Acusado de racismo e discurso de ódio, antropólogo é processado na Justiça Federal de Santarém

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Acusado de racismo e discurso de ódio, antropólogo é processado na Justiça Federal de Santarém
Edward Mantoanelli Luz, acusação feita pelo MPF. Foto: reprodução

O MPF (Ministério Público Federal) protocolou ação na Justiça Federal contra duas pessoas, entre os quais um antropólogo, por prática de discriminação racial e discurso de ódio contra os povos indígenas do Baixo Tapajós, no Pará, em especial, os da Terra Indígena (TI) Cobra Grande.

Os acusados são o antropólogo Edward Mantoanelli Luz e Joaci Sampaio Lima, morador de Santarém (PA). O MPF pede que eles sejam condenados a pagar indenização por danos morais coletivos no valor mínimo de R$ 10 milhões.

Segundo a ação, os dois utilizaram suas redes sociais para disseminar áudios e mensagens que atacam o direito ao reconhecimento e a dignidade dos povos indígenas.

Ilegalidades ambientais

As manifestações ocorreram como reação a uma operação de fiscalização realizada por órgãos federais em setembro de 2024 para combater ilegalidades ambientais e agrárias na TI Cobra Grande e no Projeto Agroextrativista (PAE) Lago Grande, em Santarém.

A operação foi conduzida pelo MPF, pela Polícia Federal (PF), pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e pelo Ibama.

O MPF aponta que os discursos dos réus associaram, de forma equivocada, a fiscalização ambiental à então recente publicação da portaria declaratória que reconheceu a TI Cobra Grande como de ocupação tradicional indígena, em julho de 2024.

Réus reincidentes

De acordo com as transcrições contidas na ação, Edward Luz afirmou, em áudio, que a TI Cobra Grande e outras terras indígenas da região “não passam de manipulações identitárias” e que seus habitantes são, na verdade, “mestiços, caboclos”, e não indígenas.

O MPF destaca que essa não é uma conduta isolada, citando que o antropólogo Edward Luz mantém um blog desde 2005 com o objetivo de deslegitimar povos indígenas da região e que já foi processado anteriormente por racismo.

Joaci Sampaio Lima, por sua vez, é acusado de propagar discursos semelhantes. Em um dos áudios, ele declara que não defende “a transformação de caboclos, ribeirinhos, mestiços em povos indígenas” e atribui o movimento de autoidentificação a “planos” de organizações não governamentais e ambientalistas.

Retardamento de processos de demarcação

Para além da discriminação, conforme aponta o processo, os envolvidos têm um objetivo: ao negar o direito ao reconhecimento étnico dos povos indígenas de Santarém, pretendem impedir ou ao menos retardar os processos de demarcação de seus territórios, para proteger interesses de outra ordem.

Destaca ainda que a demarcação dos territórios é um direito assegurado pela Constituição e que depende de um longo processo burocrático por parte do Estado para se efetivar.

“Negar o reconhecimento étnico e cultural equivale a desconsiderar a própria existência coletiva desses povos enquanto sujeitos de direitos diferenciados. É uma violência moral simbólica, que tem por objetivo perpetuar uma lógica colonial de invisibilização e exclusão dos povos indígenas”, afirmou o procurador Vítor Vieira Alves na ação.

Provas contra os réus

O procurador argumenta que as falas do antropólogo e de Joaci possuem caráter inflamatório e contribuíram diretamente para a criação de um ambiente de hostilidade. A ação apresenta como provas capturas de tela de mensagens de terceiros com ameaças e ofensas.

Outro caso grave apontado pelo MPF foi a afixação de uma placa na entrada da Vila Socorro, comunidade próxima à TI Cobra Grande, com o anúncio de proibição à entrada de indígenas, o que o MPF classifica como um “claro ato de segregação racial”.

Para o MPF, os discursos ultrapassam a crítica legítima e configuram discurso de ódio, pois negam a identidade e a existência de um grupo étnico, violando a Constituição e tratados internacionais assinados pelo Brasil.

Além da indenização de R$ 10 milhões, o MPF solicita que o valor, caso a condenação ocorra, seja depositado em uma conta judicial vinculada ao Conselho Indígena da Terra Cobra Grande (Cointecog).

Com informações do MPF

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2 Responses to Acusado de racismo e discurso de ódio, antropólogo é processado na Justiça Federal de Santarém

  • O sujeito tinha um bisavô italiano conseguia cidadania italiana. Agora, o sujeito com cara de índio, cabelo de índio e ascendência indígena não pode dizer que é índio pois virou caboclo. Brincadeira,né?

  • Hoje, durante uma aula no Campus Tapajós, da Ufopa, um professor chamado Doriedson Almeida, do Instituto de Formação Intercultural e Interdisciplinar (IFII) ofendeu os alunos indígenas com palavras racistas e discriminatórias. Pelo que se sabe, o referido docente é contumaz nessa prática, tanto que a turma já havia pedido providências à direção do IFII, em documento datado do dia 18 de junho de 2025.
    Estão circulando alguns vídeos, nas redes sociais, que mostram a discussão entre o professor e alguns alunos, dentro da sala de aula. A situação vai se escalonando até chegar ao ponto de duas alunas sentirem-se mal. A gravidade do fato chamou atenção de toda a comunidade acadêmica e mobilizou até a reitoria.

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