Prefeito promete ofensiva contra garimpo ilegal. “Não pode derramar água chechelenta”

Publicado em por em Itaituba

Prefeito promete ofensiva contra garimpo ilegal. Não pode derramar água chechelenta
Sedimentos de mineração deixam a água turva (barrenta) do rio Tapajós, em Santarém. Foto: Observatório do Clima

Em reportagem publicada nesta quarta-feira (23) em O Globo, do Rio de Janeiro, o prefeito Valmir Climaco, de Itaituba (PA) – “o centro da nova corrida do ouro que está em curso no Brasil” – promete uma ofensiva contra o garimpo ilegal no município.

“O garimpeiro que não aceitar não vai tirar mais uma grama de ouro. Ou eu aperto ou jogo a toalha. Estou no segundo mandato e não quero sair com a culpa que devastei a Amazônia’, afirmou o mandatário reeleito pelo MDB em 2020, anunciando que a meta é não ter mais nenhuma sujeira sendo despejada na Bacia do Tapajós até 2024.

— Voo rasante em: Faro, Juruti, Rurópolis, Mojuí, Monte Alegre e Almeirim em 6 notas curtas.

“Não pode é ficar derramando aquela água chelechenta nos igarapés”, avisou. A consequência foi a mudança na coloração do rio Tapajós, cujas águas cristalinas ficaram barrentas, conforme investigação concluída pela Polícia Federal.

Leia a reportagem de O Globo na íntegra:

A 1.300 quilômetros de Belém e 1.100 da antiga Serra Pelada, Itaituba (PA) é o centro da nova corrida do ouro que está em curso no Brasil. Apelidado de “Cidade Pepita”, o município traz no hino a atividade mais lucrativa da região – “os garimpos, as praias, a fonte” -, tem como monumento uma estátua gigante (de três metros de altura) de um garimpeiro peneirando cascalho e um comércio praticamente todo voltado à economia garimpeira, com proliferação de lojas de compra e venda de ouro e de retroescavadeiras e tratores, além de um dos aeroportos mais movimentados do Pará.

Não por coincidência, o município situado na Bacia do Rio Tapajós é o campeão na concessão de lavras garimpeiras pelo governo federal nos últimos quatro anos — mais de 25% de todos os requerimentos, segundo levantamento do Globo.

Desde a semana passada, a cidade está em polvorosa com a operação Caribe Amazônico, deflagrada pela Polícia Federal em parceria com o Ibama e as Forças Armadas que destruiu e apreendeu mais de 21 escavadeiras, 26 motores bombas, uma balsa, três geradores, um trator esteira e 14 acampamentos avaliados em mais de R$ 10 milhões.

Reportagem do Fantástico acompanhou a ação e flagrou verdadeiras vilas erguidas no meio da selva amazônica, com igreja, alojamento, pista de pouso, oficinas e supermercados. A operação gerou protestos por parte de alguns garimpeiros, que queimaram pontes de madeira e bloquearam o acesso à sede do ICMBio na cidade.

Ao serem flagrados pelas autoridades, os exploradores tentaram evitar a destruição dos equipamentos e instalações mostrando licenças de operação emitidas pelas prefeituras de Itaituba e Jacareacanga, que era um distrito da primeira e se emancipou em 1991. Para os agentes da PF e Ibama, as licenças são ilegais e não têm validade por se tratarem de área de conservação de competência da União.

Parecer da PGR pede prescrição da pena imposta pelo TRF1 a Valmir Climaco
Valmir Climaco, prefeito de Itaituba: mais de 500 licenças liberadas pela prefeitura

Em entrevista ao Globo, o prefeito de Itaituba, Valmir Climaco (MDB), prometeu que vai suspender todas as licenças concedidas pela prefeitura nos últimos anos para fazer uma reavaliação.

— Nós demos mais de 500 licenças e nunca fomos fiscalizar. Agora não vai ser mais assim. Nós vamos suspender todos os documentos e eles só vão ser liberados com o aval do ICMBio e do Ministério Público Federal — afirmou ele, anunciando um projeto que vai criar um sistema de monitoramento de garimpos na região e “reeducar” os trabalhadores a não devastarem a Amazônia.

— O que não pode é ficar derramando aquela água chelechenta nos igarapés.

