestão é que na central de reciclagem o volume coletado fosse conferido por peso.
Um ou outro desvio no padrão de pesagem haveria, mas a finalidade – limpar a cidade e criar uma consciência de que todos somos responsáveis – seria alcançada ou, no mínimo, despertada.
Óbvio, isso são linhas gerais mas, sinceramente, eu sonho com o dia em que esta ideia for abraçada e o “estorvo” jogado na rua virar objeto de disputa.
Isto sim, seria O PATROCÍNIO ÚTIL, deixando toda população satisfeita.
Para uma cidade tão suja quanto Santarém, onde a população descarta lixo em qualquer lugar, seria uma jogada de mestre!
Olá meu caro Helvécio,
Nós que ja convivemos em lados opostos ( vc como jogador e eu com empresário e desportiista ) podemos falar desta maneira.
Saudações alvinegras, Helvécio!
Comungo de sua ideia pelo simples fato de que os clubes são associações privadas e deveriam através de sua gestão buscar patrocínio na iniciativa privada. Muita gente reclama quando o Poder Público investe recursos em outros eventos de caráter privado como os religiosos ou culturais (principalmente o Carnaval, que é outro eterno buraco sem fundo), mas todo mundo se anestesia quando esses recursos vão para clubes que tendem a ter desempenho pífio em um campeonato de cartas marcadas como o Parazão (que deveria se chamar RE-PAzão). Clubes do interior têm até conseguido bom desempenho, mais por conta da péssima gestão dos clubes da capital que acabam não aproveitando as benesses da FPF.
Além disso, todos os clubes beneficiados com dinheiro público não demonstram transparência em suas contas. Os dois grandes de Santarém, São Raimundo e São Francisco, por exemplo, já estiveram no fundo do poço por causa de gestões fraudulentas. O seu Leão perdeu até a sede e o São Raimundo ainda luta para manter a sua. Gestores que se utilizaram do legado dos clubes, podem ter desviado recursos, mas nunca foram sequer processados por isso. Uma nova gestão assume, passa a mão na cabeça do gestor que deixou o clube no buraco e começa um novo ciclo. E a gente continua torcendo…
Aliás, apenas copiamos o que ocorre em nível nacional, já que o futebol é um saco de gatos com uma CBF corrupta que tem a cumplicidade de órgãos de imprensa, já que todo mundo quer faturar com o futebol. Daí a crise do nosso maior esporte, que encontrou seu ápice no famoso 7 X 1 da Alemanha contra o Brasil em 2014.
Existe um “estatuto do torcedor”, mas os clubes sequer ouvem suas torcidas. Quando muito, dão espaço às “Organizadas”, que muitas vezes acabam compactuando com as más gestões em troca de ingressos ou formam torcedores fanáticos que em alguns casos viram bandidos, ao insuflarem a violência nos estádios. Não há democracia nas gestões e os clubes de Santarém, até onde sei, nem são abertos a novos sócios para oxigenar as futuras gestões, na maioria funcionam como feudos de famílias, que depois se propagam na política local e regional.
Portanto, qualquer dinheiro público investido é jogado no ralo de um populismo demagógico, para estar de bem com uma torcida anestesiada, que vai pros estádios acreditando que “agora vai!”….
Concordo. E o mesmo raciocínio poderia ser usado em relação ao carnaval, eventos religiosos (de qualquer religião), sairé, etc.
Sem falar que são equipes “profissionais”, e, consequentemente tem que se manter através desta profissão. O poder público não deve em hipótese alguma patrocinar estas equipes, visto que os contribuintes que forem ao estádio,terão que pagar ingresso, não terão contrapartida alguma em patrocínio público.
Oportuno questionamento, Paulo. Qual a contrapartida dos clubes que recebem patrocínio, seja municipal ou estadual, para o contribuinte? Poderiam ao menos abrir as portas de suas sedes para promoverem atividades esportivas destinados a jovens de bairros periféricos da cidade.