Os “minhocas”

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por Helvecio Santos

Os minhocas, de Helvécio SantosCom a proximidade do Campeonato Estadual de Futebol, resolvi, mais uma vez, vir a público para discorrer sobre o que penso ser uma das razões do nosso sofrível desempenho no certame e, como de resto, a decadência do nosso futebol.

Óbvio, alguns (ou muitos) dirão que minha opinião pouco ou nada importa, mas seguidas vezes tenho ouvido nos lugares que frequento o triste depoimento de amantes do futebol de que “houve um tempo em que Santarém tinha jogadores e não tinha campo. Hoje tem campo e não tem jogadores”. Se isso é verdade e é, então alguma coisa está errada. Não acham?

Já diz o ditado, “voz do povo é a voz de Deus”.

Bom, sou contra a enxurrada de jogadores “importados” que anualmente nos brindam com um futebol, na maioria das vezes, de baixo nível técnico.

Penso que deveríamos, sim, buscar jogadores nos grandes centros mas somente jogadores de nível técnico que viessem somar e não jogadores que vêm compor elenco. Alguns nem sequer no banco de reserva ficam.

O Campeonato do Parazinho, edição 2016, do qual infelizmente ainda participamos, começa dia 31 de janeiro e, pela primeira vez na história do nosso futebol, três clubes representam Santarém – São Francisco, São Raimundo e Tapajós – o que, no meu entendimento, se déssemos importância à formação de atletas na base, seria motivo de comemoração.

Não me alegro com a notícia pois hoje, ao contrário do que fazíamos antes, formamos times às pressas, pouco antes do início da competição e na maioria são jogadores “importados”, refugos dos grandes centros e que, ao final do campeonato, “aves de arribação”, buscam outros ninhos, onde novos “patrões” terão os seus sofríveis serviços.

Na Terrinha, quando muito, ficaremos com o uniforme, 2 ou 3 atletas locais e um caminhão de ações trabalhistas.

Sem atentar para essa realidade, que ano após ano sangra os clubes locais, tem gente que defende a contratação de jogadores de fora, “do interior do Rio de Janeiro e de São Paulo, para dar qualidade ao elenco”, garantindo que com isso teríamos times fortes e em condições de disputar títulos, afirmando que os locais são “irresponsáveis e cachaceiros”.

Ora, isso é pura balela pois ninguém há de me convencer que os times locais têm mais “bala na agulha” que Macaé, Caxias, Ituano, Ponte Preta, Bragantino, Resende, Volta Redonda, times do interior desses estados.

Assim, se craques fossem, ficariam nesses clubes pois além de receberem salários mais altos, estariam perto de suas famílias e das grandes vitrines do futebol brasileiro.

Os que afirmam isso – “dar qualidade ao elenco” – esquecem que quando Santarém tinha times competitivos, os jogadores eram buscados nas redondezas. Era um tempo em que exportávamos jogadores para centros como Belém, Manaus, Recife e até São Paulo. Cristovam Sena, Afonso, Acari, Edvar, Darinta, Bosco, Edson Pepeu, Cabecinha, Cuca, Manoel Maria e tantos outros não me deixam mentir.

Um dos melhores esquadrões que o São Francisco formou e que eu tive a felicidade de integrar, contava com Xabregas, Edmar, Acari, Dias, Cuiu, Odilson, Da Silva, Navarrinho, Valdo Bidala, Carlitinho e Jeremias, todos de Santarém; Guajará, Caipira, Maromba, Cuca, Chardival, todos de Belterra; Cabecinha, de Alenquer; Antonio Carlos (Pão Doce), de Oriximiná.

Desse LEÃO que joguei, formado unicamente por “minhocas” (da terra), o Paysandu de João Tavares e companhia e o Remo de Rubilota e companhia eram fregueses, o que igualmente acontecia com times de Manaus. Da Tuna não falo porque era covardia. Ganhamos também do Fluminense de Feira de Santana, do América e do Madureira do Rio.

Nessa época, o que era normal, alguns jogadores do aspitantes (base) e que fizeram história no futebol santareno começavam a despontar no time titular. É o caso do Afonso Cupu, Birimba, Darinta, Arinos, Eduardo Jennings, Chico Lins, Miranda, Domingos.

Então eu pergunto: O que mudou? Hoje os valores locais são irresponsáveis e cachaceiros? Não creio nisso! Para mim, muitos valores existem perdidos nesses rincões e nos campos de pelada que resistem ao pouco caso dos governantes com o esporte e à especulação imobiliária.

Para o futebol santareno voltar a ser grande como um dia já foi, falta trabalho de “olheiro”, trabalho de base e valorização dos “MINHOCAS”, ao invés de endeusarem “importados” que, na maioria das vezes, nada acrescentam e cujo único compromisso é com o final do contrato.

É balela a propalada superioridade dos “importados” como alguns querem fazer crer. A única coisa que todos eles têm a mais (e como têm!), é pinta de jogador. Ah! Isso, inegavelmente, eles têm!


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É advogado e economista santareno, residente no Rio de Janeiro. Ex-jogador e torcedor do São Francisco.

One Response to Os “minhocas”

  • Concordo plenamente. Quando cheguei em Santarém, em 1958, os craques eram Anastácio Miranda, Edson Pepeu, Arapixuna (irmão do Edvar), Mindó e o goleiro Taro. Depois apareceu o Valdo, que retornou a Santarém como jogador pronto, vindo do Rio de Janeiro onde chegou a jogar no Fluminense. O Valdo foi meu professor de educação física no D. Amando. Aí surgiram Afonso, o irmão dele Tovica (meu colega de turma que atuou no Paysandu), o Polaro, todos estudantes do D. Amando. E você esqueceu o Ataualpa, jogador que eu classifico entre os três melhores que eu vi jogar em Santarém. Ainda joguei pelada com o Ataualpa em Belém e mesmo ele coroa, não era fácil de enfrentar. Ele foi da famosa turma do América, time onde pontificava outro craque de bola que você também não citou: Manoel Moraes, que também jogou no Paysandu. Ah, e tinha também o Cabeleira e seu chute com potência de canhão, o chute mais forte do futebol santareno. Outro craque que formava nesse time do América era o Nelson Cacela. Faltam ainda quantos? Certamente um monte, mas não podemos esquecer o Cecebuta, o Coruja, Nego Otávio e Inacinho. Tinha o Bibico, que chamavam de o novo Pelé. Teve carreira curta e parou por causa de uma contusão, numa Santarém sem estrutura médica para esse fim. Onde andará o craque Bibico?

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