Questionado por que não fiscalizou antes, o prefeito respondeu que isso era prerrogativa dos órgãos ambientais federais. E reconheceu que há muitos garimpos ilegais na região: — alguns usam as licenças de um determinado local para tirar ouro de outro (leia-se de terras indígenas e unidades de conservação). Procurado, o ministério do Meio Ambiente ainda não se pronunciou.

Nos bastidores, há um receio de que a prefeitura entre na mira da Polícia Federal, que passou a investigar as circunstâncias em que foram concedidas as licenças. Climaco se reelegeu ao cargo, em 2020, com o apoio da classe garimpeira – ele mesmo é dono de campos de garimpo (“todos legais”, segundo ele) e gosta de exaltar o seu passado como garimpeiro — Eu já queimei mais de 3000 quilos de ouro com massa de azougue (apelido dado ao mercúrio)”.

Na última terça-feira, enquanto a PF incendiava retroescavadeiras e acampamentos, Climaco voou a Brasília para se encontrar com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Segundo ele, o objetivo era convencer o governo federal a suspender a operação da PF. Para isso, tentou sensibilizar o ministro levando “centenas” de vídeos enviados por seus companheiros do garimpo, mostrando as “cenas de terror” da ação policial.

O deputado federal José Priante (MDB-PA) intermediou o encontro e acompanhou o mandatário na agenda no Palácio do Planalto:

— As explosões pareciam produção cinematográfica. Um absurdo, Fomos levar nosso ponto de vista ao ministro de que explodir é uma política equivocada, desinteligente. Na hora que se pega gado na floresta não se faz churrasco com ele. Não se destrói os ativos — disse o parlamentar, frisando que não é a favor do garimpo ilegal, mas da inutilização dos equipamentos (o que é previsto em lei quando não há possibilidade de apreensão).

Segundo o deputado e o prefeito, Nogueira prometeu levar a questão diretamente ao presidente da República e “providenciar ações no sentido de paralisar esse tipo de operação”. Procurado por meio de sua assessoria, Nogueira não comentou a reunião, que não consta na agenda oficial do ministro. No dia seguinte, no entanto, ele se encontrou com o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, que comanda o Ibama e o ICMBio.

Climaco acrescentou que só não “ligou direto” para Bolsonaro porque “ele estava lá na guerra com a Rússia”. Em maio de 2020, os dois se falaram por telefone sobre as medidas tomadas na cidade para conter a Covid-19. Bolsonaro fez questão de registrar a conversa em uma live semanal e elogiar o município por ter mantido o comércio funcionando, enquanto os governadores baixavam medidas de restrição. 

A operação Caribe Amazônico foi deflagrada pela PF gerou protestos de garimpeiros. Foto: PF

A operação policial acabou sendo encerrada na última sexta-feira.

— Conseguimos uma trégua para regularizar a situação — comentou o prefeito. Apesar de os políticos da região alardearem que a ação parou por intervenção deles, operações do gênero  não costumam demorar mais de uma semana.

A ideia do prefeito é obrigar os garimpos a construir a ter três bacias de decantação para “limpar” a água que é lançada nos rios – segundo um laudo da PF, essa lama do garimpo provocou a contaminação na praias de rio de Alter do Chão, conhecido como o “Caribe Amazônico”, que fica a 300 quilômetros de Itaituba. 

— O garimpeiro que não aceitar não vai tirar mais uma grama de ouro. Ou eu aperto ou jogo a toalha. Estou no segundo mandato e não quero sair com a culpa que devastei a Amazônia — afirmou ele, anunciando que a meta é não ter mais nenhuma sujeira sendo despejada na Bacia do Tapajós até 2024. Para isso, ele disse que pretende conseguir recursos do governo do Estado e do Ministério do Meio Ambiente.  Procurado, o Ministério Público Federal informou que ainda não há nenhum acordo oficial com a prefeitura para regularizar os garimpos.

As licenças municipais que agora estão sob investigação da PF já haviam sido contestadas pelo MPF desde julho do ano passado. Os procuradores solicitaram à Justiça Federal que fossem canceladas todas as autorizações concedidas na região. Apesar do pedido de urgência, a seção de Itaituba ainda não analisou o caso.

Com informações de O Globo


Publicado por:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *